A MAIS BELA EQUAÇÃO

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Um grande autor inglês ao ser perguntado em uma palestra sobre como escrever um romance, respondeu, com um leve tom de ironia: “É simples, primeiro você põe uma letra maiúscula e no final um ponto. No meio você coloca a ideia”.

Como a resolução de um grande problema subentende uma ideia e um exercício para desenvolver a equação que o soluciona, tenho a impressão de que o mesmo autor se perguntado sobre como chegar ao enunciado de uma brilhante fórmula, talvez respondesse com o mesmo leve tom irônico: “É simples, primeiro você coloca um número, no meio um sinal de igualdade, e antes e depois do sinal de igualdade você coloca uma ideia.”

Por isso, ao me deparar em uma revista científica com o resultado de uma pesquisa com estudiosos sobre as mais belas equações, no total de 11,   me surpreendi  com a relativa simplicidade de pelo menos duas delas, ombreando com  outras famosas e geniais sobre temas complexos para leigos como a da Relatividade Geral , da Relatividade Especial ou a Equação de Euler.

A primeira, a do teorema de Pitágoras, é velha conhecida dos bancos escolares e, embora  de importância abissal para os estudos  matemáticos , é compreendida facilmente por qualquer estudante do curso elementar. A  outra , que eu não conhecia,  é a que se anuncia abaixo:

1 = 0,9999999999999999999999…

No caso da equação citada, ao ser colocada a unidade, no patamar do infinito nos lados opostos de uma equação, evocando o começo e o fim, o todo e o nada, essa expressão sugere uma religiosidade numérica que alcança um tom inalcançável por qualquer  poesia. Esta é a equação favorita do matemático Steven Strogatz que sobre ela diz: “O lado esquerdo representa o início da matemática, o lado direito representa os mistérios  do infinito. Muitas pessoas não acreditam que isso possa ser verdadeiro, mas é.”

A menção ao infinito me fez lembrar o livro Cidade Aritmética (um livro de poemas com temas matemáticos, edição da FUNC de 1996). Neste busquei estabelecer, numa singela tentativa,  a conexão acima expressa e que imagino existir  entre matemática e poesia , letras e números, transcendência  e realidade, que trata,  também, do infinito e de sua ambiguidade,  sutilmente capturada na fórmula acima.

Os versos do poema  dizem: O infinito na matemática/mal consegue disfarçar sua sina de impostor/ Sua mãos, úmidas de estrelas/ ao cravar-se nas fórmulas/ da essência dos signos se apropria/ e reluz a insana farsa/ de caber-se no tempo sendo eterno/ na fração sendo infinito/ pela soberba talvez de sendo tudo/ imaginar que só lhe basta/ vestir-se do avesso pra ser nada.

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NOMEANDO ANIMAIS E VICE-VERSA

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Se você é uma celebridade que já conseguiu fama, dinheiro e sucesso, porém nunca  teve seu nome intitulando uma espécie rara de animal , acredite, alguma coisa está faltando.

Ser homenageado com seu nome doado a uma espécie significa a imortalidade que o sucesso nunca garante, principalmente nestes dias em que num segundo  você tem milhões de seguidores na Internet e, no outro,  caso morra, não encontrará  ninguém para seguir atrás de você no funeral.

Seguem alguns animais que foram ‘presenteados’ com nomes de gente. O que não se garante é que tenham ficado satisfeitos.

1.Neopalpadonaltrumpi, como o nome está dizendo,  é uma espécie de animal batizada com o nome do presidente norte-americano. Trata-se de uma traça, que tem um topete formado por escamas amarelas que lembram o penteado do político. Bem, pelo menos esse foi o motivo aparente, mas há quem especule que tenha mais a ver com a vocação nociva das traças.

2.Beyoncé, a cantora, que já reclamou de mosca no hotel quando esteve no Brasil, acabou cedendo seu nome para alguém da mesma família da perturbadora. A espécie Scaptia Beyonceae tem esse nome em homenagem à cantora  porque os cientistas australianos, que a descobriram, acharam que a parte inferior do seu corpo é mais larga do que a de outras espécies . Além disso, a mosca tem uma cor dourada intensa, como Beyoncé, com a diferença de que o dourado da mosca é mais natural que o da moça.

3.MendesGylmarekis é um tipo raro de sapo boi beiçudo que foi descoberto, por incrível coincidência , nos charcos de Brasília. Gilmar Mendes foi o escolhido para ser homenageado  tanto por possuir o beiço proeminente como pela facilidade nata de expelir ( ou soltar, se preferir )  seja lá o que for, especialmente odores. A semelhança é grande, especialmente no fato de que ao invés de caçar suas presas, Gilmar prefere espera-las sentado.

 

 

 

4.DuplexSertanejex. Oriunda de um tipo de simbiose rara entre animais que permanecem juntos desde o nascimento como irmãos siameses, esta espécie rara de cabras parceiras emite um ruído estridente, insuportável e não identificado. A extraordinária semelhança desse ruído e o fato de serem inseparáveis um do outro como as duplas sertanejas fez com que essa espécie fosse associada aos cantores desse ritmo, por razões óbvias.

6.Bolsobrabonaro. Trata-se de uma espécie aparentemente raivosa descoberta no Mato Grosso que teria nascido do cruzamento ancestral de um lobo selvagem com uma raposa. Os cientistas lhe deram esse nome em homenagem a Bolsonaro porque essa  espécie, à sua semelhança,  rosna e ladra , mas não morde. Chega a fazer muito alvoroço, mas corre de qualquer cachorro vira-lata.

5.HylaStingi é uma espécie de perereca colombiana, cujos cientistas que a descobriram  resolveram homenagear com o nome do  cantor e roqueiro inglês Sting. O cantor foi imortalizado pelos seus esforços em prol da floresta tropical.

Nesse ponto teve mais sorte que o falecido cantor brasileiro Wando,  que ficou famoso por colecionar calcinhas para homenagear as pererecas, mas nunca deu nome a uma. Coisas da vida!

.           Obs. As homenagens internacionais já foram concretizadas. As brasileiras estão a caminho.

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis

 

 

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A COPA E A VOLTA AO VIRA-LATA

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Complexo de Vira-Lata. Em 1958 quando o Brasil conquistou a sua primeira Copa do Mundo de futebol o escritor Nelson Rodrigues anunciou como definitivamente sepultado o que chamou Complexo de Vira-Lata, a seu ver um tipo de psique predominante nas mentes brasileiras, decorrente de auto depreciação. No seu entendimento, a vitória  da Copa do Mundo mostrava pela primeira vez ao mundo o que os brasileiros eram capazes de fazer.

De fato, embora muita gente ainda insista em relevar o futebol  a um degrau secundário  toda a ressonância mundial em torno do mito/evento futebolístico com participação globalizada, hoje, 50 anos após , mostra que o cronista estava certo. As vitórias nos campos de futebol fazendo do Brasil o primeiro Tri trouxeram visibilidade e autoestima favoráveis à Nação: agora tínhamos o primeiro Rei mundial, o incontestável Pelé.

O complexo de vira-lata parecia definitivamente enterrado.

O tempo passou o Brasil virou o decantado País do Futebol . Mesmo sem a exuberância do passado, o Brasil conquistou mais duas Copas.

Até que uma tragédia futebolística aconteceu 4 anos atrás,  a partir da falta de planejamento e do endeusamento midiático de profissionais incapazes (Felipão, um técnico arrogante e tosco),  refletindo o que acontecia na administração pública: o 7 a 1, vergonhoso e acachapante, inibiu  a trajetória crescente de esperança  no rumo de uma nação do primeiro mundo  em paralelo a outras  forças negativas que se juntaram para espezinhar o orgulho popular,  quando muitos líderes  brasileiros foram presos ou suspeitos de transações corruptas.

O que se esperava era que, após isso, a derrota servisse de farol para uma mudança de rumo. Apontei, antes desta Copa, como nocivo o endeusamento prematuro do técnico da seleção Tite.  Cheguei a ser contestado por leitores e amigos  e bem  que gostaria que não tivesse tido razão.

Como todos sabem a seleção fracassou com um desempenho pífio. Mais lamentável, porém,  é que, logo após a derrota iniciou-se o processo de blindagem do técnico da seleção, na base “Uma vez feito santo, tem de continuar santo” num processo de aceitação da derrota que não enxerga os erros técnicos e táticos que foram cometidos, aos quais se adiciona  alguns detalhes inusitados e extravagantes. Basta elencar o  que a Tite foi concedido : desde o salário mais alto entre todos os técnicos  de seleções a até poder se acompanhar de seu grupo de auxiliares do Corinthians, inclusive o filho (25 pessoas). Convocou quem quis e bem quis, transformando a seleção numa espécie de sucursal do Corinthians. Por último, segundo o jornalista Mauro César, da ESPN, teve um privilégio jamais  concedido a outro: o de escolher seu próprio chefe: o Sr. Edu Gaspar, também corintiano, entronizado como diretor de futebol.

Ora, tudo isso poderia ser aceitável tivesse havido uma contrapartida à altura. Ganhar de times fracos às  custas do talento individual de jogadores não configura meritocracia alguma. No único confronto mais difícil levou um baile tático do treinador da Bélgica

O técnico Tite já demonstrou  ser um profissional  capaz e inteligente o suficiente para aprender com os erros e continuar. O deplorável é essa tentativa (sua, inclusive) de lustrar a participação da seleção brasileira como coisa digna, na base do “Se não perdeu de 7 a 1, está bom”,  o que configura uma aceitação de perdedor, de leniência com o fracasso, de tapar o sol com a peneira,  que tem o seu equivalente político no ‘rouba mas faz’.  Enfim, esse arsenal de pensamentos complacentes que um dia fez parte do imaginário coletivo da Nação.

É o velho complexo de vira-lata que está de volta, rondando o país e nossas mentes.

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis

 

 

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SAMPAIO. A história do time que FAZ HISTÓRIA

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1.Corria o ano de 1922 em São Luís. Quer dizer, nem corria tanto assim. As notícias do resto mundo chegavam atrasadas, o dinheiro no bolso era lerdo, rapidez só mesmo em se falar mal da vida alheia. Avião, por exemplo, era novidade maior do que Seleção Brasileira de Futebol ganhar em Copa do Mundo neste século XXI.

 

Pois foi por essa época que Pinto Martins, cearense e Walter Hinton, norte-americano, se uniram numa empreitada. (Normalmente, mistura de cearense com norte-americano ou dá Estátua da Liberdade libertando-se e fazendo ponto na praia de Iracema, ou cabeça-chata fazendo exibição de forró no East Village). Mas, Pinto e Walter, surpreendentemente, estavam era cruzando os céus das Américas, pela primeira vez,  em um hidroavião, com escala prevista em São Luís. Ora, se o primeiro voo do mais pesado que o ar   havia sido feito somente há 16 anos por Santos Dumont, em seu 14 Bis, e, muito longe, em Paris, imagine-se o alvoroço da cidade para participar também da brincadeira e ver de perto que raios de troço era esse tal de avião. Os comentários só podiam ser dessa ordem:

 

 

Pinto Martins

“Já vi muito pinto voar, mas nessa altura, não. Ainda mais cabeça-chata

 

2.O certo é que tudo era mesmo extraordinário e jamais visto. Ainda mais que o avião tinha nome,  e se chamava Sampaio Correia, ou melhor Sampaio Correia II.  A explicação para um nome de gente no aparelho é que o avião foi doado aos pilotos aventureiros pelo presidente do Aero Clube Brasileiro, o senador José Matoso Sampaio Correia, carioca, sendo bastante normal, já  nessa época,  que os pilotos retribuíssem a gentileza botando no avião o nome do doador. Não se diga, porém, baseado no que fazem os políticos  hoje em dia , que o senador Sampaio Correia doou o avião em troca da  propaganda de seu nome. Não havia IBOPE e televisão muito menos. Talvez quisesse mesmo era se  eternizar, coisa que de outra forma jamais conseguiria.

 

3.Foi então que no dia previsto, 7 de dezembro de 1922 uma multidão de quinze mil pessoas (grande parte da população da cidade) se acotovelou para ver o show da chegada do dito cujo, mais ou menos como se acotovelam hoje as pessoas para saudar celebridades da música Como toda celebridade que se preze Sampaio Correia, o avião, também não compareceu no dia do show. Ficou retido em Belém, não por jogada de marketing, mas por razão mais vulgar: falta de combustível, o que só fez aumentar a ansiedade do povo. Quando aqui aterrissou dois dias depois  dá para imaginar a festa: discurso de político, homenagens, passeios em clubes, etc.

 

Quando os pilotos se despediram da Ilha do Amor, só uma semana depois, Pinto estava definitivamente consagrado. Se seu outro pinto (o de baixo) trabalhou enquanto  seu  dono tirava férias, já que mulher pra isso não deve ter faltado, nunca se soube. A herança principal deixada foi justamente o nome do avião.

4.Nome por nome, o time de São Pantaleão  até que , já tinha um : se chamava Remo. Mas, quer coisa melhor do que um nome de gente e,  ao mesmo tempo, de avião? Pois foi essa brilhante ideia que ocorreu ao taberneiro Almir Vasconcelos ao colocar na pequena agremiação o nome do avião: quem simpatizasse com o time lembrava logo do avião e quem sabe, depois dessa  ele começasse a decolar. E foi o que, definitivamente, aconteceu.

A partir daí todos sabem da história. Às vezes esquecem é que o time é um dos mais originais do mundo, não só pelo nome como por muitos outros motivos. Entre eles:

 

1.O único no mundo que tem nome de um avião.

2.O único que no seu uniforme, inicialmente visava as cores do Maranhão e dos Estados Unidos e acabou  dando na Bolívia. Ou seja, o único que tem as cores de três países.

3.O único cujo distintivo foi de autoria de um sapateiro.

4.O único time que já foi campeão da terceira divisão , da segunda e da quarta. (E que em breve vai ser da primeira).

  1. O único que tem o calção cáqui.
  1. O único do Maranhão que AGORA é, de fato, O Papão do Nordeste .

                                                        

                                                      

Sei que algum leitor já está contestando: calção cáqui, cadê o calção cáqui? O calção cáqui, senhores está na história do clube e jamais devia ter sido conspurcado. Que figurinistas, torcedores, diretoria, políticos, embaixadores e presidentes do Brasil ou da Bolívia se unam contra a corrupção de um de seus símbolos, que tornam o time de São Pantaleão o mais original do mundo, enfim, “aquele que se coloca à parte”.

 

 

p.s Algumas dessas Informações foram colhidas no livro Terra, Grama e Paralelepípedos (imprescindível para quem gosta de História e nosso Futebol) de Claunísio Amorim Carvalho.

 

Este texto e outras informações sobre São Luis estarão na segunda edição do livro O ABC  bem humorado de São Luis, prevista para  setembro deste ano.

 

 

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