TITE E SEUS TITÃS
artigo publicado no jornal O estado do Maranhão
Neste país existem duas formas de se chegar a ser Deus. Uma, é a de ter nascido deus, a outra é ter virado técnico da seleção brasileira de futebol. Como nascer deus não é assim tão fácil (se uma religião dá o seu aval, a outra nega) o outro caminho é ser técnico da CBF.
Foi assim com Felipão, está sendo assim com Tite. O primeiro, depois de aprimorar a sua monumental arrogância O segundo, depois de aperfeiçoar a pose e os gestos de guru. Quando fala, parece um rabi anunciando o paraíso para os jogadores e para si. Há de se convir que com a grana que os craques ganham o paraíso já vem quase pronto, o que facilita a tarefa. No caso de Tite, o segundo maior salário entre todos os técnicos de seleção deste planeta explica essa aura de santo radiante, como muita gente o enxerga.
Dessa forma, como sua autoajuda de quinta categoria tem dado certo, os jogadores o adoram e estão prontos para dar o sangue por ele. Seria isso suficiente para trazer a taça?
Talvez, mas…
Uma boa lista de craques bem que ajudaria, mas a coisa ficou apenas no mais ou menos. Vamos a alguns casos, de infortúnio ou de exatidões. Lembrando que a palavra chave das escolhas de Tite , segundo ele, é a meritocracia.
CÁSSIO. Goleiro do Corinthians. Como todo mundo sabe Vanderlei, do Santos F.C. é muito melhor , o que faz restar poucas dúvidas de que foi convidado por ser “colega” de Tite do vestiário do Corinthians.
FAGNER. Lateral do Corinthians. Dez anos atrás era, portanto, dez anos mais novo e jogava dez vezes melhor, mas o curioso é que ninguém lembrava dele para a seleção. Havia uma diferença: Fagner jogava no Vasco, hoje joga no Corinthians.
Ou seja, o critério, tão propalado por Tite, da meritocracia parece aumentar muitos graus quando o jogador é do Corinthians, time de sua paixão. A propósito, basta lembrar que Tite teve a coragem de torcer pelo Corinthians numa decisão contra o Santos F.C. como se fosse um torcedor comum do timão e não um técnico da seleção, já entronizado.
MARCELO. Lateral do Barça. O melhor jogador brasileiro em atividade demorou a ser reconhecido devido a sua postura rebelde que apavora gurus do politicamente correto como Galvão Bueno e Tite. Desta vez a meritocracia não teve como derrubá-lo.
NEYMAR. Atacante do PSG. Embora Tite viva falando em união de grupo, motivação e patriotismo, na hora do “pega pra capar” confia mesmo é em Neymar ( e Coutinho também) para botarem a bola pra dentro e garantirem sua grana. A essas alturas, o comandante já deve estar pensando em beijar os pés de Bruna Marquezine para implorar à moça que pelo amor de Deus não brigue com o temperamental craque e namorado. Já pensou se acontece o que dizem que aconteceu com Ronaldo, o fenômeno, que teria levado chifre em plena Copa?
RENATO AUGUSTO. Joga na China. Outro que jamais seria convocado por algum treinador em desfavor de Luan ou Artur, do Grêmio, bem melhores que ele. Mas acontece que é outro que satisfaz plenamente a condição básica do Manual da Meritocracia de Tite: Augusto jogava no Corinthians.
José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis
e O entrevistador de lendas