FELICIDADE OU MORTE!
Jose Ewerton Neto, autor de O ABC bem humorado de São Luís
Felicidade ou morte é o título de um dos livros da lista brasileira de best-sellers de autoajuda. Portanto, caro leitor, seja feliz ou morra, mas, se preferir, compre depressa o livro e saia por aí dizendo que é feliz. Caso se sinta longe disso, minta que é feliz, grite que é feliz, jure que é feliz. Ou isso ou a morte. Qual dos dois você prefere? Claro que não é a morte, não?
Mas, pera aí. Pense, por alguns segundos, que Suzana Vieira se diz feliz, Galvão Bueno também, e Renan Calheiros, e Nicolás Maduro, e Donald Trump. Hum…E aí? Tem mesmo certeza de que vale a pena ser feliz? Enquanto isso:
Fomos encontrar a Felicidade. Ela própria. Soubemos que está depressiva e fomos saber o que ela pensa a respeito de mais um livro sobre si. Estava pronta para desabafar.
– Não aguento mais.
– O quê, precisamente, Dona Felicidade?
– Tanta gente obsessiva atrás de mim. Tanta procura, tanta adulação, tanta loucura. Tanta gente que diz que me possui. E, pior, sequer sabem o que sou e quem eu sou.
– E quem você é?
– Isso é o que eu gostaria de saber. Todos tentam me explicar: filósofos, médicos, escritores, psicólogos, cientistas… Séculos e séculos dedicados a isso, em vão. Só palavreados pra lá e pra cá. Se felicidade é isso que todo mundo pensa que eu sou, desconfio de que nunca fui feliz e nunca vou ser.
– Se a sra. me permite, estamos diante de mais um problema de identidade. Isso costuma ser grave nas pessoas sensíveis como a senhora.
– Se fosse apenas isso… A questão é que, mesmo sem saber quem sou me procuram como se eu fosse a chave da salvação para tudo e todos. De repente, me julgam capaz de resolver todos os problemas do mundo. Ora, eu não sou Deus! Não posso livrar alguém de suas muitas mortes. Definitivamente, não sirvo pra isso.
– Muitas mortes!? Julgo que estou entendendo a senhora. Não há só uma morte, mas várias, e cada ser humano é senhor das suas, desde que as enfrente. No entanto, transferem todas as suas mortes para a senhora. Tanta carga lhe fez sobrevir o estresse, não foi?
– Estou pra ficar louca com tudo isso!
-Poxa, dona Felicidade! Como chegaram a tanto, como isso foi possível? Vejo-a extenuada, cansada, pressionada por tanta incompreensão. Não sei o que dizer… Talvez… Bem, só me resta sugerir…
– O quê, pelo amor de Deus!
– A sra. deveria procurar um analista, Dona Felicidade. Claro, nem todos se dão bem, mas para muitos funciona. .
– Jamais! Conheço-os muito bem: eles me usam de forma imprópria, como remédio para seus doentes. Dizem: “procurem dona Felicidade, ela resolverá seus problemas”. Ora, como um remédio pode procurar a si como remédio?
– A sra. tem razão, desculpe minha insensatez. É que me causa amargura lhe ver assim, infeliz. Queria muito que a sra. continuasse feliz. Para bem da vida humana, pelo menos. Senão…
– E quem lhe disse que me incomoda ser infeliz? E por que a morte me assustaria? Acredite, com tanta gente falando asneira a meu respeito, dia e noite, até que gostaria de ser infeliz, só para que me deixassem em paz, compreende? Estou prestes a adotar um lema: Infelicidade ou morte!