Jose Ewerton Neto, autor de O ABC bem humorado de São Luis.
Você sabia, caro leitor, que entre 1912 a 1948 foram sete as competições artísticas, dentro das Olimpíadas? E que esse tipo de competição foi inspirada no modelo da Grécia Antiga? E que as modalidades artísticas eram: literatura, música, pintura, arquitetura e escultura? E que as obras eram enviadas para um comitê avaliador e deviam ter temática esportiva? E que…
Paremos por aqui por falta de espaço, mas, sim, senhores, nada impediria que esse tipo de competição fosse renovado, a bem dessa interação que deve sempre existir entre arte e esporte. Afinal de contas “mens sana in corpore sano”. Ainda mais que o motivo de essas modalidades terem sido banidas da competição, deveu-se ao fato de serem, então, os artistas concorrentes profissionais da arte, e prevalecia o critério de que os concorrentes tinham de ser todos amadores para não “ferir” o espírito olímpico. Ora, hoje em dia os atletas que disputam são todos “profissionalíssimos” a julgar pelos rios de dinheiro que faturam, e essa razão não constituiria mais um empecilho.
Mas, quem sou eu, um cronista de província a pleitear uma mudança de tal envergadura numa decisão que afeta o mundo todo, e não só esportivo. No entanto, guardadas as devidas proporções lembro que aqui mesmo, em nossa ilha, os jogos olímpicos artísticos, vamos dizer assim, mantêm, mesmo aos trancos e barrancos (talvez mais trancos que barrancos) a chama olímpica acesa.
Refiro-me ao Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís que todos os anos premia, edita e revela talentos novos e antigos de nosso estado: são os nossos ‘atletas da mente’, forjados na leitura e no apego aos livros, esforçados, lutadores , incansáveis, dedicados e sonhadores que, nessa ocasião, retiram das gavetas e do ostracismo cruel a que são relegados, seus originais para vislumbrarem uma luz no fim do túnel a partir de uma eventual premiação para, a partir daí, espalharem a chama do talento artístico que possuem para divulgar o que ainda resta de Atenas Brasileira por aqui , às gerações atuais e vindouras.
Não parece se mirar, porém, no espírito olímpico individual ou coletivo de alguns abnegados as decisões governamentais. Assim é que, mesmo tornado Lei, o Concurso Literário e artístico da Cidade padece de continuidade e consolidação, tantos anos após ter sido implementado. Ao invés de se fixar como celebração ao talento, definitivamente efetivado, sofre o Concurso, assim como a Feira do Livro, dos humores de nossos administradores e da depreciação do seu conteúdo, sendo tratados costumeiramente como meros adendos de outras realizações espúrias que absorvem mais das finanças públicas. Com isso, quando se premia um vencedor, não se edita, ou quando se edita não se premia.
Vieram as novas administrações e com elas, a perspectiva e a esperança de que o tratamento dado à vocação olímpica de uma cidade, tendo como meta a glória ateniense cultural, artística e esportiva, não seria daqui por diante, obstaculizada. Porém, o ano de 2016 caminha para o seu final, as resoluções são adiadas e paira sobre o Concurso e a Feira o fantasma da dissolução, da dúvida e do desconhecido.
Que os ventos da racionalidade sobrevoem a Ilha, e inspirem as decisões administrativas para que o Concurso não se transforme numa triste olimpíada em que seus vencedores não recebem as medalhas a que fizeram jus.