Jose Ewerton Neto, autor de O abc bem humorado de São Luis
O coeficiente de segurança, tão conhecido dos estudantes e dos engenheiros pela letra K, é um número que entra nas equações para protegê-las dos erros, digamos assim. Uma espécie de “todo cuidado é pouco ”, da ciência.
Ao contrário do que se pensa, porém, o coeficiente de segurança não é privilégio apenas de matemáticos. Ou você pensa que as dietas, os tantos dias a pão e água, e os caminhões de remédios a tomar não fazem parte do coeficiente de segurança do médico? A verdade é que para tudo, mas pra tudo mesmo nesta vida tem de haver por trás um coeficiente de segurança que, no fundo é uma salvaguarda para nossa tão frágil condição humana. Afinal de contas, quem se garante?
Nestes tempos bicudos, de dúvida e incerteza, os coeficientes de segurança proliferam por aí:
1.K de um político. Um bom coeficiente de segurança contra o que o político diz deveria ser, no mínimo, igual ao inverso do que ele fala. Ou seja, se um político lhe promete um emprego , tenha certeza de que você vai mofar no olho da rua, se ele lhe promete paz e tranquilidade, confie em que uma bala perdida estará entrando em sua casa nesse exato momento.
Já o coeficiente de segurança do político contra o que ele mesmo diz – nas delações premiadas, por exemplo-, esse é dificílimo de calcular . Mesmo o melhor computador do mundo em seus cálculos de alta complexidade será incapaz de se dar bem na tarefa. Antes, sugerirá que o político desista da matemática e recorra aos conselhos da vovó “Que Deus me proteja dos meus amigos, que dos meus inimigos cuido eu.”
2.K do amor. O coeficiente de segurança de um “Eu te amo”, com exclamação ou sem exclamação é sempre complicado e deve ser ampliado nesses dias que antecedem ao dia dos namorados. “Amar é se atirar de cima de uma ponte no escuro”, já disse uma famosa atriz, portanto o perigo é iminente e toda desconfiança pouca. Se for para um marmanjo na hora do orgasmo o coeficiente de segurança do que ele diz deve ser próximo de zero. Já, para a mulher, seu “eu te amo” depende do saldo do cartão de crédito que lhe foi prometido.
3.K do Embelezamento. Aqui o coeficiente de segurança tem de ser no mínimo, o máximo. Uma boa regra seria dividir por mil o que foi prometido, na razão inversa do potencial de transformação. Em outras palavras: quanto mais feio(a) você for, maior deverá ser o K a ser aplicado. Ou seja, se você for uma Joelma e alguém lhe prometer que você vai virar uma Paola Oliveira, melhor usar ao invés de um coeficiente de segurança um capacete de segurança. Pelo menos, depois do tratamento você estará protegida para não apanhar do seu Ximbinha.
4.K da oração. Até para rezar carece coeficiente de segurança, sabia? O que é um terço, com 50 e tantas ave-marias mais que um coeficiente de segurança contra a falta de fé? A verdade é que para certos pecadores, um terço só não resolve.
De uns tempos para cá, nos funerais, inventaram-se as palmas, como se o morto, de repente virando ator de teatro, depois de dar seu primeiro espetáculo pós- vida estivesse querendo palmas, e não lágrimas. Não deixa de ser o velho K , de novo em ação, como se quisessem garantir ao morto (esquecidos os seus mal feitos) uma passagem direta para o céu. Tempos estranhos, fé mais ainda, cálculos novos!