São Luís – LI, AGORA mesmo, com interesse e emoção, o pequeno grande livro – A Foto e o Fato, do poeta e historiador Pedro Neto.
Fiel ao título, cada lado esquerdo da página do livro estampa uma foto e na página à direita o autor comenta, em quadra, o fato que deu origem à foto.
A síntese contida nos versos não prejudica a grandiosidade dos fatos retratados, não necessitando de mais delongas para o perfeito conhecimento das ocorrências, tornando-as tão compreensivas como se fossem longas reportagens fotográficas. E, mesmo em razão da serem sumárias, causam maiores impactos emotivos.
Parte das fotos e dos versos retratam acontecimentos que horrorizam os espíritos mais sensíveis, mas que precisam ser divulgados para que possamos combatê-los sempre, na esperança de nos livrarmos, definitivamente, de certas barbáries que infernizam a espécie humana.
As tragédias mostradas e descritas não fazem do poeta Pedro Neto um arauto das misérias do mundo, mas o fazem intérprete da revolta que consome e grita no seio daqueles que querem um mundo melhor.
É chocante vermos, por exemplo, a foto da iraniana Somayeh Mehri recebendo o beijo da filha de três anos, ambas com rostos desfigurados pelo ácido derramado pelo marido e pai, enquanto esposa e filha dormiam; da morte, em parte causada pela fome, de um milhão de pessoas, inclusive crianças, na guerra civil da Nigéria; do homem roubando milho de uma criança famélica durante a distribuição de alimentos pela Cruz Vermelha; a criança com problemas mentais amarrada numa corda num campo de refugiados; da menina Saba Faisal tentando sorrir, a pedido do fotógrafo, que não consegue ocultar as lágrimas, vítima das batalhas entre o estado islâmico e as forças iraquianas; do jornalista Vladimir Herzog, sufocado com amoníaco e submetido a espancamento e choques até morrer, só por suspeita de ter ligações com o Partido Comunista…e outras tantas desgraças oriundas da imbecilidade que ainda reina neste planeta azul – mostradas, com perspicácia, pelo olhar analítico do autor de A Foto e o Fato.
Felizmente, encontram-se no livro fotos e fatos que sensibilizam pela ternura, a exemplo da foto do esquilo beijando a flor; do menino George Stinney que, depois de condenado e morto na cadeira elétrica, foi declarado inocente; do garotinho faminto de Serra Leoa que ganha dois pirulitos e oferece um ao fotógrafo; a do carinho de um pai servindo comida ao filho adulto com paralisia cerebral e recebendo deste um lindo sorriso de gratidão; do menino Diego chorando ao som do seu violino no enterro do líder do Afroreggae Evandro João da Silva, seu benfeitor; a plácida imagem de um menino, na rua, tocando flauta para um atencioso gatinho – fotografias e textos em versos que mostram, em contraste com as outras, a doçura e a grandeza dos sentimentos que dominam seres humanos diferenciados, sentimentos e atitudes grandiloquentes, peculiares aos espíritos que elevam o padrão ético da civilização.
A brevíssima exposição dos fatos, desenvolvidos com inteligente concisão, aliada à sutileza com que são tratados temas de significado humanístico, mostra-nos um poeta comprometido com a causa social, epicentro das grandes preocupações que permeiam a consciência coletiva das nações.
Na dedicatória que me fez do seu livro, Pedro Neto, por excesso de delicadeza e generosidade, me chamou de “grande escritor” e eu respondo, de imediato: grande é você, rapaz, com sua poesia trágica, terna, translúcida e inquietante.
JOSÉ FERNANDES é membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM) e autor, entre outros, do livro “Ao sabor da memória”.