São Luís – O MICRO-ÔNIBUS que nos levaria em excursão pelas praias de Fortaleza, às oito da manhã nos apanhou no hotel. Éramos 14 turistas de várias procedências, naqueles anos de 1990. Do Maranhão, só duas pessoas – eu e minha esposa.
Antes de adentrarmos na zona litorânea, o motorista, certamente obedecendo a um prévio roteiro, levou-nos a conhecer alguns locais urbanos e suburbanos, considerados pitorescos, e uma hora depois já estávamos na praia mais movimentada da capital cearense, a praia do Futuro, onde nos demoramos até as 11 horas.
Depois de seguir vários roteiros, mais tarde aportamos numa praia silenciosa, sem movimentação turística, a praia de Cumbuco, contornada por casas suntuosas e desabitadas na ocasião, como ocorre em outras tantas praias famosas, em que gente endinheirada constrói bonitas vivendas e só as ocupam para esporádico veraneio.
Nessa praia não havia, naquele momento, nenhum banhista à vista; apenas um pequeno bar aberto, e nós o ocupamos para um cafezinho, alguma bebida ou pequeno repasto.
Não demorou, apresentaram-se pessoas oferecendo passeios de bugre, mediante pagamento, pelas areias em derredor – ofertas de pronto afeitas por três jovens excursionistas. Em seguida, vieram-nos outro convite, desta vez para um passeio de jangada.
Quando parecia que ninguém se dispunha a aceitar essa última proposta, dois, este que vos escreve e um turista austríaco, ambos beirando a terceira idade, talvez apenas para quebrar a monotonia daquele passeio, resolvemos participar daquele périplo marítimo.
Acomodados na jangada, apreciávamos a paisagem das águas sem fim, quando, numa distância em que não enxergávamos a praia, um dos velejadores disse-nos que poderíamos, ali, nos jogarmos ao mar, para um banho agradável, e nós, passageiros neófitos, empolgados com o incentivo, imediatamente nos atiramos nas águas oceânicas, para logo sentir que a forte correnteza, numa rapidez incrível, nos afastava da jangada.
Sem condições físicas de vencer o açoite das águas, exaustos, já quase sem fôlego, alguém da balsa jogou ao mar uma boia amarrada numa corda e nós, nos últimos segundos, ajudados por Deus, conseguimos alcançá-la e fomos puxados para bordo, esbaforidos, quase desmaiados.
Horas depois, na terra firme, recuperados da exaustão, o jangadeiro que nos conduzira pediu-nos desculpas dizendo que, ao sugerir, por brincadeira, que poderíamos nos jogar no oceano, não pensara que levaríamos a sério a perigosa sugestão, que por pouco não nos afogara.
O meu companheiro daquele desditoso banho de mar, que depois soube tratar-se de um conceituado bibliotecário austríaco especializado em literatura brasileira, fluente usuário do nosso idioma, e como eu um grande admirador do escritor maranhense Humberto de Campos, revelou-me que jamais esqueceria, que levaria para sua pátria a triste recordação daquela quase fatídica aventura que, por pouco, não nos levara ao reino de Iemanjá.
JOSÉ FENANDES é membro do IHGM e da Academia Ludovicense de Letras, e autor, entre outros, do livro “Canto Telúrico”.