São Luís – Um conjunto estruturado e atualizado de informações sobre as heranças culturais afro-brasileiras está disponível na plataforma Ancestralidades https://www.ancestralidades.org.br, lançada em novembro pelo Itaú Cultural e pela Fundação Tide Setubal. A proposta é difundir, gerar intercâmbios e potencializar diversos conteúdos sobre a temática que dá nome ao projeto a partir de três eixos temáticos – Arte e Cultura, Democracia e Direitos Humanos, e Ciência e Tecnologia.
Por meio de navegação amigável, a plataforma disponibiliza conteúdos diversos que apresentam biografias e trajetórias de personalidades negras e suas histórias, marcos históricos desde o início do século XVI e conceitos sobre o tema, como raça, gênero, quilombo, afrofuturismo, entre outros. Um dos destaques é a seção Narrativas Emergentes, resultado de um trabalho contínuo de pesquisa para identificar tendências e questões com origem nas diversas plataformas midiáticas, como portais de notícia, blogs de opinião, perfis em redes sociais, bancos de dados e periódicos acadêmicos.
Gestores educacionais, professores e alunos podem utilizar a plataforma como fonte de pesquisa qualificada e atualizada sobre a temática. O formato dos materiais oferecidos permite adaptações para diferentes faixas etárias e de ensino. Vale lembrar que a Lei 10.639, promulgada em 2003 e complementada pela Lei 11.645 de 2008, altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e culturas afro-brasileira e indígena nas instituições de ensino fundamental e médio, das redes pública e privada. Nesse contexto, a plataforma pode ser um eficaz aliado de educadores e alunos.
Além do conselho formado pela escritora Ana Maria Gonçalves, pela filósofa Sueli Carneiro e pelo músico Tiganá Santana, Ancestralidades conta com uma equipe multidisciplinar de pesquisadores do Afro (Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial) e do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que assina parte da produção dos verbetes. Trata-se de um núcleo de pesquisa, formação e difusão da temática racial que colabora para qualificar o debate público e fortalecer a agenda de direitos humanos e da democracia, sobretudo em relação à justiça e à igualdade racial e de gênero. A produção do conteúdo conta, ainda, com verbetes de arte e cultura da Enciclopédia Itaú Cultural.
A plataforma adota um conceito visual de circularidade, remetendo às marcas das expressões religiosas e culturais negras e afro-brasileiras no qual a roda, o giro e o círculo são partes importantes tanto estética quanto simbólica. Assim, a plataforma foi pensada de modo que se pode ir do século XXI para trás, mas ao mesmo tempo aponta demandas e desafios do futuro. Propõe, portanto, o olhar do presente que resgata o passado e lança para os dias que ainda virão. Ao longo do ano, o espaço contará com novas narrativas emergentes sobre os três eixos, além de política, ambiente, sociedade, tecnologia, economia e legislação, com temas que mais sobressaírem nas redes e mídias e que emanam novas narrativas do presente para a questão negra.
“O futuro do povo negro começa no passado. E, por meio da plataforma Ancestralidades, conseguimos narrar uma história negra comum que pode religar jovens negros urbanos com jovens negros quilombolas, por exemplo. É impossível pensarmos em democracia no Brasil sem relacioná-la com o racismo (desigualdades raciais) e com a evidência de que com isso estamos todos em risco, pois o Brasil perde sua humanidade quando permite que tais desigualdades se perpetuem. Nesse ponto reside a importância da Plataforma Ancestralidades. Nós negros construímos o futuro por meio do recolhimento do passado”, destaca Marcio Black, coordenador do programa de democracia e cidadania ativa da Fundação Tide Setubal e integrante do grupo executivo do Ancestralidades.
Black complementa que, alinhado a esse contexto, a educação tem um papel fundamental na formação de crianças e jovens. “É importante, para eles conhecerem e reconhecerem essa história e construírem um novo olhar para enfrentar o racismo e as desigualdades em uma educação antirracista”.
“O Ancestralidades tem como grande objetivo oferecer conteúdo diversificado, sistematizando os múltiplos conhecimentos científicos e metodológicos e os saberes populares que representam esta diversidade sobre a história e a cultura de negras e negros no país. Isso é fundamental nesse contexto”, diz Jader Rosa, gerente do Observatório Itaú Cultural. “Todos os materiais da plataforma possuem uma transversalidade entre si, relacionando personalidades, instituições e eventos históricos. Todos foram produzidos por pesquisadores e referências no assunto, oferecendo ao público informações confiáveis que possam contribuir com os diversos debates levantados no Brasil sobre relações raciais”, completa.