Nova Ocupação do Itaú Cultural é dedicada a Naná Vasconcelos

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Exposição no Itaú Cultural é dedicada ao músico pernambucano Naná Vasconcelos

SÃO LUÍS – O berimbau original de Naná Vasconcelos está fincado no coração da ocupação dedicada a ele no Itaú Cultural, em São Paulo, com abertura para o público a partir de 17 de julho, às 20h. O instrumento foi construído pelo percussionista, em 1967, com uma corda de piano afinada em Fa em substituição à tradicional. Foi o único berimbau que teve e o acompanhou até a sua morte, em 2016. Desde então, o objeto permaneceu fechado em um depósito da família, em Recife, e agora é exposto pela primeira vez.

Este é o espírito da Ocupação Naná Vasconcelos, que traz a essência e unicidade da vida e obra desse multiartista brasileiro, nascido em Pernambuco, em 1944. Localizada no térreo do Itaú Cultural. À vista logo que se entra, a mostra traz ampla seleção de fotos, vídeos, vestimentas, instrumentos e objetos originais, como uma das premiações recebidas por ele: o Grammy Latino, conquistado em 2011 pelo álbum Sinfonia e Batuques. O ambiente é totalmente musical, as cores têm tons terrosos. A mostra permanece em cartaz até 27 de outubro.

A concepção e realização da Ocupação é do Itaú Cultural, com curadoria da gerência de Curadorias e Programação Artística, consultoria de Patrícia Vasconcelos, mulher de Naná, e pesquisa do jornalista Mateus Araújo. A expografia é da Casa Criatura.

O projeto desdobra-se em uma publicação impressa – a HQ Quase dois irmãos, criada exclusivamente para esta mostra por Araújo e Diox –, que conta a história de Naná e seu melhor amigo, o berimbau. Fazem parte, ainda, recursos acessíveis; shows de Silvanny Sivuca, na quinta-feira, dia 18, Badi Assad, no dia seguinte, Anelis Asumpção no sábado – sempre às 20h – e Lan Lanh, às 19h do domingo, além de um site com conteúdo exclusivo (itaucultural.org.br/ocupação).

A mostra

Os álbuns Sinfonia e Batuques, Isso Vai Dar Repercussão, Codona, Contando estórias e Africadeus dão o tom para as diferentes etapas da vida do artista, que o público vai desvendando no passo a passo. O sexto eixo leva o nome do próprio homenageado e se encontra com o primeiro, completando a espiral de sua vida.

Ao entrar em Sinfonia e Batuques, o visitante é recebido com um grande vídeo da abertura do Carnaval de 2024. Este espaço tem foco no espírito carnavalesco recifense que sempre ferveu no sangue de Naná Vasconcelos. Ele acolhe manequins vestindo roupas usadas nessa grande festividade por ele, que sempre escolhia as cores de acordo com o orixá do ano, além de objetos e entrevistas gravadas com outros carnavalescos, como André Brasileiro e Favio Soter, da Associação dos Maracatus Nação de Pernambuco (Amanpe). Tudo isso é acompanhado pelo som deste que foi o seu último álbum, gravado em 2011, cinco anos antes de sua morte.

Começa, assim, o passeio pela vida do artista, iniciado, ainda criança, no mundo da percussão, observando os ensaios do pai, com quem chegou a se apresentar no bloco Batutas de São José. Ele aprendeu sozinho a tocar os mais diferentes instrumentos de percussão, especializou-se no berimbau e seguiu pelo mundo. Foi de Naná, a façanha de reunir 13 blocos recifenses, que sempre competiram entre si, somando mais de 500 batuqueiros sob sua regência.

Parcerias

No passo seguinte, dois eixos-álbuns se tocam: Isso Vai Dar Repercussão Codona em um passeio pelas suas parcerias nacionais e internacionais – foram mais de 400 desde 1966. O primeiro, ele gravou com Itamar Assumpção. Por isso mesmo, aqui se ouve Anelis Assumpção declamar um poema que ela compôs para Naná, especialmente para a mostra. Fotos do percussionista com parceiros de toda a vida, vídeo com depoimentos desses seus pares, tablets com playlist de músicas gravadas com ele, além de objetos pessoais e uma linha do tempo para acompanhar essa trajetória musical, que lhe rendeu diversos Grammys, complementam o espaço.

Codona, ele gravou com  Collin Walcott e Don Cherry. Neste eixo, o público tem acesso à capa original do álbum, que esteve todos esses anos guardado no acervo pessoal da família, e ouve as músicas por meio de um tablet. Aqui se faz um mergulho nas parcerias internacionais. Uma árvore estilizada incrustada na parede, acende quando o público se aproxima e ilumina nomes de brasileiros que contribuíram para a história do jazz ao longo do tempo.

Seguindo o trajeto, Contando Estórias abre passo para a relação musical de Naná com as crianças. O álbum que dá nome a esse eixo foi gravado por ele em 1994 e emoldura a sua ligação a projetos sociais que envolvem a meninada. Um deles, ABC Musical, realizado com o maestro Gil Jardim, nos anos de 1990, envolveu crianças de todo o Brasil. Desembocou em Língua Mãe,  no qual se somaram os pequenos de Angola, Brasil e Portugal. Este espaço também apresenta os seus objetos musicais como verdadeiras obras de arte.

Africadeus batiza o coração da mostra. Este álbum de estreia, gravado por Naná em 1971, apresenta o momento em que o artista se iniciou no berimbau como instrumento musical que pode ser utilizado além da capoeira. Ele é exibido como objeto nobre, envolto por cordas que sustentam uma chuva de pedras utilizadas para tocar o instrumento.

Neste eixo, o público entra na intimidade de Naná ao assistir a vídeo-depoimentos de sua filha Luz e de sua companheira Patrícia, que moram em Nova York, e ao ver séries de  fotografias do álbum de família que o mostram desde pequenino e o seguem pela vida afora.

Esse espaço mais intimista do artista dá passo para o eixo que leva seu próprio nome e se encontra com o primeiro, completando a espiral da vida do artista. Aqui se encontra um dos dois únicos tapetes originais, que ele usou a vida inteira em suas apresentações – neles, Naná colocava os instrumentos que utilizaria durante o espetáculo. Tem, ainda, uma projeção de trechos de entrevista que ele deu para o programa Ensaio, da TV Cultura,  e alguns pequenos instrumentos de percussão.

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