São Luís – Os meninos jornaleiros gritavam as manchetes dos matutinos do dia. NÃO SOU um escriba assim tão antigo. Porém, na década de 1950 já participava das coisas da cidade.
Não era muito dedicado aos livros, mas gostava de ler jornais, que eram impressos tipograficamente, compostos de letra em letra, como ainda nos tempos de Gutenberg. Lia-os desde quando, no meu primeiro emprego, levava os artigos de meu patrão Nonato Gonçalves para o jornal O Combate, que ostentava o bordão “contra a opressão e a injustiça social”, e lá conheci os jornalistas Zuzu Nahuz, Amaral Raposo, Vilela de Abreu e Erasmo Dias, os monstros sagrados da época, heroicos integrantes das “oposições coligadas”. Numa mesa colocavam todos os jornais e ali mesmo os lia, disfarçadamente.
Naqueles dias, minha leitura predileta era a coluna “Um dia sim, outro também”, de Lago Burnet, publicada no Jornal do Povo – contendo uma interessante crônica e ao lado dela pequenas notas apimentadas de humorismo sutil e inteligente. Nele, quem quisesse se atualizar sobre os assuntos da política, massacrando o Governo, devia ler os artigos de Neiva Moreira, o dono do diário, e de Reginaldo Teles, seu álter ego e principal redator. Na bancada, em meio aos editores, revisores, repórteres e fotógrafos atuavam os promissores jovens Clóvis Sena,
Manoel Lopes, Ubiratam Teixeira, Benito, Maria Cândida e Zé Chagas, que já pontificava nas letras da taba timbira, todos de saudosa memória. Em O Imparcial ou Pacotilha eu passava por cima dos longos artigos do professor Sabóia para ler as reportagens de Nonato Masson, que de tão bem escritas pareciam páginas literárias, e de Rangel Cavalcanti, o bom cearense de quem me tornei amigo e nunca mais tive notícias.
Do Jornal Pequeno, lembro que no seu início em lhe mandava notícias – e Ribamar Bogéa as publicava – das turbulências dos congressos estudantis dos quais eu participava às vezes com a única intenção de conhecer terras distantes.
Adolescente, comecei a rabiscar em O Jornal do Dia, de propriedade de Alexandre Costa, que era vice-governador e presidente da Assembleia (nesse tempo os poderes executivo e legislativo se misturavam), órgão sucedido por O Estado do Maranhão, para o qual colaboro esporadicamente, e nele eu lia boas crônicas, com prazer, até tempos bem recentes, notadamente aquelas que figuravam na coluna “Hoje é dia de…”.
Não sou nostálgico. Todavia, aproveito este ligeiro flash para registrar, com pesar, que neste dia, 23 de outubro de 2021, está circulando a última edição impressa desse jornal criado e mantido por Bandeira Tribuzzi e José Sarney, dupla da qual remanesce apenas este último mantendo a saga do matutino bem editado, que não mais circulará em papel.