Assimilemo-las quando forem úteis. Caso contrário, é melhor ignorá-las.
LEMOS E ouvimos frases que nos fazem bem e outras que nos fazem mal. Que nos levam ao alto e que nos derrubam. Nos dão alentos e nos causam tristezas. Nos trazem afetos e nos levam à revolta. Frases cínicas, como as do escritor Nelson Rodrigues, e frases divinas, como as do Sermão da Montanha.
Frases ambíguas e frases compreensíveis. Sinceras e mentirosas. Dependendo de quem as diz, em que circunstâncias e com quais propósitos. Algumas, úteis e bem assimiladas, alicerçam os destinos de um povo à grandeza espiritual elevando o seu padrão civilizatório.
Outras, inspiradas, enraízam-se na consciência coletiva elevando os seus autores à condição de artífices do amor, de incentivadoras da fraternidade, do pacifismo como as frases de
Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Madre Teresa, Chico Xavier etc. Frases monossilábicas, porém incisivas, conclamando um país a buscar o seu brio, quando como quando Barak
Obama dizia às multidões: “Nós podemos”.
Sabemos, ainda, de frases que levam à apatia, ao pessimismo, à tristeza e até as que conduzem o incauto ouvinte às raias do aniquilamento moral e ao suicídio, ditas ou não com tais propósitos, mas sempre nocivas pelo grau de carência moral de quem as pronuncia.
Frases rebuscadas, até angélicas, empregadas por gente sem a devida formação nem convicção cristã, são comumente empregadas para obter vantagens ilícitas no mundo dos negócios, ou para servir de meios catalisadores aproveitados por gente esperta e mal intencionada.
Candidatos desde à vereança interiorana aos cargos mais altos da nação aprendem com especialistas frases agradáveis aos ouvidos do populacho ou esboçam promessas e conseguem ludibriar coletividades inteiras.
Não faz muito tempo, um certo candidato à presidência de um grande nação, que, dizem, não praticava nenhuma religião e totalmente despreparado para a ação pública, aprendeu com
alguém a frase bíblica “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Usou-a repetidamente durante sua campanha, espalhou- a pelas redes sociais, causou boa impressão agradando gregos e troianos e, pelo que se sabe, convenceu a plebe ignara
e, por incrível que pareça, com essa frase se elegeu, causando um incomensurável desastre ao país que talvez você conheça. Vejam só o poder de uma frase plantada em mentes imaturas.
Mas nem sempre uma frase política causa bom efeito. Todos se lembram de um outro candidato a também dirigente da nação, este porém culto e competente, mas um desastrado em frases infelizes. Em vias de ser eleito, perguntado por um repórter qual seria, no seu futuro governo, o papel da sua mulher, uma atriz muito querida pelo público, o eufórico pretendente à faixa presidencial respondeu, no seu estilo boquirroto, que ela lhe seria muito útil na cama. A partir daí, não houve “agua na fervura” que amainasse o feito dessa frase maldita, que aniquilou o seu prestígio perante a maioria do eleitorado, principalmente o feminino, que o derrotou fragorosamente, derrota que o vem perseguindo através do tempo.
Dizem os versados em opinião público que o autor dessa frase fatídica era realmente o candidato mais cotado naquele momento e que, para melhor se consagrar, bastaria dizer ao
repórter que sua mulher era uma pessoa de visão, seria sua inspiradora e muito poderia colaborar no campo das artes, que ela bem conhecia. Mas não disse – preferiu ser arrogante e até ofensivo às mulheres da nação.
Nós sabemos, mas quase sempre esquecemos: as frases, realmente, tanto podem elevar as nossas almas às culminâncias do bem-querer como podem conduzir-nos a males imprevisíveis,
e nessa imprevisão incluem-se às enfermidades do corpo e do espírito.
Frases boas e frases ruins – quem não as disse pelo menos uma vez?
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José Fernandes é membro da Academia Ludovicense de Letras e autor, entre outros, do livro “Gente e Coisas da Minha Terra”.