Crônica de José Fernandes: “O romance real de Raíssa”

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PRETENDENDO deixar uma mensagem de superação para quem tiver curiosidade de conhecer a sua história e compreender a sua essência, Raissa Mendonça expõe, em terceira pessoa do verbo, a saga real de seus passos iniciados na pequena cidade de Pedro do Rosário, sua terra natal, e continuados na capital maranhense, com trânsito por Fortaleza, São Paulo e Barcelona – epicentros deste romance escrito por Evandro Junior, O outro lado da maçã, seu primeiro livro.

Se do romance fôssemos escrever uma resenha sumária, diríamos que desde os 14 anos Raissa esteve sob o estigma do preconceito, por ser transexual, tratada com escárnio e desrespeito – labéus que ela tenta superar com a sua versatilidade, carisma e enérgica vontade de conquistar o seu espaço.

De permeio com suas vicissitudes, obtém algum sucesso profissional. Ambiciona progredir mais e se entrega a uma aventura fora do país e sofre horrores. De regresso à “cidade dos azulejos”, luta para soerguer-se, e de certo modo o consegue. Para cumprir um antigo ideal de servir aos conterrâneos de sua cidadezinha, candidata-se à vereança local, mas é traída, perde a eleição e tudo o que possuía.

Dois amigos sinceros surgem no seu horizonte: um juiz que, à distância torna-se seu conselheiro, e um líder umbandista e legislador municipal, em São Luís, de quem se torna governanta com total dedicação e que lhe facilitara frequentar e concluir um curso universitário de psicologia. Quando a tranquilidade parecia lhe acalentar o espírito, é denunciada e presa por crime de estupro mediante fraude, recolhida à penitenciária, e por aí segue… 

Tudo isso – e muito, muito mais – está minuciosamente contado pelo autor de O outro lado da maçã, jornalista Evandro Junior, agora romancista, que nos traz páginas bem delineadas, em estilo conciso e vernáculo escorreito.

A obra contém lances com conotação de denúncias, como o tráfico internacional de mulheres jovens, iludidas e transformadas em escravas sexuais; em contraposição, há passagens de puro enlevo, a exemplo dos atos de louvor a Iemanjá, numa das belas praias de São Luís, atos presididos pelo umbandista, seu amigo e protetor.  

O romance de Evandro retrata, com fidelidade, meandros pouco explorados da vida maranhense. Uma estreia feliz.

José Fernandes é membro da Academia Ludovicence de Letras, autor, entre outros, do livro “Crônicas de outono”

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