Um dia, a gente esquece… |#DQ127

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Sabe o que me dá raiva? É que, um dia, essa dor toda passa. Um dia, essa ferida cura. E você, talvez, vire até uma saudade boa de guardar. Um dia, eu vou perdoá-lo e vou torcer pra que você consiga cumprir aquelas promessas, que eu tanto me agarrei, com outra pessoa.
Um dia, toda essa minha compulsividade em entender porque a gente não deu certo, que quase me deixa em coma, vai dar lugar à paz de um coração sossegado, desses que batem sem pretensão alguma de ser novamente de alguém.

No fundo, você sabe, eu sou melancolia. Eu mesma queria poder manter cada corte, cada briga, cada jura de amor, que não fora cumprida, exposta em redes sociais e outdoors espalhados pela cidade. Seria uma forma de torturar você, torturar quem gostar de você e alertar quem quiser ficar com você que uma hora você vai embora e vai deixar um vazio tão grande, que a gente pensa ser impossível de esconder. Ainda mais eu, que moro num apartamento minúsculo e, volta e meia, esbarro em alguma lembrança nossa. Droga!

Mas o tempo, assim como esses amores, passa — de forma vagarosa — mas passa. Esse tais amores parecem ser maiores que nós mesmos e nos arrancam pedaços, deixando-nos órfãos ímpares de um erro crasso: o de não querer ser novamente feliz.
Ah, mas se a gente pudesse saber que nada não nos foi arrancado ! E que a gente continua inteiro e, quiçá, mais completos!
Porque quando um pedaço do outro nos é arrancado, sempre sobra um espaço a mais pra nós.

#DQ127 #Espalheamorporaí <3

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Tudo ou nada: o amor não aceita migalhas |#DQ126

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Todos nós queremos muita coisa ao mesmo tempo. Desde pequenos, somos abarcados pela imensidão do mundo e possibilidades. O mundo nos é apresentado como um grande jogo de apostas. E, assim, todos os dias, ganhamos algumas fichas para apostar nas probabilidades da vida. Entre erros e acertos, o saldo nem sempre é positivo. E aceitar essa realidade é o que chamam de maturidade. Com ela, tendemos a ficar mais prudentes, realizamos menos apostas arriscadas e tentamos expurgar do jogo o tão temido —e não menos instigante —risco. E, assim, vamos nos permitindo trocas e apostas mais seguras. Um concurso? Uma profissão “da moda”? Ou um amor morno.Desses que levamos em banho-maria e dizem durar uma vida.

Enfim, entre trocas prudentes (ou covardes), começamos a diminuir as fichas, ou as expectativas e, por medo de falir, nós nos contentamos em tão somente não perder, ainda que sejam míseros trocados. O importante é não perder. Mas o pior dos prejuízos nem sempre é o que perdemos. Algumas vezes, doloridas vezes, eu diria, ganhar pouco é pior que não ganhar nada.

Mas e quando o pouco é pior que nada? Quando é preferível ter o saldo zerado, ou mesmo estar insolvente do que a ter uns trocados ganhos? Talvez, no mundo dos negócios, isso seja uma heresia, mas no dos relacionamentos deveria ser uma regra de ouro. A verdade é que ter ou ser de alguém somente pela metade é mais difícil que não ter. Porque quando você sentir essa coisa louca de que, mesmo quando se tem muito, ainda sim parecer pouco, você vai descobrir que, no jogo do amor, o pouco não é melhor que nada.

Talvez isso seja um devaneio de um coração amante dos sentimentos, que não lhe cabem e que é amante das grandes apostas — ou seria das paixões? — ou mesmo de um coração amante da adrenalina, que salta, feito suor, em mãos gélidas, que se entrelaçam no primeiro encontro. Ou das pupilas dilatadas e daquela disritmia acelerada, que somente as paixões conseguem nos dar. Mas, sobretudo, pode ser apenas mais um devaneio de um coração que é amante dos riscos que, cá entre nós, são tão necessários quanto precisos. Pra gente sentir muito. Pra gente seguir vivo.

 

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A desordem que me faz bem |#DQ 125

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A gaveta aberta. A toalha molhada. A tampa do tubo de pasta dental no ralo da pia. A barba, assim como a vida, está mal aparada e cheia de falhas. Tudo muito fora do lugar. Pareço uma bagunça, mas eu me convenço de que isso sim é liberdade. Eu vou morrer dizendo que isso é liberdade e dar aquela desculpa que levo uma vida de solteirão. Vou dizer que estou confortável e que posso fazer o que eu quiser, sem ninguém regulando a vida do jeito que levo. Eu sei, você está esperando um “mas”. Está esperando a parte em que eu admito sua falta e que a peço explicitamente pra voltar, pra reorganizar a minha vida e trazer um pouco de paz pro caos do meu coração.

Mas o texto não tem mas, não tem pedido de socorro e não tem nenhuma pretensão de reconciliação. A vida é boa bagunçada. Você sabe que eu sempre fui a desordem mais harmônica que você já conheceu. O caos nunca me assustou. Foi você mesma que me definiu assim. Eu não preciso que a vida faça sentido, ou que as coisas tenham um lugar definido. Talvez eu goste da desordem e da aleatoriedade do dia a dia. Você sabe como eu detesto rotina, horários e abomino as expectativas. O gosto das surpresas é sempre melhor que a confirmação das expectativas. A vida não vai no piloto automático, muito menos ruma sem direção. Ela só vaga entre as esquinas estreitas de minhas vontades passageiras —e não parece se importar em percorrer esse caminho.

O tempo vai passar e pode ser que eu sinta, em dado momento, falta de uma vida menos aleatória. Dizem que isso é amadurecer. Mas que amadurecimento é esse que nos suga a vida e nos põe sempre à margem das coisas triviais? Que amadurecer é esse que nos pede sempre uma prudência velada e, em cada passo, um milhão de motivos, como se a vida não nos permitisse rasuras, borrões e até mesmo páginas rasgadas? Talvez amadurecer seja descobrir em qual desordem devemos seguir.

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Eu vou deixar você… mas só amanhã – DQ 124

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De frente para o espelho, eu olho mais que meu reflexo. Vejo as feridas na alma, uma marca indelével. Uma lágrima cai, deixando essa cena um clichê comovente. Essa sou eu, numa versão menos alegre e bem mais carente. Você chega. Põe a mão sob meu ombro. E me vira como quem quer ver meu rosto. Poderia ver meu reflexo, mas até você já percebe que não venho refletindo uma imagem boa. É nítido tanto para o espelho, quanto pra você (ou pra qualquer um), que já não sou mais a mesma e que preciso deixar você. Mas decidir entre o que se quer e o que precisa é mais difícil do que se imagina.

Viro-me com certa resistência, tentando evitar qualquer confronto de olhar que me force começar a nossa última conversa. Você me beija os lábios, como quem aperta as mãos de colegas no trabalho. É um carinho fraterno, mas não no sentido positivo que isso possa ser interpretado. Você se afasta, e eu retorno para o espelho. Novamente de frente, percebo o que está em minha volta. O porta-retrato com uma foto com filtro em preto e branco traz a nostalgia de algum momento em que já fomos felizes. Não é que eu não me lembre de nossos melhores momentos, mas é que eu mal me reconheço naquele sorriso, naquela foto — ou seria naquela vida?

Está tudo em ordem no quarto. Móveis no lugar. Lençóis milimetricamente dobrados. Toalhas em seus devidos lugares. Mas o vazio de uma casa sem bagunça é desolador. Falta vida entre essas paredes. Falta o caos natural e necessário sobre o qual as relações amorosas costumam se deitar. Falta a briga por banalidades. E falta, num súbito momento, a racionalidade fazer, de qualquer cômodo, palco pra alguma façanha amorosa. Falta tanta coisa de ontem, da época em que éramos menos corretos e mais felizes. É a falta das coisas de ontem que me impede de continuar hoje, mesmo sabendo que sofrerei ainda mais amanhã.

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É o jeito que você me olha – #DQ 123

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Não são seus inúmeros predicativos, ou muito menos as coisas que você me diz, que fazem todo nosso sentimento entrar em erupção e explodir dentro de nós, exalando uma paixão que queima feito lava. Não é a forma como você age sempre providencial, ou quando há esperança sente o baque dos dias maus. Não é a disposição em estar sempre disponível, mesmo que isso requeira adiar algumas reuniões e desmarcar compromissos. Não é presente caro, que eu aceito constrangida, sabendo que aquilo custou boa parte de suas economias. Não é a mão que entrelaça meus dedos, desde atravessar pro outro lado da rua até enfrentar o maior dos meus medos. Não são as coisas que a gente faz, ou as coisas que você diz. É tão somente como você me olha. Como você me enxerga no seu mundo.

Sei que milhões de pessoas já falaram que o silêncio de um olhar é a mais alta das declarações de amor. Mas não precisava ele dizer isso pra eu saber, ou melhor, sentir. Quando você me olha, meu coração grita, minha pele ouriça e ouço, em meio à multidão do que estou sentindo, um sussurro divino de que, dessa vez, deva ser amor. Deve ser amor, ou alguma droga parecida, dessas que entorpecem o juízo e dilatam as pupilas. Dessas que nos fazem dependentes da química mais fatal que o mundo já viu: a de estar apaixonado.  

Porque amor e paixão, quando se fundem num olhar, é o pior dos vícios. É o olhar que fere e cura, no mesmo instante de tempo. E que faz cativo e deixa livre, no mesmo momento. É o contraste constante e alucinante, que provoca paz e desassossego, intercalados entre o beijo da chegada e o abraço da partida. É o jeito que você me olha, e como você me quer, como se quisesse mais a mim que a própria vida.

 

#DQ123 #Espalheamorporaí

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A crônica do fim do Mundo |#DQ 122

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O mundo resolveu acabar em uma quinta-feira, dia do nosso happy hour. É a deixa que o universo fez pra eu tentar chegar na Patrícia. Eu não bebo, mas vou precisar beber pra fazer isso. Ela é filha de um militar reformado alcoólatra alemão e uma carioca. Ou seja, ele bebia na mamadeira, ouvindo Zeca Pagodinho, como canção de ninar. Mas Patrícia é linda, então vale o porre.

– Oi, Patrícia , quanto tempo!

– Fabrício, a gente trabalha junto.

– É, mas lá é um ambiente formal. Aqui as coisas são diferentes.

– Você acha? – disse ela, com certo desdém.

(1×0 pra Patrícia.
Mas o jogo começou agora…)

– Mas é que no ambiente de trabalho, a gente não tem tanto tempo- eu rebato.

– Fabrício, eu te dou carona três vezes por semana , pra você ficar no Pilates.

– Academia.

– Pilates. Todo mundo sabe que você faz Pilates.

– Droga, você contou?

– Você faz pilates mesmo, Fabrício?

– Não, é que… Esquece. Vamos começar de novo.

– Começar o quê?

– O papo. Você não está interessada? Calma. Não precisa responder.

(Merda, 2×0 pra Patrícia. Vou pedir uma bebida. Não bebo, mas isso deve me fazer descolado e relaxado)

– Garçom, um Smoothie, por favor!

(Patrícia me olha, como se eu estivesse pedindo órgãos no mercado negro)

– Quer dizer (com voz mais grossa) Um Smoothie, agora! (Sem “por favor”)

(Patrícia levanta os olhos, como se estivesse me desaprovando. Ela não deve ser o tipo de mulher que acha legal ser mal educado -ainda bem!)

– Um Smoothie? Sério?- ela questiona.

O garçom ri. Eles se olham, talvez se conheçam. Ou talvez ela seja amante dele, e a esposa dele esteja por perto.

– Duplo… Com Vodka… Põe Whysky também. Ah, um pouco daquele vidro marrom- falo, destemido

– Rum-responde o garçom

(Que merda é rum?)

– Tá tudo bem? Você tem certeza de que vai pedir toda essa mistura? Não sabia que era tão resistente – diz Patrícia, sorrindo.

(O sorriso dela é lindo. Acho que o jogo vai começar a virar)

– Pronto. Smoothie de vodka com Whisky e Rum, sabor morango -disse o garçom.

– Morango? – Patrícia ri, com uma mistura de desaprovação e surpresa-Pensei que você bebia coisa de verdade.

(Porra, esse garçom é foda. Perdeu os 10% dele, por causa desse sabor morango. 3×0 pra Patrícia)

– Pois é… Morango. Logo eu, que adoro melão- ela afirma.

– Melão? Hã?

(Merda, 4×0. Eu me sinto num Brasil e Alemanha. Quer dizer…)

– Melão é uma bebida lá do meu interior, feita com cachaça na época nos escravos – ela revela

– Mas você não nasceu em Salvador?

– Pois é, no interior de Salvador… Os escravos do meu pai bebiam isso.

– Seu pai era dono de escravos?

– Não, ele era só o capitão do mato. Digo, ele era gerente da fazenda.

– Sim, sei…- respondo desconfiado

– Mas, Patrícia, me fala mais sobre você. Sempre é tão séria, sempre usa roupas bem formais…

– Fabrício, a gente trabalha no escritório de advocacia.

– Mas não quer dizer que precisa que ser séria o tempo todo.

– Jura? Vou defender os clientes agora contando piadas?

(Rio forçadamente, o que me faz parecer mais retardado que o normal)

– Você é fandega, Patrícia.

– Pândega, Fabrício.

– Não, obrigado. Vou ficar só no Smoothie.

– Não, você falou errado.

– Smoothie. Eu sempre esqueço de soprar a língua, pra fazer o “F” certinho.

– O quê?

– Esquece. Patrícia, eu vou direto ao ponto.

– Diga!

– Quer sair comigo?

– Sim, lógico. Aqui está muito chato, né? Eu te dou carona. Vamos.

– Não, sair juntos.

– É, eu sei. Mas essa era a deixa pra não ter que te dar um fora. Não é justo pegar um fora no último dia da humanidade, não acha?

 

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Desculpas, mas eu me cansei de você. |#DQ 121

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Uns amores acabam por desgaste, outros, por descuido, e outros simplesmente acabam pelo cansaço. Perdem o fôlego na correria da vida, ou na monotonia dos dias – vai saber. Cansar de alguém não é pecado. Pecado é permanecer cansado e fazer da relação uma prova inglória e inútil de resistência.

É bem verdade que o amor é, muitas vezes, respirar pelo outro. É mergulhar um pouco mais fundo do que as orientações de segurança recomendam e nadar rumo ao infinito, que sempre sedutor, atrai-nos como imã rumo ao desconhecido. Mas e quando o esforço pesa sobe os ombros e parece em vão qualquer sacrifício? E quando a vontade de buscar a superfície é maior que rumar em outra direção? E quando os pulmões pedem liberdade e um pouco mais de ar? Quando o sentimento nos deixa à deriva, sem porto, ancorados num ponto qualquer? Quando o “tanto faz” parece ser a melhor opção? Quando os beijos têm o mesmo gosto amargo das frutas que passaram do ponto e, por uma displicência natural,  esqueceram-se de cair?

O peso do cansaço pesa menos que o peso da culpa por estar cansado. Parece um crime hediondo, inafiançável, desses que choca pela barbárie e nos constrange com escárnio. Terminar uma relação não é fácil, e sem um motivo latente, vira um martírio. Como chegar a quem gosta de você e dizer que cansou? Dizer que todo aquele sentimento passou sem deixar sequer um aviso prévio? Como explicar que a alegria da chegada se transformou em tédio? Como entender que a paixão, dantes vultosa, esfriou? E que a saudade, dantes imediata, é agora tipo aquela parenta distante que sequer lhe visita?

Ah, quem me dera não ter me cansado de você. De nós. Da vida. 

 

#DQ121 #espalheamorporaí

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A farsa dos que desistiram de amar|#DQ 120

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Era uma vez é o começo de quase todo conto de fadas. O era uma vez é o primeiro passo de uma grande história, que, no fundo, salvo as tragédias shakespearianas, vai nos levar ao tão aguardado “felizes para sempre”. O fato é que muitos personagens na vida já começaram tantas vezes novos capítulos, que assumiram para si a farsa do: “Eu desisti do amor”.

As sucessivas e constantes frustrações minguaram a esperança de viver um grande amor. O problema é que, mesmo que esbravejem que desistiram de amar, ou que assumam pra si uma vida em que preterem amar, por trás desse conformismo pedante, há sempre fagulhas de um coração querendo estar apaixonado, sempre disposto e prestes a mergulhar numa próxima desventura amorosa. É que se, por fora, há milhares de motivos justapostos sendo expostos, por dentro, há milhões de desculpas e pretextos para recomeçar e acreditar novamente no amor.

Desacreditar no amor não é um privilégio dos fortes. Na verdade, sequer é um privilégio. Desacreditar no amor é desacreditar na vida. É deixar de ser surpresa e por ela ser surpreendida. É morrer muito antes da hora. É perder o sorriso da vida. Ainda que isso seja por uma piada mal contada, ou por uma rima mal cabida. Desacreditar no amor é a dúvida que, fatalmente, paira sobre as mentes mais inquietas e angustiadas. Ainda que a expressão dos que dizem desacreditar no amor seja sempre impávida, desistir do amor como forma de cura, ou por causa de algumas feridas, é até uma opção, mas nunca, -em hipótese alguma -uma saída.

 

#DQ120 #espalheamorporaí <3

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No amor, não há empate. |#DQ 119

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Uma vez, ouvi que, se o amor fosse uma partida de futebol, o melhor resultado seria o empate. A ideia de que relações equilibradas são as que os dois se amam, numa equivalência harmônica, é ultrajante. A meritocracia é definitivamente a última coisa que se vê, e que se espera, nos relacionamentos amorosos.

Quem nunca amou, nunca se sacrificou ou nunca se doou a um amor, e nada recebeu em troca? Ou quem nunca foi amado gratuita e instantaneamente e, mesmo querendo, não conseguiu retribuir? A meritocracia é lenda na seara dos sentimentos. Amamos e somos amados por uma soma de equações distintas, em que o resultado é sempre dispare.

Há aqueles que amam com a capacidade de perdão. Há aqueles em que essa capacidade é condicionada à fidelidade. Traição é crime hediondo, inafiançável, capaz de ruir qualquer possibilidade de perdão. Há aqueles que amam com uma necessidade de pertencimento e outros, possessão. Há aqueles que amam amar o amor alheio. Esses são sempre levados pela intensidade do outro. Há, nessa infinidade indefinida de amores, desde os mais cômicos aos mais altruístas, dos mais devassos aos mais pessimistas, sempre um vencedor. Há sempre aquele que amará um pouco mais, ou no mínimo, de forma diferente. Mas nunca, em hipótese alguma, haverá empate ou amores iguais.

Na eletricidade, a tensão está intimamente ligada à corrente elétrica, porém,  pra que ela exista, é preciso que existam diferenças de potenciais. Se houvesse empate, não haveria diferença, muito menos tensão. Pessoas que se amam de formas iguais, terão fatalmente o mesmo limite e se anularão, com o passar do tempo. A diferença dos amores aumentará o seu potencial de sucesso e aumentará sua energia (Lê-se: intensidade). Em tempo: cargas diferentes não significam que são opostas. Afinal, nem todos os opostos se atraem.

 

#DQ119 #Espalheamorporaí <3

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Quando falta tempo, não sobra amor |#DQ 118

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TRILHA: 

 

Na frase “Quem ama tem pressa”, o sujeito certamente sou eu, desesperadamente apaixonado, nunca oculto, sempre presente e fazendo planos, meio inconsequentes, de um futuro mais que perfeito. A ideia de que falta tempo pra ver quem se gosta é sempre um motivo tão bom, quanto àquela velha desculpa que a gente dava, quando não fazia a atividade nos tempos de escola. A falta de tempo é, geralmente, reflexo da falta de interesse. Já a falta de interesse, por sua vez, é SEMPRE refletida na falta de tempo. Há sim aqueles dias em que a presença, apesar de muito quista, não seja possível. E, acredite se quiser, há dias em que a presença pode ser simplesmente dispensável.

É bem verdade que a ditadura do relógio em que vivo me obriga a estar cada vez menos disponível. Estou sempre atrasado para compromissos, reuniões, eventos e essas coisas do mundo adulto. Estou ali, cumprindo metas, horários e vendendo barato a única coisa que não posso comprar: o tempo. Nunca sobra tempo. E, quando sobra, falta disposição. Só para quando adoeço. Aí, sim, tudo que era prioridade passa a ser dispensável. Afinal, doença pede urgência, e com saúde não se brinca. Nessas horas, eu, que sou escravo do relógio, sequer percebo que o que cria tempo não é a prioridade, é a urgência. Prioridade tem a ver com ordem, urgência é necessidade.

Talvez alguém conheça, mas eu não consigo imaginar outro sentimento mais urgente que o de estar apaixonado. Paixão é a pressa mais desesperadora que somos capazes de sentir. A paixão é aquele sentimento que deforma a linha do tempo e que cria os tão escassos e —não menos esperados— momentos. Paixão é esse sentimento que urge dentro de nós, com uma paciência intempestiva. Paixão se dá em horários inapropriados, entre intervalos de almoço ou fugas em pleno expediente do trabalho. Paixão é adiar o que é prioridade e fazer da falta de tempo… mas, espera, que falta de tempo?

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