Nem sempre dá pra prevenir – DQ 157

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“Nem sempre dá pra prevenir, mas sempre dá pra curar”. Tá, eu sei que o ditado não é bem assim. Mas, cá entre nós, deveria ser sim, desse jeito. É que prevenção não é, em alguns casos, sequer opção. Há uma galera que vai me condenar, apontando os manuais de segurança e dizendo que todo acidente pode ser evitado. Mas será mesmo? Será se não é altivez nossa achar que dá pra prever em que esquina vamos derrapar e colidir com a maior cilada de nossa vida, que, por crueldade do destino e vergonha no futuro, daremos a ela um apelido carinhoso (lê-se: vergonhoso)? Será que dá pra não perguntar o nome daquele (a) que a gente vai querer apagar o número do celular, mas vai lembrar-se até do perfume? Acho que não.

E como não há prevenção, remediar, então, seria pior que misturar Merthiolate com limão e arrancar o cascão. Porque remediar é remendo e, mesmo que não deixe nenhuma cicatriz, a gente sabe que nunca, em hipótese alguma, um machucado é esquecido completamente. A gente não pisa com tanta força, não corre com tanta pressa, não atravessa mais sem olhar. Daí em diante, a vida passa a ser vivida o mais próximo dos 100% que for possível. Você evita uma declaração de amor, por achar que é cedo demais. Evita ou rejeita um convite pra sair, que não tenha o intervalo inútil de dois dias úteis, e tantas outras regras fúteis que, travestidas de maturidade, só atrasam a nossa vida de seguir no fluxo normal.

Há, no entanto, na cura, algo diferente do remediar. É um quê catártico que purga a culpa e exorciza qualquer resquício de fantasma ou dor antiga. Cura é redenção. Liberta o perdão e traz uma nova vida. Vida novinha. Zerada. E que permite encontrar um novo amor, ou mesmo — infelizmente— uma nova cilada. Mas é o risco que se corre toda vez que se aposta. Afinal, se acertar é um grande amor. Se errar, foi só mais uma aposta.

 

#DQ157 #espalheamorporaí <3

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Ela era a pressa que eu precisava | DQ 156

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Eu sempre deixei tudo pra depois, não por preguiça, mas porque a ideia de que toda decisão muda completamente o futuro sempre me deixou um tanto atordoado. E foi nessa mania de planejar minunciosamente cada detalhe, que eu conheci alguém que só foi perguntar meu nome na quarta pergunta. Alguém que saltou do tradicional —e por que não clichê? — questionário prévio (nome, idade e profissão), e foi logo perguntando se eu gostava de sushi. Tempos mais tarde, descobri que, se eu dissesse que sim, isso mudaria completamente as coisas.

Conheci alguém que planejou uma viagem inteira, no intervalo de uma sobremesa, num dos vários almoços de última hora. Era pra um lugar de praia, sem saber, ao menos, se eu curtia praia. E, então, decidimos (Lê-se: decidiu) ir pra fazenda da minha avó que, em dois dias, já a chamava de neta, cobrava bisnetos, e nós ainda não estávamos nem na fase de se chamar de apelidos vergonhosos. Ela vivia tudo no limite da prudência, nessa linha invisível, que separa os loucos dos excêntricos, e que a gente não sabe muito bem de que lado está. Mas a bagunça que ela fazia, estranhamente, organizava a minha regrada e disciplinada rotina. Diferente de outras tantas, ou nem tantas, mas outras.

Eu, estranhamente, não me sentia invadido. Não do jeito que deveria ficar, ao ver que o espelho sujo de pasta, que antes seria caos, agora me faz cócegas. Vai ver foram as nossas inicias, no canto do box, que me fizeram graça. Logo ela, dona das originalidades, apelando pra clichês amorosos. Ela faz da minha casa uma novidade todo dia. Já encontrei até livro no armário da pia. Não gosta de cozinhar nada, mas faz um café que desperta até a alma. Inclusive essa friorenta que eu costumava usar. Aos poucos, se é que existe pouco com ela, a vida se equilibra de um jeito diferente. Menos organizada. Menos previsível. Faz menos sentido. Mas hoje, sem dúvidas, sou bem mais feliz.

 

#DQ156 #espalheamorporaí

 

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A minha insistência não o faz melhor | DQ 155

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Há aquele dito popular que  diz: “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. E que lástima isso ser dito logo pra nós, os indesistíveis!

Molhamos as pedras em nosso caminho, na vã esperança de abrir-se uma fenda e, por ali, passarmos com todo nosso, sempre abissal, sentimento. Maldita insistência que nos faz querer paixões  homéricas, com aquele drama que só Shakespeare saberia escrever! Assim, seguimos no limbo, buscando sempre o caminho mais difícil. Pedras, relevo e depressão parecem ser mais confortáveis do que correr por um lugar plano e sem qualquer obstáculo.

 

Parece que, para nós, insistir é uma etapa da conquista. E, claro, não pegaríamos um atalho qualquer, sem passar pela fase da conquista.  E logo da conquista: fase mais deliciosa de um relacionamento. É ali, nessa fase, que beijos são dados primeiro na mente, depois nos lábios. E que qualquer sinal de toque é erupção. Seguimos insistindo e, o que é pior, toda negativa é interpretada como um passo à frente. Nós e o velho encanto pelo proibido, que nesse caso, nem é proibido – somente impossível. Mas quem de nós saberia distinguir? Afinal, quanto mais próximo de algo estiver, menos se consegue ver.

 

A verdade é que minha insistência não o faz melhor. O fato de querer tanto não o traz mais pra perto. É o princípio da inércia, tão respeitado na Física e tão enganoso nas leis da vida. Se algo está em repouso, porque quer estar, não há nada, ou qualquer insistência, capaz de fazê-lo andar. É desperdício de força, de tempo, de vida, achar que eu posso andar por você. Ainda que pudesse, à contragosto, você viria e, na contramão de ser feliz,  eu seguiria. Por quê ? Pra quê? Às vezes, na vida,  ganha-se mais ao hastear bandeira branca, em sinal de desistência, do que insistir em vitórias inglórias e duvidosas. recompensas.

#Espalheamorporaí <3 #DQ155

 

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EU RIO, ATÉ TE ENCONTRAR. | DQ 154

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Eu sei, talvez não hoje. Talvez não amanhã. Mas eu sei que vou te encontrar. Vou seguindo por aquele caminho, tal como o leito banha a margem e limita a corrente que move as águas, fazendo um rio novo a cada segundo. Tal como o acaso que faz o mar encontrar o rio, num ponto tão certo quanto próximo. Acaso esse, premeditado pela força de um desejo pelo que é maior que eu. É o poder de atração que os corpos maiores exercem sobre os menores. Os cientistas chamaram isso de gravidade. Deve ser mesmo…Grave, esse som imponente. Essa força que grita, dentro de nós dois, um encontro que urge das entranhas do destino. E ecoa, nos porões mais escuros, a certeza de um encontro futuro.

 

É que daqui, nessa parte nascente, eu ainda não te vejo sendo parte dos meandros que desafiam o meu prosseguir. Mas é certo que corro rumo a ti. Adiante, a margem cerca a confluência dos atalhos que eu poderia tomar. E são tantos, mas tantos, que eu juro que tentei resistir. Fui desaguando de foz em foz até ser fossa. Doeu. Sofri. Escorri lento, quase morto num leito magro que andava e não mais corria. Daí, tal como a promessa que o divino fizera, lá no início dessa jornada, eu fui força. Força que lavava, agora, os campos áridos que me esperavam ansiosamente. Nessa hora, fui deleite. Fui como chuva que traz vida nova à relva do campo. Tornei-me impetuosamente voraz, devorando tudo que estava ao meu alcance. Nem mais a margem me limitava. Achei que havia evoluído, mas tudo que é demais, sobra. Sobrei. E vazando pelas laterais, pus tudo a perder. Estava eu sendo desgraça. Logo eu, que sempre fui sinônimo de benção!

 

Até que, depois de tempos secos e molhados, de escassez a exagerado, eu, finalmente, atendi ao meu chamado. Avistei-te de longe e sabia que era hora de descanso. Era o último afogar. O último mergulho de um rio perene. Fui depressa ao teu encontro, mergulhando com toda minha pequenez. Sim, pequenez… Encontrar-te me fez pequeno, calmo, tranquilo e sereno. Lembrei-me da época em que era bica, saltando das entranhas da terra, nascendo pra ti, morrendo pra vida. Fui, assim como o tempo, passagem: passei. Tanto que lutei pra te encontrar, mas meu destino é correr. Corro feliz, pois, de todos encontros efêmeros que tive na vida, o teu encontro foi, sem dúvidas, a mais bela parte das minhas eternas partidas.

#DQ154 #espalheamorporaí <3

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O LUTO MELANCÓLICO DAS RELAÇÕES FRIAS | DQ 153

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Pela fresta da janela, a gente percebe o casal se vestir, escondendo-se da noite gélida e silenciosa. É alguma hora da madrugada, em que se acorda com aquela fome que tira qualquer sono. O casal se move, tentando prolongar a posição de conforto, que tanto deu trabalho pra se encontrar. A fome aperta e não há como remediar: é hora de despertar. O homem é o primeiro a levantar. Sentado, ele busca um contato, talvez tentando, em vão, companhia. A mulher, virada, evita qualquer contato. Deve ser um sono muito bom esse.

A mulher, agora sozinha, debruça o choro espremido, que esconde amiúde todas as noites. Há tempos, observo essa cena se repetir. Eles se deitam o mais longe que seja possível. Recolhem-se todas as noites, no leito do luto das relações moribundas. E quem dera que essa fome fosse dessas, que se sentem no intervalo de uma refeição ou outra. A fome é mero adereço figurativo. Ela firula, como diria, um escritor mais objetivo. Fome é qualquer traço que atavie a despedida. É pretexto pretenso que se faz, quando a realidade é cruel demais pra se encarar.

Ela seca as lágrimas com as costas da mão. Ele volta depois que a noite se foi. Ela evita perguntar como foi o dia. E o silêncio fúnebre das relações mórbidas aturde a casa. O tic-tac do relógio mais parece um monitor cardíaco que, a cada segundo, fica mais perto do fim. Às vezes, penso ser isso tudo fantasia de um velho solitário, que resolveu assuntar a vida alheia pela janela desse apartamento. Mas quem dera que fosse invenção ou devaneio! A verdade bate em mim e percebo que não há fresta, tampouco janela. Há um espelho sujo, refletindo com nitidez um passado que não passa. Um pesadelo que não cessa. De um tempo que me depressa. Pelo seu tom sempre agudo e ritmo mordaz.

#DQ153 #Espalheamorporaí <3

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Querida, beije-me devagar | DQ 152

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Sabe esse ar quente, que sopra o rosto e aquece a alma, nesses segundos que antecedem o primeiro beijo dos últimos lábios que você conhecerá na vida? Sabe aquela trilha que parece milimetricamente pensada e, quando toca, você se dá conta de que, de alguma forma, alguém já viveu esse sentimento que parece ser tão seu? Sabe quando o beijo ainda é labirinto de curiosidades deliciosas, e a descoberta é uma companheira constante? Sabe quando a felicidade faz morada num sorriso, que a dona insistia em esconder atrás de mãos pequenas e tímidas, que o protegem, feito guardas reais? Sabe o hábito e a rotina que escondem a delícia que era acordar com esse alguém do lado?

É que o tempo passa e sequestra emoções, antes tão singelas, transformando o que era motivo de contemplação em hábito. Daí, a gente perde a sensibilidade de agradecer os detalhes e põe tudo num pacote só, chamado rotina. É inevitável que, na vida, nosso escapismo ocupe o lugar do elogio diário, do beijo roubado, da mão boba, da ligação inusitada e das viagens mal planejadas. O tempo solidifica as coisas e estabelece seu próprio ritmo. Chamam isso de maturidade, mas, às vezes, dá saudade daquela aleatoriedade bonita a que a gente costumava se organizar.

Então, querida, hoje -pelo menos hoje- beije-me devagar. Ponha o som em volume alto. Esqueça o síndico e as convenções que tanto nos prendem. Esqueça o conforto da cama e a parcimônia dietética dos jantares comedidos. Deite aqui, no chão, e peça algo proibido. Suja minha boca e limpe devagar. Esqueça os horários e finja que os relógios giram ao nosso favor. Querida, esqueça o mundo e as mil e uma atividades que existem nele. Hoje somos só eu e você, tipo aquela primeira vez na praia. Tire os sapatos. Ande descalça. Sinta os pés tocarem o chão frio e me beije com seu hálito quente novamente. Aqueça a minha alma e queime meu juízo. Hoje nós somos aquele passado imaturo, porque, às vezes, isso também é preciso.

#DQ151 #espalheamorporaí <3

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Eu vou sair antes que você acorde | DQ 151

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Deitado no lado mais frio da cama, eu vejo que seus olhos relutam em fechar. E essa respiração, dantes frenética e descompassada, é, agora, paz imagética, que me faz trocar o rubor pela calma. E nesse peito que sobe e desce, em ritmo lento, bate um coração que bombeia vida diretamente pra minha alma. É ali, entre seu repouso suave, que eu nino seu sono, fazendo meu peito de travesseiro e seus cabelos de lençóis, e a gente se deita, em busca de carinho. No entanto, é o seu perfume, que me abraça o pescoço, sufoca meu juízo e me agita a espinha, que me faz ter a ousadia de tentar acordá-la. Mas, interromper a paz, que se vestiu de sono e se estabeleceu nessa cama, em tom de silêncio, parece proibido. E é essa hesitação que aquece o lado frio e me faz queimar rumo a você.

Então, somos nós novamente, entre os secretos desejos da alma, desnudando as cobertas que repousavam sobre o quarto, antes emudecido. As paredes falam, e, da cama, ouço ranger um grito peculiar. O Sol queima as cortinas e teima em querer participar, mas não há espaço pra outra luz. Pra outra estrela. Pra mais ninguém —que não seja você.

Vamos nós, madrugada afora, aflorando as horas que escorrem depressa, feito suor, que, pelo corpo, baila um merengue e escorre, feito cachoeira, uma paixão, que, talvez, não dure até à próxima noite. É aí, bem no meio da incerteza do amanhã, que fujo outra vez. Fujo, porque se permanecer e vê-la partir, parto também junto em milhões de pedaços. Fujo, porque se for pra sofrer, abandono é pior que por arrependimento. Fujo antes que desperte, pra ter num dia —quem sabe?— um bom motivo pra voltar.

#DQ151 #espalheamorporaí <3

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Eu, você e a mentira que me faz bem | DQ 150

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Eu espero que não ligue, e muito menos ache estranho, narrar algumas de nossas aventuras e mostrar para o mundo que não é clichê, ou muito menos démodé, viver uma história de amor, com final feliz. Eu sei, eu sei. Você vive dizendo que esse amor “hollyudiano” é inventado, pra criar em nós falsas expectativas. E que o amor de verdade é bem diferente dos que saltam dos filmes. Mas e quando você sente que não importam as voltas que o mundo pode dar? Quando não importa o tempo que passar? E se, por algum deslize ou suspense do diretor, nós nos perdêssemos pelo meio do filme? No fim (melhor parte), com certeza vamos nos encontrar. Ninguém vai levantar da poltrona até saber que a gente voltou.

Vão dizer que é exagero, esse querer sem limite e que cresce ainda mais com a presença diária. Vão dizer que é mentira, essa vontade desmedida e avassaladora, que faz da gente ser quase imã um do outro. Vão dizer que é bobagem, os apelidos vergonhosos, as declarações públicas e a vontade de externar sempre o que não cabe no peito. Vão dizer que o que sinto passará em breve, que é chama fugaz dos amores noviços, desses que fazem a gente morrer, de repente, no lapso de tempo que separam as despedidas e os reencontros.

Talvez você nem seja mesmo real.  Talvez seja como esses filmes que tanto condena. Afinal que outro ser brincaria de dar vida à fantasia de um amor de cinema? Que outro amor, de mim, não fugiria, quando, por vezes, eu mesma quisesse me deixar? Que certeza se manteria tão intacta, quando eu me tornasse caos e lhe provocasse a persistência que só os roteiros mais melancólicos podem contar? Que mais eu poderia querer da vida, senão a benção disso tudo ser vivido e ainda ser real? Vão dizer que você nem existe. Mas quer saber? Se for mentira, é dessas boas, dessas que não fazem nenhum mal. Já acreditei em tanta verdade doída, que hoje mesmo, prefiro as mentiras, desde que, bonitas.

#DQ150 #Espalheamorporaí <3

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Até talvez, serve | DQ 149

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É humilhante, porém sincero, aceitar que talvez baste ter só a possibilidade de te ter num futuro, pra eu ser feliz. Ainda que esse futuro seja bonito, não há uma mera previsão de que isso possa acontecer. É cruel me sentir egoísta, porque, lá no fundo, não me sinto bem em te ver feliz com outro alguém. Não me entendas mal. Eu quero te ver bem. Mas quero te ver comigo assim também, tão bem.

Eu queria ser mais exigente e não aceitar minha condição mendiga, em te ter por frações. Mas essas frações de momentos envolvem cada pedaço que existe em mim. Queria poder me proibir de te ver e convencer meu coração de que não há futuro em encontros relâmpagos e frenesis cardíacos temporários. Queria amar a disponibilidade de quem está ali, pedindo passagem. E não te esperar fazer uma conexão qualquer e, rapidamente, deixar-me na pista, com as bagagens cheias de saudade, rumo à monotonia da vida, sem tua alegria. Queria querer menos a tua presença e não me alimentar de teus rompantes de reciprocidade, mas eu, fatalmente, morreria de inanição. Queria te deletar da minha cabeça e pensar naquilo que me traz paz. Mas pensar em ti, transpassa a psique e vai além de querer. Pensar em ti é mister, que eu mesmo desconheço algo mais forte.

Talvez a morte me separe de ti. Talvez a vida, pra mim, seja pra ser assim: incompleta e entrecortada. E, vez ou outra, ter, na tua presença, a cola necessária pra juntar todos esses pedaços. Talvez seja nessa hora, que ela passe a ter sentido e, depois de tu partires, ela seja novamente só um aparte.

 

Talvez sirva ser o talvez uma mera possibilidade,

que nunca encaixe, mesmo que impere em mim a necessidade de ser mais que essa metade,

que, por ti, espera, em toda partida,

a sina de vida: de ser sempre excluída.

 

#DQ149 #espalheamoporaí <3

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Não lembrar, é normal? | DQ 148

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Tô aqui, sentado no canto esquerdo da cama, lembrando que ano passado, você ainda brigava por esse lado, por causa parede. Lembrei-me da gente correndo pelo espremido quarto-que é ainda amarelo com lilás- porque não tive tempo (lê-se: grana) pra pintar de outra cor. Olhei o livro, que você deixou por ler pela metade, e me deu uma vontade de ir atrás de você pra devolver. Tá, não foi lá um namoro, que você jura que encontrou o amor da sua vida. Foi uma diversão gostosa pra ambos e que a gente, no fundo, sabia que, mais cedo ou mais tarde, a gente esfriaria. Não tivemos aqueles términos gloriosos, com direito à trilha de fossa e corações odiosos, reclamando o erro do outro, no tribunal de amigos em comum, e se escondendo atrás da pilha de coisa que ficou um do outro, após a separação. Não fomos aquele casal que desenhou a casa dos sonhos, e já até tinha “batizado” os nomes dos filhos que teríamos no ano de 2022, depois daquela viagem que faríamos pro Chile, regada a vinhos e àquele queijo engraçado, que você odeia que eu diga -que tem cheiro de pum- mas você sabe que tem.

Não fomos aquele final doloroso, que faz a lembrança do outro ser um pecado capital. A gente foi bem normal. Normal até demais. Era um beijo normal, um gostar normal, uma saudade normal. Tudo era normal, até que, normalmente, a gente se perdeu e fatalmente se separou. Ali, pela esquina qualquer, em que se cruzam as paixões corriqueiras e acaba na travessa do esquecimento. Ali, pelo caminho óbvio das relações que a gente esquece, porque não tem nada de bom ou de ruim pra lembrar. Ali, pela estrada invisível que faz a gente se esquecer de que foi companhia, um dia, um pro outro e, quando lembra,  surpreende-se, ou até mesmo, confunde. É que os términos geralmente são lembrados com aquele tom fúnebre e pesaroso, ou mesmo aquela saudade fina, que engole o peito, deixando a gente pequeninho. Mas o nosso, foi… Normal.

#Espalheamorporaí <3 #DQ148

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