Se paredes têm ouvidos, as desse bar tem os cinco sentidos. Nós falamos, mas também queremos te ouvir. Metade de mim é o que escrevo, e a outra metade são vocês. Então, manda aí aquela sugestão, critica ou desabafa qualquer coisa. A conta? Deixa que eu pago.
Eu não amava mais você. Topei voltar pela história, pelos momentos, pela saudade que todo amor que passa há de deixar. Estava com você, mas não parecia você. Ou melhor, não parecia a gente. Insistir depois que o amor passa é o maior e mais humilhante lamento a que podemos nos submeter. Não merecemos isso. Talvez, pra outros, seja suficiente, só que a gente sempre foi mais. Ser assim, demais, é que faz a média ser tão medíocre, embora todos os ingredientes que façam uma relação durar: respeito, carinho, confiança e lealdade. Parece que perdemos a mão (ou será a vontade?)
A gente vai se esbarrar um dia e lembrar que, de fato, foi feliz. Mas insistir agora só vai fazer esse encontro ser trágico e cheio de mágoas. Eu quero me lembrar de você com um sorriso, e não escondendo o rosto, tentando fugir. Não é justo com a gente, sepultar uma história, que pode viver eterna, quieta e imaculada dentro de nós.
Eu sei que vai ser difícil pra nós dois, que vai dar vontade de voltar de onde paramos e tentar ir contra as leis da natureza, tentando, em vão, voltar ao tempo em que a gente realmente se queria, que se desejava e se permitia ir além da mesmice dos amores convencionais. Meu bem, erga essa cabeça: a gente passou o que tinha que passar, não sou mais seu amor. Sou saudade pra você guardar.
O grande desafio de qualquer relacionamento é equilibrar a balança existente entre as expectativas e a realidade. Todo mundo traz uma bagagem emocional e, com ela, inúmeras expectativas. Com o passar do tempo, vamos vendo que, assim como nas viagens não programadas, em que levamos roupas desnecessárias, o mesmo acontece nos relacionamentos afetivos. Não há como se preparar para todas as diferentes situações que iremos enfrentar. E, pra falar a verdade, ainda bem que não. Algumas pessoas dizem que são mais felizes quando estão apaixonadas. Quando o amor chega, as coisas dão certa esfriada, ou melhor, fica menos intenso. É que o amor tem esse quê de calmaria. Seguindo a lógica dessas analogias, entre frango e porco ,quem você seria?
A pergunta parece meio bizarra, mas entender quem você é pode preveni-lo de frustrações doloridas e evitar algumas separações. Há um dito popular que diz: “Dois bicudos não se beijam”. A compreensão desse dito é de uma simplicidade e verdade absurdas. Essa história de que os opostos se atraem é pura balela da Física. Ninguém se interessa pelo oposto. No máximo, pelo disposto. Acredite. Um barco em que cada um reme para um lado só anda em círculos. Não quero usar nessa crônica o tom professoral, como se eu fosse um ás dos relacionamentos. Considere essas palavras um dialogo e fique com o que achar que vale a pena.
Os frangos são aqueles que se envolvem parcialmente em relacionamentos. Eles têm sempre um pé fora do rio e não ultrapassam a linha da cintura. Tomam as decisões, sempre analisando o seu lado, o relacionamento não é uma prioridade. Não há unanimidade, porque o seu bem-estar está acima do bem em comum. Frangos só são perigosos quando não admitem ser o que são. Quando fingem estar de cabeça numa relação e permitem que o outro se jogue sem reservas e, depois, simplesmente, voltam para a margem e deixam seu parceiro à deriva. Daí, o que era pra ser o mergulho num mar de amor, passa a ser um naufrágio.
Os porcos são aqueles que se comprometem com a relação totalmente. Eles se jogam de cabeça, pulam no olho do furacão, jogam-se no mar revolto sem colete salva-vidas. Suas decisões estão baseadas no bem em comum. Abrem mão facilmente de suas vontades e têm no altruísmo uma filosofia de vida. São os que mais sofrem e os que são mais felizes. Conseguem extrair o máximo de cada relação. Porcos só são perigosos para si mesmos, eles preferem se machucar a machucar o outro. Por causa dessa constante abnegação são chamados de trouxas, mas o que ninguém vê é a coragem que eles têm para se reconstruir após as frustrações.
Ser frango, pra alguns, é uma escolha de vida, para outros, é algo nato. Da mesma forma, são os porcos. Ovos com bacon é um prato que reflete bem essa diferença entre frangos e porcos. Isso porque ambos estão juntos formando uma combinação deliciosa, porém desarmônica. Para ter bacon, o porco estava tão comprometido que deu a vida pela relação. Ele, literalmente, doou-se em prol do prato (lê-se: relacionamento). Já o frango, está até envolvido na relação, mas colocar ovos não é bem uma troca equivalente. Estar envolvido é muito diferente de estar comprometido. Na amálgama das relações afetivas, não há espaço para meio amor, meio termo, meias verdades. Amar é uma doação voluntária e contínua. Quem ama não se envolve, compromete-se tal como o porco. Portanto, se você for frango, não tenha vergonha disso. E se, por acaso, encontrar um porco por aí, não permita que ele se torne bacon, enquanto tudo que você pode oferecer são ovos. Seja de qual lado você esteja, só não engane a outra pessoa. Não seja a desesperança de alguém. E, muito menos, não permita que alguém seja a sua.
Deve ser sorte — ou algo mais forte— essa coisa que une as pessoas e faz de nós, egoístas de carteirinha, sermos compassivos e (pasmem!) até altruístas com algumas pessoas. Seletividade à parte, o que importa é que, por algumas pessoas, somos melhores, fazemos melhores, ou queremos sempre o melhor. E isso é mágico, sublime, e raro. Isso é sorte.
Sorte é a palavra coringa do dicionário que usamos pra todos os acasos que conhecemos. Sorte é como a palavra “coisa”. Coisa é qualquer coisa e, por ser qualquer coisa, é a coisa mais imprevisível que podemos conhecer. Já vi coisa boa, coisa não tão boa, coisa ruim, coisa muito ruim. Amor é uma coisa? Ou seria uma coisa o amor? Amor seria uma coisa de sorte? Seria sorte isso, quando a gente nem ao menos sabe que coisa esperar? Estou convencido de que amor dependa da sorte. E amar seja alguma coisa que faça com que a sorte aconteça algo, tal como que o adubo faz ao solo e o deixa fértil. Uns têm sorte (lê-se: amor). Outros têm alguma coisa próxima disso (lê-se: quase amores). Mas, em suma, a sorte precisa encontrar essa coisa que falta pra o amor nascer. É quase como uma combinação cósmica. O amor vaga como um substantivo. Transitivo. Direto. Fatal. Reto…até que esbarra na coisa. A coisa, a gente nem sabe o que é, mas reage com o substantivo e transforma todo esse sentimento em ação. Verbo. Perfeito. Ou, às vezes, mais que perfeito. Aí, o amor vira amar, e a sorte com a coisa vira a coisa que faz mais sentido, mesmo que não tenha nenhuma explicação. É o caos bem ordenado, que cativa por ser tão paradoxal. Deve ser por isso que seja tão difícil explicar por que você ama alguém, ou por que você está com alguém há tanto tempo. Você para, pensa, repensa e não sabe ao certo. Mas sabe que deve ser alguma COISA. Ou simplesmente SORTE.
Esqueça essa coisa de que esse o texto é meloso. Não é uma dose de fossa, nem um choro de alguém que foi abandonado, ou relato que mais parece música da Marília Mendonça. Mas não se engane. É trágico, cômico e sádico. É que eu não sei me despedir. É que eu não sei desligar o telefone, antes de lutar com a câimbra e correr pra perto de uma tomada e carregar o celular. É que eu não sei dar o último beijo do dia e dizer até amanhã. É que, se eu pudesse, não dormiria, mesmo que tivesse sempre a certeza de sonhar com você.
Acho que a dificuldade em não saber se despedir é a vontade de querer ficar. Há amores calmos e perenes, que mais parecem uma rede estendida numa varanda, com passarinhos cantando ao fundo. Mas há aqueles que cortam os punhos e nos fazem cair em queda livre. Esses urgentes e imperativos chegam com toda pose — ou seria posse? — Não sei. Só sei que podem ou devem consumir o mundo. Assumem o controle de tudo e nos reduzem ao nada. Não há passado, porque até na prequela, ele existe. Sabe-se lá como, mas está ali, infiltrado nas entranhas do ser, mesmo antes de estar.
E desse sentimento que mais parece chaga, quem se atreveria se despedir? É por isso que ouvir sua voz é como ouvir o canto hipnótico de um ser encantado. É o imã irresistível, que dorme na beira do precipício. Chamaram isso de gravidade. E deve ser mesmo: grave. Tão grave, que ficou gravado como pele em mim. Eu não sei me despedir de você, ainda que se despedir seja um beijo de até logo. Eu não sei se não sei, se não posso ou se não quero.
Tu não precisas ser tudo, mas precisas ser o Sol. O Sol não é tudo. O Sol é parte do todo. A praia não é boa, porque fez um solzão daqueles. A praia fica melhor, porque fez um solzão daqueles. O Sol, sozinho, é possibilidade. O sol, contigo, é certeza. Se Sol tu fores, só não ficas. O resto, eu faço enquanto Sol estiver comigo.
Eu peço-te que sejas como Sol, porque eu temo o frio e a penumbra. Falta-me coragem pra seguir sozinho, mas sobra-me vontade em ir contigo, mas, claro, “solmente” contigo. Dou-te um dia branco, e tu me trazes o Sol, para que não nos falte nada, e nosso amor seja como luz. Anda. Depressa. Corre pro outro hemisfério, de um lado a outro do mundo. Eu te seguiria pra nunca, em hipótese alguma, provar da noite e de toda aquela penumbra. Que nosso amor seja sempre luz e não tenha sombras— muito menos de dúvidas.
Quando precisares sumir, some devagar, pra que eu me acostume ao baixar do brilho e tua distância seja assim como envenenar-se: a conta- gotas. Que tu demores tanto em ir, a ponto de esquecer-se de ir. Fica longe, mas não vás completamente. Fica num ponto em que possas te ver, ainda que nublado ou entre nuvens. O crepúsculo é melhor que qualquer penumbra. Seja o Sol, e o resto, eu consigo. Seja o Sol, e o resto, é comigo. Seja o sol. Apenas, seja o Sol.
Ouvi de uma amiga, que estava pra lá de Bagdá, a seguinte frase: “Eu não vou escolher mais ninguém, eu vou deixar que alguém me escolha. É tão difícil escolher alguém!”. Devo admitir que bêbados têm seus méritos, quando o assunto é frase de reflexão. Hoje sentei pra escrever e lembrei-me desse episódio. Realmente, o poder da escolha é algo tentador e, ao mesmo tempo, assustador. Todos os dias, somos obrigados a exercer nosso poder de decisão e, se você se recusar a usá-lo, ainda sim, isso será uma decisão. De qualquer forma, o que quero dizer é que não há como fugir. Decidir é algo tão certo quanto necessário.
Mergulhado em algumas das decisões que eu julgo serem as mais importantes da minha vida, percebi que a gente só se dá conta da importância que uma escolha tem, quando decidimos de forma errada. Do contrário, passamos por cima e vamos colocando culpa no acaso, destino ou na força superior que você acredite. Você pode ter mil e um motivos para confiar, mas a decisão de confiar ou não é sua escolha. Pode haver mil e um motivos para continuar, ainda sim, essa decisão será sua. Só quem sente o gosto amargo da culpa, sabe o quanto pesa fazer uma escolha. Toda nossa vida está baseada nas escolhas que faremos. Todavia, há somente duas escolhas que não nos cabem. E talvez, as mais importantes: nascer e morrer. Curiosamente, os dois extremos dessa jornada que chamamos de vida.
Imagine dois prédios de mesma altura, distantes entre si, em um espaço qualquer, ligados por uma tábua estreita, que mal cabe a largura de seu pé. Logicamente, a travessia de um lado para outro, para os mais radicais, será adrenalina pura, quiçá, atravessarão de cabeça para baixo ou com alguma espécie de malabarismo circense. Para outros, será um passo de cada vez, calculando incessantemente os riscos, no afã de manter o equilíbrio necessário e tentando não pensar na queda que parece iminente. Pois bem. Esse equilíbrio é a vida. Como você atravessará são suas decisões. Não há aqui, nas entrelinhas desse texto, um tom professoral de alguém que vai ensiná-lo a forma como se deve atravessar a vida. Ainda que tivesse essa sabedoria, essa escolha não é minha, é inteiramente sua. A vida é o equilíbrio constante entre suas escolhas e consequências. Neruda uma vez disse que até somos livres para escolher, mas prisioneiros das consequências dessa escolha. É uma verdade simples e profunda. Importante frisar que não é porque começou devagar, dando um passo de cada vez, que se vai terminar nesse mesmo ritmo. O lado bom da escolha é justamente esse. Trocar o ritmo, correr riscos ou simplesmente levar a vida devagar. No fim, o que importa é chegar do outro lado, com a sensação de que valeu a pena a travessia.
Senti um cheiro de lembranças. Daí veio um misto de saudade e indiferença. Parte de mim sabia exatamente o que aquilo significava, outra parte, tentava me enganar e, por alguns segundos, conseguiu. Eu consegui fingir que não sabia exatamente de quem era aquele cheiro. Você estava escolhendo uns filmes, bem à minha frente, enquanto eu estava esperando minha vez de pagar a conta. Você, rindo com ela, usando as mesmas piadas e fazendo aquela linha-ogro- encantado, que você domina com maestria. Ela parece feliz, assim como eu fui durante boa parte do tempo que fiquei ao seu lado.
Você está em dúvida de qual filme escolher? Faça o que me ensinou. Não escolha o de melhor capa, que deve ser o de pior conteúdo. Se fosse em outros tempos, eu o convenceria a escolher algum repetido. Mas eu estou praticamente na sua frente e, ainda sim, você não me olha. Isso me fez lembrar do quanto eu conheço seu cheiro, mesmo você trocando o perfume. É que eu passei muito tempo buscando-o, pra matar a saudade na época em que estávamos juntos. Você e sua mania de sumir, logo após se tornar essencial. De tirar, logo depois que parece finalmente se deu por inteiro.
Você, que já foi meu mundo, e eu, que reconheci sua presença, mesmo que esteja de perfume trocado, agora preciso fingir que é um estranho. Olhar você, assim, tão perto, fez-me refletir o quanto estamos longe um do outro. Não é que eu tenha saudades, mas é que fingir que somos estranhos é o que mais dói, e, parece que não vai passar.
Dizem que trauma é uma cicatriz que dura, às vezes, muito, às vezes, pra sempre. Cicatriz não dói, pelo menos não fisicamente. Mas cicatriz marca e, se a gente pensar bem, talvez isso doa ainda mais. Relações abusivas existem desde sempre, quiséramos nós estarmos livres delas. Elas são, muitas vezes, usadas como aprendizado, outras como trauma. A questão é que essa sucessão de fatos, aparentemente desconexos e particulares, a que chamamos de vida, geralmente não ocorrem a esmo. São eles conectados, como um trilho de trem. Ligados pelas lembranças, sejam elas boas ou ruins.
Cazuza já imortalizara a frase de que o tempo não para e, usando a antologia desse pensamento, constatamos que não dá pra parar o tal trem e dispensar um vagão que não deu certo. É preciso seguir com aquele peso. E, assim, vagamos rumo ao que os trilhos nos reservam e, a todo o momento, vagões distintos, abarrotados de emoções se juntam, criando um emaranhado de coisas sem um filtro aparente. A experiência nos permitirá desviar de algumas estações perigosas e aproveitar as benesses que nos aparecerão.
Mas, infelizmente, por mais sorte que se dê, alguns vagões estarão ali, para nos lembrar de paradas catastróficas. Seremos assombrados por porões macabros, que deixarão marcas indeléveis ao longo do caminho, tais como as cicatrizes. Lembranças essas que não é porque seguimos que pararam de doer, ou de existirem, mas que, simplesmente, aprenderemos a conviver com a dor, ou se esquecer de que dói.
A naturalidade numa relação é tão necessária quanto as esporádicas, mas não tão raras quanto as surpresas. É que manter um padrão natural estabelece um conforto ideal e, por conseguinte, um desgaste na linha do suportável. Sim, uma relação, por mais saudável que seja, exigirá de você um desgaste. É óbvio , pra não dizer elementar, que esforços em prol do bem alheio costumam passar despercebidos. Até porque quando se começa a perceber, começa-se também a incomodar. O sincronismo do ritmo que cada um leva não é lá das tarefas mais fáceis. A gente sempre se atropela nos primeiros passos, nos primeiros voos.
Tal como uma balança, relacionamentos saudáveis são aqueles que equilibram as necessidades individuais, em prol do bem em comum, estabelecendo uma equalização entre as particularidades. Daí, essa simetria, independente de ser kármico ou catastrófico, precisa ser natural. É que, no dia a dia, não vai sobrar muito tempo pra pensar na melhor atitude, e os gestos, impulsos e atitudes serão automáticos, tipo esse movimento involuntário, que chamamos de reflexo. Assim, é perda de tempo -e por que não dizer de vida?- achar que podemos fingir um ritmo diferente do nosso natural para agradar ao outro.
Nessa biosfera dos relacionamentos, há aqueles que não andam, mas rastejam. Répteis, que raptam nossas forças e sugam sempre pra baixo qualquer desejo além de vagar pelo chão. Talvez, se tivessem oportunidade de olhar o céu, cultivariam o desejo de voar. Há também os anfíbios, esses híbridos, são os mais perigosos, pois nos enganam mais facilmente. A gente nunca sabe se eles vão pular, rastejar ou nadar. São os andarilhos que entram em nossas vidas, com promessas de boas aventuras, mas que, no fim, são tediosas mudanças de vida.
Felizmente, há aqueles relacionamentos que buscam mais além. Olham para cima, e o céu parece ser um convite impossível de resistir. São relacionamentos que não sequestram os nossos sonhos, pelo contrário: são como asas. Escondem o chão, e voar vira uma obrigação. A queda é uma possibilidade, mas, pra quem tem asas, a altura é irrelevante.
Parceiros que encontram o sincronismo natural do bater de asas decolam rumo à felicidade, num ritmo tão natural que parece mágica, pelo menos para os outros. É que voar não é natural pra todo mundo. Melhor nem contar, caso você tenha planos ou asas. Isso só despertaria inveja alheia. Voe alto. Fale baixo. Ou melhor, não fale. Afinal, nenhum pássaro voa, olhando pra suas asas. Para eles, voar é natural.
Existe uma diferença “normal” entre percepções de sentimentos. É a velha história de ver o copo pela metade, mas, mesmo assim, para alguns, estará meio cheio e, para outros, meio vazio. Ninguém ama de forma altruísta, como se não esperasse que os esforços despendidos em favor do outro não voltassem, ainda que com um deságio, em forma de reciprocidade. É como quando você dá uma viagem dos sonhos e ganha de volta um eu te amo, que, por si só, é melhor que qualquer viagem, mas que, pra você, pode não significar tanto assim, haja vista que falou isso na segunda vez que saíram juntos — Perceberam? É justamente bem aí que as percepções ficam tão complexas que a balança parece perder o fiel. Não há uma escala única, ou mesmo unidade de medida padrão, que mensure o peso das ações e das palavras numa relação. Para alguns, a palavra é tudo, para outros, nada. Para alguns, ação é tudo, para outros, somente ‘quase’. E, não podemos negar que atitudes têm um peso diferenciado e, se não concordar comigo, lide com isso.
Não teria nenhum problema se e, somente se, fôssemos iguais no que diz respeito à saciedade emocional e se houvesse a tal escala padrão que medisse o esforço alheio. É só parar pra pensar e lembrar que, para alguns, dizer eu te amo é tão fácil quanto desejar um bom dia. Já para outros, eu te amo é quase um epitáfio. É uma prova e tanto, principalmente no mundo de hoje, parar e ver com os olhos dos outros. Parar pra medir com a régua do outro. Parar pra sentir como o outro. Logo pra gente tão egoísta! Logo pra gente que enxerga sempre um amor caolho!
Na subjetividade da percepção, a afetividade alheia não há razão, até porque se tivesse não seria subjetiva. O que nos resta é confiar no sentimento do outro e seguir pelo árido caminho da fé de ver e ter coragem no amor. Exigir de outro uma reciprocidade que nos satisfaça é tão, ou mais difícil, que a exigência de amar sem esperar nada em troca. Então, que seja leve e releve os fardos, tanto das expectativas não atendidas, quanto da culpa de ser egoísta.