Ainda bem que você vive comigo | #DQ97

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Trilha: 

Sabe? Nós, românticos incuráveis, cronicamente emotivos e indiscretos, sempre à procura de um tanto muito mais de mistérios, com traços de adrenalina misturada à paixão, deveríamos ser separados ou, pelo menos, viver num mundo em que seres fleumáticos fossem apenas tema de alguma série nova do Netflix. É que a gente é míope quando o assunto é amor calmo, sereno e tranquilo. A gente sempre espera algo avassalador, que marque feito cicatriz, que nos roube o juízo e a sanidade. Que nos tire o ar, o chão, a paz. E, obviamente, digo isso no sentido positivo. É que essa coisa calma, ritmada e harmônica não parece combinar com a intensidade do que sentimos e, muito menos, com a reciprocidade que esperamos. É por isso que, se eu pudesse, criaria um lugar onde só existissem pessoas assim. Nele, somente os bastardos entrariam, somente as almas perturbadas e corações em carne viva seriam aceitos.

Mas daí, nesse mundo de tantos desencontros, incompatibilidades e amores abortados antes mesmo de nascerem, você escolheu me amar. De um jeito que eu não queria, com uma força jamais vista e uma discrição que faria o Sherlock Holmes sequer suspeitar. Um amor silencioso. Calmo como brisa suave, que não derruba nada e nem faz alarde. Só refresca e acalma o meu calor e urgência em sentir. Logo eu, que sou colossal por natureza, que faço de qualquer gota de sentimento um oceano de possibilidades, mergulhando, sem ressalvas, em qualquer razão com ou sem profundidade… Depois que você chegou, eu joguei fora as teorias sobre as quais eu tinha em sentir amor. Quem liga se você prefere um ritmo mais lento? Se a música que nos embala a vida for valsa? Ou se nossa ressaca for apenas admirar, envolvido em seus braços, um mar agitado que inveja nossa paz?

Ainda bem que você não fugiu quando teve a oportunidade. E nem se assustou quando eu quis lhe tragar de uma só vez. E eu, que antes mal sabia o que esperar depois do amanhecer, hoje tenho, na calma de um amor tranquilo, um bom motivo pra adormecer.

 

#DQ97 #espalheamorporaí <3

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Relacionamentos, publicar ou não: eis a questão | #DQ96

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O-Amor-Não-Pode-Existir-Nas-Redes-Sociais

Trilha: 

Sei que muitos dão importância para declarações públicas e, se possível, em letras garrafais. Sei que muitos fazem pedidos escandalosos, gritam no meio da rua e se atiram de paraquedas só para declarar o amor que sentem. Sei que muitos adoram a plateia e lidam muito bem com o palco, fazendo alguma serenata em show da banda favorita só para dizer algumas frases românticas e recitar algum escritor que o outro adore. Sei também que muita gente considera que quem não publica sua felicidade, não muda status, não faz do relacionamento um reality show, é porque não assumiu, de fato, a relação. Eu li diversos textos sobre isso.

Mas o que, talvez, ninguém tenha se dado conta de é que há uma infinidade de outras formas de se amar alguém. Amor pode ser grande e, ao mesmo tempo, discreto. Pode ser colossal e, ao mesmo tempo, silencioso. Por que que amor não pode ser, ter e viver de silêncio? Por que tímidos e fleumáticos não podem amar do seu jeito? Que lei foi essa que obrigou a exposição da felicidade como um termômetro da relação? Curiosamente, casais que se expõem são sempre os mais voláteis, sofrem de TPT: Tensão Pré-Término. Você consegue saber quando estão na lua de mel e quando estão na lua de fel. Indiretas, um clássico do relacionamento moderno, são sempre o primeiro indício de que as coisas não vão bem. A partir daí, as indiretas passam a ser mais diretas, até que chegam à beira do precipício. Ou eles farão um textão de reconciliação, usando alguma frase de Clarisse Lispector ou Caio F. de Abreu ou, simplesmente, postarão fotos com novas companhias, abusando de hastags com letras de desapego.

Não quero dizer que todo relacionamento público está fadado ao fracasso. Apenas que essa não é a única forma de externar o sentimento. Há diversas formas não públicas —e não menos sinceras— para declarar o seu amor. Há cartas, recados no espelho do banheiro, ou mesmo no guardanapo da pizzaria, que valeriam tanto quanto um pedido de casamento online, transmitido para todo o mundo. Há um grito alto, mas tão alto, nos sussurros ao pé do ouvido, que, talvez, você (por estar sintonizado em outra frequência) não consiga escutar. Afinal, o amor é sempre grito, até mesmo os contidos.

#DQ96 #espalheamorporaí <3

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Amor é improviso | #DQ95

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Trilha: 

https://youtu.be/3NE_TT7Xzlg

 

Eu sei que generalizar é um dos sete pecados capitais. —Não. Não é, mas deveria ser. Ainda mais quando essa generalização chega pra dizer o que é o amor. Logo o amor, que é sempre tão surpreendente mesmo em meio um oceano de clichês e de poemas já escritos. Parece que quanto mais se fala sobre amor, mais se tem algo a falar. Amor parece ser um assunto inesgotável. Há aqueles que gostam de falar do amor como se fosse um bicho selvagem, que está sempre à espreita esperando uma brecha para dar o bote. Há aqueles que falam que amor é valsa, que por sinal, é um dos únicos ritmos em que homem e mulher fazem EXATAMENTE o mesmo passo. Há aqueles que dizem que amor é chuva. Que desce dos céus sem pedir licença, que não liga se a terra está muito seca. Cai sem pestanejar, molha a todos que estiverem a seu alcance, sem ressalvas, sem distinções. Ás vezes nos lava, ás vezes nos leva.

Há também, aqueles que chamam amor de fogo que arde sem se ver, como se o amor fosse uma flâmula, invisível aos olhos humanos, mas um incêndio aos olhos do coração. Há aqueles que chamam o amor de cilada, catapulta, que põe em xeque os alicerces dos sentimentos, detonando qualquer fortaleza criado em redor das emoções. Há sim, mais outras infinitas definições. Afinal, estamos falando do sentimento mais democrático de todos. O sentimento capaz de nos expor ao ridículo, e isso ainda parecer incrível. 

Em tempos de segmentação. Formação de guetos e eternos “fla-flus”. O amor é coringa. O ás que acaba com qualquer jogo. Amor é tudo que já foi dito nos versos de Camões, Drummond ou em alguma musica do Chico. Mas se a arte ainda emociona ao falar sobre um tema que, aparentemente, muito já foi dito. Eu me convenço de que definir sobre o que seja o amor não é algo pronto, estático. Amor deve ser, e geralmente é a arte de mudar, a arte do improviso.

 

#DQ95 #espalheamorporaí <3

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O amor deixa pistas | #DQ94

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Trilha: 

Se não há amor perfeito, que dirá crimes. Todo crime tem seus deslizes. Não há um plano infalível. Creio que o amor seja a maior contravenção que o mundo já conheceu. Digo contravenção, porque nós ,egocêntricos que somos, quando amamos alguém, nos tornamos tão devotos desse amor que queremos dividir tudo com o ser amado – até aquilo que só temos no singular: a vida, por exemplo. Talvez seja porque, se amar é uma contravenção, dividir a vida com quem se ama é loucura. É contrário até às leis da Matemática. Pois parece que, quando se divide uma vida, se multiplica uma infinidade de histórias.

Mas, voltando ao cerne da questão de o amor como uma contravenção, fatalmente, ele deixaria, entre as mais variadas pistas: pegadas. Como marca indelével de corações apaixonados e corpos magnetizados, o amor espalharia pelos quatro cantos de algum lugar -que pouco importa- digitais impressas na alma.

Não adianta usar luvas, o amor é tato. Contato. Ato de se aproximar. Vedado a anonimato. O amor se releva, de fato.

E não se engane: apesar de constante contato, o amor é rato. Traiçoeiro. Vai lhe roubar na calada na noite. E você pode estar sendo vítima desse crime, sem ao menos se dar conta. Repare na forma como lembra do “infrator”. Se um sorriso se formar, quase como um reflexo involuntário, cuidado: você pode estar sendo vítima de amor. Preste atenção ao relógio.  Perceba: o tempo não é mais rápido? – Lógico. Esses infratores são mestres na arte de iludir. E ainda deixam, sabe-se lá se por crueldade ou o que seja, uma saudade descabida e ridícula, no milésimo após a partida. Não, ele não vai pra sempre. Mas sempre dói, né? Sempre vão e nos deixam na boca um sabor insaciável. E na ponta da língua, uma vontade louca de dizer: “Não vai. Fica!”.

Ah, esses criminosos!

Saqueiam nossos sentimentos, nos fazendo reféns de nossas próprias emoções. Atiram covardemente, contra nosso peito, um arsenal de sentimentos, dos mais variados calibres afetivos. Não há colete à prova de amor. Também pudera eu ser sequestrado por tais infratores!

Pudera eu ser pego, cativo, amarrado e levado a algum lugar, onde pudesse definhar e esperar a sorte de morrer de amor.

#DQ94 #espalheamorporaí <3

 

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Carta de Adeus: se eu pudesse falar

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Os humanos se acham superiores por dominar fala e escrita. Que besteira! Quem disse que um eu te amo não pode ser uma lambida? Mas, pela primeira vez, eu sinto inveja dessa habilidade. Se eu pudesse escrever, eu deixaria, pra cada pessoa que me cativou, uma carta. Deixaria pra cada pessoa que me permitiu amar, um adeus. Mas seria tão difícil que eu não conseguiria. Mas se eu pudesse falar eu diria: Obrigado!

Eu pediria calma e paciência pra entender que, se eu ou um de vocês partisse a qualquer momento, ou mesmo que eu entrasse pro Guinness Book, como o cachorro mais velho do mundo, ainda sim, seria precoce. Seria cedo demais, rápido demais e o sofrimento seria demais. Eu sei que o combinado era outro: vocês casariam, teriam filhos e eu ficaria cuidando da mamãe e do papai, mas imprevistos acontecem e, infelizmente, Deus me chamou mais cedo. Em 3 anos, a gente aprendeu a ser feliz, a não ligar pra uma casa limpa ou um carro com pelos. A gente aprendeu a compartilhar toda comida e eu aprendi que humanos podem ser amados como a gente ama. Quando cheguei nessa casa, sabia que seria feliz. E eu fui feliz. Vocês me ensinaram que a morte não é o fim, não é mesmo? Se existe paraíso até pra vocês, humanos, então, imagina como será o nosso? Deve ser bom pra cachorro! Se eu soubesse, mesmo assim, não avisaria. Se eu pudesse, ficaria mais tempo, mas a gente aproveitou bem o tempo que pertenceu um ao outro. Ou melhor, a gente continua sendo um do outro. Eu sempre estarei com vocês e vocês, comigo, lá no céu dos cachorros. Obrigado por me darem um lar, uma família, um nome. Eu nunca vou me esquecer da gente.

 

 

Com amor e muitos latidos,

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Thor Magno <3

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Mas ela não é você | #DQ93

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Trilha: 

A gente tinha tudo pra dar certo. – Tá, “TUDO” é um certo exagero! – mas tinha muito. Acha que é fácil achar alguém que prefira limonada a qualquer coisa? Acha que é fácil alguém que saiba a diferença que faz comer uma pizza em sentido horário? Acha que é fácil alguém sempre cantar a música que você está pensando só de perceber seus gestos discretos com o olhar? Acha que é fácil decorar esse ciclo de TPM e todo mês preparar um stand up diferente pra, no fim, você dizer que eu preciso continuar a escrever, porque comédia não é meu forte? Acha que é fácil abrir o Netflix e ver que nossa lista ainda está lotada de filmes? (Você ainda assiste?) Eu nem mudei a senha. Eu abandonei as séries, abandonei os filmes, a pipoca, mas não esvaziei sua gaveta. Ainda não consegui tirar suas coisas da minha casa, quanto mais da minha vida.

Era para nosso eterno ser constante e não, mais um instante, desses que se alimentam da saudade e da falta que você me faz. Você diz que a gente se perdeu pelo caminho. Sem problemas. Eu volto tudo do começo. Não me peça pra tentar outras possibilidades e conhecer novas pessoas. Eu buscaria você, nossa vida, nossa rotina em todas essas novidades.

Hoje, após muitas desculpas, resolvi sair com alguns amigos e coloquei a primeira roupa que havia no armário. Eu sei que xadrez não combina com listra, mas hoje parecia que eu estava decidido a me vestir da pior maneira possível. Quis o destino, sempre implacável, trazer alguém com seu perfume. Não! E ele vai sentar na mesma mesa que e…

– Oi, tudo bem? Sua roupa é engraçada.

Acredite se quiser, ela gostou da minha combinação de listras e xadrez. – quer dizer, “engraçada” é bom ou ruim? E o papo não sai do morno. Mas, afinal, qual é problema? Deve ser eu, quer dizer o problema é você – ou será nós? Não. O “nós” nem existe mais e, talvez, ESSE seja o problema. Ela elogiou minha combinação catastrófica (até eu sei que estava horrível!). Ela sentou ao meu lado e balbuciou os refrãos, só com os dois primeiros acordes. Ela usou uma piada com a minha série preferida. Ela tem um tique nervoso, ou melhor, “sedutoso”, em morder a ponta dos lábios sorrindo. Um sorriso alvo-rubro, que mais parece um ultimato: “ME BEIJE, VAI?”.

Ela é incrível. Mas tem aquele defeito: ela não é você.

 

#DQ93 #espalheamorporaí <3

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Carta aos trouxas | #DQ92

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Não, você não leu errado. Essa é uma carta, ou melhor, um manifesto em favor dos trouxas. Porque o mundo está abarrotado de espertos. De pessoas que precisam tirar vantagem de tudo. De um individualismo estúpido, como se precisássemos de muita coisa pra ser feliz. Gente que liga no outro dia só pra parecer difícil. Gente que promete o mundo. Que constrói planos e decide a cor da parede do quarto e, na hora de se mudar, manda uma mensagem dizendo que: “não está a fim, ou não está pronto”. O mundo não precisa das pessoas que apelam para o “jeitinho”. Nem daquelas que param na blitz e perguntam: “O que a gente pode fazer pra se ajudar?”. O mundo não precisa dos cristãos que, ao ver erros, apedrejem o réu. O mundo precisa de menos juízes e mais advogados. Não desses que são coniventes com os erros, fazem vista grossa e empurram a sujeira pra debaixo do tapete. Precisamos de quem ofereça, junto ao perdão, uma nova chance. Algo como: “vai e não peques mais”. Entende?

O mundo precisa de trouxas. Esses que são traídos e não fazem um escândalo como forma de vingança. Não agridem de volta e, quiçá, com força duplicada. Sim. Precisamos de trouxas que, ao receberem o troco maior, não consideram isso um dia de sorte. (Até seria, em tempos de crise!). Mas, nesse caso, a minha sorte é o azar alheio. Então, qual sorte tem nisso? O mundo precisa de trouxas que não furam a fila, que pagam suas contas, sem usar de artifícios ilícitos. Eles têm um cartão de verdade na conta do Netflix, mesmo sabendo que alguns programas conseguem gerar uma conta fake e você consegue assistir “de boas”. Trouxas, que guardam o “eu te amo” pra uma ocasião especial e não dizem somente por dizer ou porque querem iludir a outra pessoa. Trouxas, que detestam futebol, mas vão ao estádio só porque o outro sente um prazer absurdo em ficar gritando por uns caras que nem sabem que ele existe. Trouxas, que escolhem um animal de estimação não, pela raça e sim, com o coração. Trouxas, que não bebem para serem socialmente aceitos. Trouxas usam coisas e não, pessoas. Apegam-se, sim. E, se sentirem vontade, se apegam outra vez. Trouxas escrevem cartas apaixonadas e não se preocupam em parecerem apaixonados demais. A única preocupação é o tamanho do sorriso que o outro dará.

 

#DQ92 #espalheamorporaí <3

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Leia antes de partir | #DQ91

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Um-Dia

Trilha: 

Você não precisa estar aqui até o sol amanhecer. Você não precisa ser hipnotizado pelas voltas e tic-tacs intermitentes do relógio. Quem diria que a hora, um dia, não passaria? Quem diria que ela, que tanto foi pressa, hoje, apenas nos depressa por sua vagarosidade em não passar? Você não precisa fingir sono, quando faltar assunto, ou qualquer outro problema aleatório. Você pode sair, pegar o punhado de vida que lhe sobrou, por no bolso daquela calça jeans e partir. Mas parta sabendo que partir é uma passagem só de ida. Pois a parte que se deixa na partida, nunca parte, é partida. Quebra amiúde, retalhos, alude, frangalhos.

Você pode deixar de ser minha metade, meio, passagem. Pode voltar a ser caminho, mesmo que agora, sem volta. Você vai. E vai tirar o colorido de um colibri, pois um amor quando desbota é como um rio de poesia efluente, que desemboca num leito decadente. Mas, antes, segure minha mão, me abrace forte e não solte.

Ponha aquela música que me faz lembrar algum filme do Carlito, do tempo em que o mundo ria de um espetáculo sem cor, sem som. Ponha qualquer verso mesmo fora do tom. Ponha um poema de Vinícius, aquele que fala de fidelidade, que tem tom de esperança e vai. Vá amanhã de manhã, antes que eu desperte. Deixe-me pela última vez dormir ao seu lado. Finja que não passou, que não está farto.

Vá. Fique. Ou melhor, vá ficando, até ficar sem ter que ir ou até ir querendo voltar. Anda. Pinte um sorriso forçado, tipo aquele da Monalisa e me deixe um mistério – qualquer enigma. Eu preciso me distrair com alguma incerteza, depois que você passar pela porta. Eu preciso de dúvidas que me convençam a não trocar a fechadura. Faça isso por mim: não leve tudo agora. Deixe algum muda de roupa pra – quem sabe uma hora? – você querer voltar. Deixe uma escova de esperança, uma camisa de saudade, qualquer coisa que o faça lembrar que, mesmo que doída, há sempre volta, em toda partida.

#DQ91 #espalheamorporaí <3

 

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Mas, amor, eu tenho pressa | #DQ90

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Se vingança é um prato que se come frio, amor só se serve quente. Acho absolutamente sensata a prudência que o passar dos anos tende a nos trazer. O problema é que quem muito quer sempre tem pressa. E, olha, eu não vou negar: te quero tanto que te quero muito. Eu te quero sempre. Eu te quero agora.

Quem acha que sentimentos usam relógios, passaram da hora. Não existe sincronia com o futuro, tudo é agora. O futuro é um espelho que reflete tudo -menos o amanhã. Amor não é um acrônimo para amortização, que se paga em parcelas para abater uma dívida. Amor é tudo que há, desde o átimo do primeiro beijo até a ultima troca de olhar.

Pro tanto que te quero, perto não é – nem nunca será – suficiente. E te ter por algumas horas, não basta. Talvez, pra você, parece loucura ter esse sentimento sempre urgente. Eu sei que você prefere que eu valse em ritmo sereno ou que, pelo menos, eu não seja esse frevo que não cessa. Mas que posso fazer se sou saudade depressa? Tão urgente que depressa. Encolhe o peito, expande a alma e ao caos me regressa. Eu sempre sofri por antecipação. Eu sinto doer antes do impacto. Eu já vou ao chão machucada. Essa pressa em te ter deve ser minha alma querendo compensar o tempo que cheguei a pensar que tu eras fatídico, fábula, falha, que tu não existias. Acredita. Em dado momento, eu ouvi os conselhos de não ser pressa. Tentei ser menos urgente, mais calma, mais paciente. Passei a castrar meus impulsos e respirar bem fundo. Passei a amar comedida e com razão, até descobrir que não tinha a menor vocação para os sentimentos que não fossem febris. Os que me alertavam eram descrentes em pensar que amar não serve frio: só se serve quente. Como posso respeitar esse delinquentes? Como posso ser prudência se te amar me faz indecente?

#DQ90 #espalheamorporaí

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Sepultamento de uma (ex)romântica |DQ89

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O amor me ensinou a morrer. Foi quando, de saudade em saudade, eu passei a não mais conseguir sentir falta das histórias , dos beijos, das promessas e, principalmente, das pessoas. Eu já fui muito sentimental, sabe? Quando digo isso, quero que entenda como se eu fosse uma receita com apenas um ingrediente: coração. Eu sempre fui tomada pelas minhas emoções, cativa dos meus desejos e refém das paixões efêmeras que a vida parecia fazer questão de me propor. Eu acreditava que é preciso colecionar quedas para finalmente vir alguém que levante e carregue. Porém, chega um tempo na vida em que a gente perde a tesão que o perigo nos oferece. A adrenalina perde toda graça. O medo é substituído pela prudência. E a gente quer menos emoção, menos sentimento e mais realidade. Nessa hora, eu senti tocar a marcha fúnebre, uma valsa lenta e nenhum flor. Passava meu corpo, sem nenhum cortejo. Ninguém me viu. Ninguém chorou. Morria ali uma menina romântica.

O laudo da perícia apontava vários traumas antigos. Também, desde a infância , eu passava horas escrevendo cartinhas e colorindo corações para eles serem amassados e transformados em bola, na hora do recreio. É um exemplo tosco, mas, já adulta, entendi o quão significativa era aquela situação. Nada mudou. Eu apenas troquei as cartas por scrap, depois por sms e, mais tarde, por whats. Continuava imprimindo meu coração como único e suficiente conteúdo. Deu tão certo quanto a estratégia do general Crasso, que, talvez, não teria tido tal fama se o mundo conhecesse minha história.  A questão é que chutaram meu coração na infância. Ignoraram meu scrap na adolescência e printaram minhas emoções na fase adulta. Isso que me fez querer a morte mais que o amor – se é que ele realmente existe.

Assim, escrevo minha última carta, em tom de epitáfio. Eu não teria uma forma mais clichê e menos dramática de encarar a morte. Eu quis o perigo. Eu quis a loucura. Eu quis um amor sem dimensões. E tudo que eu consegui foi um coração vazio, ecoando solidão. Aqui jaz um coração.

Em suma: sumiu.

#DQ89 #espalheamorporaí <3

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