Eu não sou o amor da sua vida |#DQ107

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Isso não é uma carta de despedida. Nem um presságio de um canastrão que está tentando sair de cena e procurando uma boa desculpa. É apenas uma constatação óbvia -e nada dramática – de que, definitivamente, não sou o amor de sua vida.

Não sou eu quem vai fazê-la pegar um avião, atravessar o Brasil pra passar o fim de semana assistindo à televisão, comendo pipoca de micro-ondas. Não sou eu quem vai fazê-la ficar de madrugada, horas a fio, trocando de posição e de ouvido, só pra jogar papo fora e ouvir minha voz. Não sou eu quem vai fazê-la chorar, porque esqueceu uma data tão importante como: “o aniversário do primeiro beijo num dia de domingo na chuva”— Não sabia que comemorava isso. Não sou eu quem vai ganhar as primeiras e, talvez únicas, cartinhas de amor com caneta colorida e papel perfumado. Não sou eu quem vai exigir sua senha de todas as redes sociais, fazer teste de fidelidade com aquele seu amigo, que você insiste em dizer que ele é apenas seu amigo e que nunca vai rolar nada entre vocês.

Não sou eu quem vai propor a você assistir a um filme no cinema, como uma desculpa pra beijá-la e… enfim, você entendeu. Não sou eu quem vai comprar uma briga, só porque um cara a chamou e deu uma cantada — Eu, certamente, faria uma piada sobre isso. Não sou eu quem vai pegar você no colo e subir as escadas; a gente se pega ali mesmo pela sala, sob o tapete e deixa essa parte de fazer força pra o que realmente importa. Não sou eu quem vai tremer na frente dos seus pais pra pedir você em namoro – e nem de longe ser o genro que sua mãe queria.

Eu vou ser aquele cara que você precisou olhar uma centena de vezes, para conseguir enxergar. O que você vai saber —até todas as limitações, porque  nem faço questão de parecer indestrutível— eu vou amar receber carinho e colo. Eu vou ser o cara que põe o cinto de segurança ,com o velocímetro marcando 20 quilômetros. Eu vou ser o cara que vai banhar na chuva e espirrar um milhão de vezes no dia seguinte. Eu sou o cara que não vai impressioná-la com um mundo inédito. Afinal, seu tempo de descoberta já vai ter passado quando a gente finalmente se conhecer. Eu não vou ser o primeiro, nem ser daqueles amores que lhe causam febre. Mas prometo ser o último romance a aquecer você.

#DQ107 #espalheamorporaí <3

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Deus me livre gostar de você |#DQ106

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Trilha: 

A gente se detesta-pelo menos é o que todo mundo diz. E sempre que alguém diz: “Eu nunca vou ficar com você”, por fim, fica. Mas sempre há a exceção que, nesse caso, prova a regra. A questão não é nem não ficar com você. A questão é gostar de você. Ficar? Até ficaria. Talvez um, dois ou, no máximo, uns cinco meses. Dia, sim, e no outro, sim. Mas gostar de você? Deus me livre disso!

Deus me livre gostar da sua barba mal feita e de seu cheiro de sabonete barato. Deus me livre gostar da sua mania de mandar áudio, explicando coisas banais, com aquele tom sedutor que só gente teimosa sabe fazer– Na verdade, você fala assim com todo mundo. Daí, a gente fica na dúvida mesmo se é natural, ou se é parte de um plano maior – que Deus me livre ser vítima!
Deus me livre, hipoteticamente, marcar um jantar com você na terça e um jantar no sábado e esses oito dias – Eu falei , oito? – Calma, não é dezoito? – Droga, são quatro dias. Eternos, diria. Alguém importante vai morrer, vai decretar luto na sexta. E de lá vai pra domingo. Isso sempre acontece comigo. Deveria marcar domingo. Domingo ninguém morre. Domingo é o dia que todo encontro dá certo. Mas domingo não é dia de sair de casa. Todo mundo espera uma coisa de um sábado à noite, mas domingo? Só alguém desesperada. O que certamente não é o meu caso.

Deus me livre gostar de sua falta de etiqueta, travestida de simplicidade e dessas piadas bregas, que tanto o fazem sorrir. Ainda que, porventura, eu decore uma ou outra, porque (admito!) o som da sua gargalhada exagerada é uma delícia. Por falar em exagero, você adora as extremidades.

É um estar perto que afoga, feito um mar que me engole e me cospe na ressaca. É um estar longe que sufoca, feito o efeito do ar, quando se está longe do mar. É rarefeito ou efeito raro? Deus me livre da sua falta de tato com sentimentos e da sua inteligência excitantemente insuportável em qualquer discussão. Você e essa necessidade de saber tudo, ser tudo. Deus me livre… disso tudo?

#DQ106 #Espalheamorporaí <3

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Eu, você e a saudade que não me faz voltar |#DQ105

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Hoje completamos alguma data importante. Não lembro muito bem, ou finjo não lembrar. Mas deve ser importante – talvez seja o dia que a gente (você ) decidiu que não seguiria mais junto. Será? Parece que faz uns 286 dias que não o vejo, quer dizer, eu estou apenas chutando… Afinal, eu nem fico pensando muito naquele 19 de setembro, às 20h, quando você me beijou na testa e falou que não dava mais pra continuar.

Você começou com aqueles clichês desnecessários e as desculpas mais idiotas que a humanidade já ouviu. Lembra? Você pôs a culpa toda em você. Pôs-me num altar, num baluarte e explicou que eu poderia seguir muito melhor sozinha. Fez daquela conversa um alívio pra consciência que, pesava muito, mas não mais que seus motivos pra me deixar. Se existisse um Oscar de pior término de relacionamento, você deveria se candidatar. Eu até concordo que é cruel e, ao mesmo tempo, absurda a ideia de terminar um relacionamento, deixando possibilidades para depois. Mas não deixar sequer um pouco de saudade? Morrer dentro de alguém é terrível.

Eu li sua mensagem, falando que sentiu saudades. E eu não demorei porque quis fazer joguinho – detesto isso, você sabe. Mas, realmente, eu não sabia como responder. Eu até me lembro do nosso começo. Das vezes que a gente se enganou junto e achou que seria pra valer. Dos momentos bons que até as relações ruins conseguem ter. Mas a verdade é que não tenho saudades. Não essa que faz a gente querer voltar, querer responder imediatamente ou mesmo ficar feliz só por receber uma mensagem. Talvez minha saudade seja um mero formalismo sentimental. Desses que a gente sente por causa de etiqueta, ou mesmo por educação. Deve ser errado não ter nada pra sentir falta, mas para um relacionamento que agoniza, a morte é sorte ou, no mínimo, salvação.

#DQ105 #espalheamorporaí <3

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Você, meu amor platônico |#DQ104

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Eu pareço parada, pairando sob suas dúvidas, sobre minhas súplicas e todas aquelas desculpas que eu já sei de cor. Vai, invente que teve um contratempo pelo meio do caminho e ponha culpa na distância pra não me ver hoje. Diga que o pneu furou, que o trânsito travou, que esqueceu o celular e não teve como me avisar. Invente que ontem foi aniversário da sua tia-avó, que morava no interior, mas veio só pra passar o dia com você. Vai, me encha com desculpas que o tiram da culpa, por não corresponder às minhas súplicas para ter você aqui de novo.

Que saudade é essa que me trai? Que me faz ver você em cada canção, mesmo aquelas que falam de sentimentos fugazes? Que coração masoquista é esse? Que se deixa ferir em cada mensagem não visualizada, ou em cada ligação pra caixa postal? Que orgulho é esse que cessa imediatamente ao ver você mudar de “disponível” para “digitando”? Ah, a propósito, é de prepósito? Que sentimento é esse que me faz querer pertencer, com uma força que jamais quis, com a intensidade que jamais vi, algo que jamais tive? Eu, logo eu, que sempre quis um pouco mais do que me oferecem, fico à mercê de quem nunca me deu nada, por que raios isso parece que basta? Por que parece que esperar sua atenção é melhor que ser bajulada por quem põe a bandeja: corpo, alma e coração?

E se essas perguntas fossem respondidas? Talvez eu tivesse um pouco menos de dúvida. Mas não ter dúvida, nesse caso, é não ter fé no amanhã. É não ter, ainda que ínfima, a possibilidade de ter você num lapso de descuido do destino. Eu insisto. Eu persisto. É vã a espera dos amores platônicos. Desses que beiram ao escárnio e ultrapassam o limite de ser ridículo. Mas o que nos resta além de esperar? Eu sei, é irônico. Eu darei a você o tempo que me roubou, enquanto cativa estiver por sua atenção e mendiga por seu amor. E você? Nem precisa se preocupar em ser recíproco a esse sentimento ridículo. Afinal, para alguns amores, não há clemência, não há prece: só precipício.

#DQ104 #espalheamorporaí

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QUASE AMORES QUASE EXISTEM | #DQ103

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Trilha:

“Quase amor” é o “e se” que fica em toda relação que termina. É frustrante QUASE amar. Ser QUASE eterno. QUASE achar o amor da sua vida – mesmo que você tenha sido, durante algum tempo, totalmente feliz. Porque a linha que separa o que é “quase” do que é “total” é muito tênue. Quem pode nos garantir que o que estamos vivendo é o fim da procura ou mais um QUASE que a vida nos dará?

Pra falar a verdade, é uma tremenda injustiça achar que QUASE amores não existem ou são menos importantes, desnecessários. Eles podem até ser desvios. E, em alguns casos raros de sorte, se tornar atalhos que nos levarão ao nosso destino final. Quando falo “destino”, não quero que interprete isso como sendo alguma teoria cabalística, de encontro kármico que, se você não viver sua vida, estará incompleto. O destino é uma consequência dos seus atos, erros, acertos – e por que não? – os “quase” que todos nós merecemos ter.

Alguns quase amores são tão bons, que você não precisa apagá-los da agenda do telefone. Na verdade, você até pode trocar normalmente mensagens, sem que isso tenha alguma música de fossa ao fundo e alguém machucado do outro lado da linha. Você pode, de vez em quando, ter um bom conselho, uma amizade e uma história regada com carinho e sem nenhum ressentimento. Os quase amores podem ser páginas , capítulos ou uma frase qualquer do livro da sua vida, que pode até não ser a melhor parte, mas será extremamente necessária pro enredo e pro desfecho. Quase amores, podem ser uma história pra você reler, se permitir sentir saudades e sorrir de alma leve, agradecendo a Deus por tudo que você viveu. Porque, cá entre nós, a intensidade de quase amores e dos amores completos é tão relativa que, às vezes, é até melhor mesmo ser apenas “quase”.

 

#DQ103 #espalheamorporaí <3

 

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A gente (quase) deu certo |#DQ102

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Trilha: 

Às vezes, eu me distraio e fico me lembrando de como éramos imprudentes e espontâneos. O quão natural era rir sem ter um motivo específico – só pelo fato de você estar ali. Lembro-me de como o tudo soprava ao nosso favor. De como a vida nos queria bem. De como a gente não tinha noção de quanta sorte a gente tinha por estar vivendo tudo aquilo. Eu me lembro da sua cara de sono e do quão gostoso era o timbre, ainda rouco de sua voz. Lembro-me de como a vida parecia fazer sentido com tão pouco. Lembro-me de como a gente não era refém da velocidade e efemeridade dos dias comuns, mas não nos negávamos à adrenalina que viagens não programadas nos traziam.

Estou ouvindo aquela canção, que tocou na primeira vez que a gente se fez juras insupríveis, com sussurros indizíveis, de frente para o mar. O mar, sempre o mar, foi testemunha de nossos melhores feitos e sinfonia de nossas maiores promessas. Nós éramos ligados ao mar. Você dizia que ele parecia com a gente, com essa paz barulhenta e essa calmaria imprudente, feito poema de Camões – um contentamento descontente.

Era fácil topar qualquer parada. Você e esse jeito de pedir o mundo, como se isso não me fosse custar nada. Nossa! Isso é terrivelmente irresistível, você sabe. A segurança que vinha do seu olhar chocava com minha incredulidade e quebrava qualquer dúvida que eu poderia ter. Mas a gente foi se perdendo na habitualidade do caminho. Na certeza da volta. Na rotina do amor. A gente podia ter se amado menos, se permitido menos. Ter feito saudade, não por birra, mas por necessidade. A gente devia ter escapado entre as frechas que abriram, enquanto nos fechamos em nosso mundo. Era óbvio que nós, amantes das jornadas, nos fartaríamos de nós mesmos em algum momento. Que você se perderia, ou melhor, se deixaria perder pelo caminho já conhecido. Eu entendo você. Não a culpo por isso. Eu mesmo já quis sumir por uns dias. Eu fui a ingenuidade dos amores eufóricos. E você, a displicência dos relacionamentos eternos.

#DQ102 #espalheamorporaí

 

 

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Quando o amor é silêncio | #DQ101

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Trilha: 

https://youtu.be/bE4P6TKgQD0

Shiiiu! Fala baixo.
Pra quê esse tom alto se tua pupila dilata, se teus poros ouriçam e tua pele queima, ao me ver chegar?
Shiiu! Por que vamos estampar nossa felicidade em um muro virtual qualquer? Tira esse fardo de aceitação social de nossos ombros. Posta aqui, entre os lençóis, uma declaração clichê e faz textão no privado, só pra me dar bom dia.

Ei, diz que vai me pegar às 15h. Chega às 14h e faz de nosso amor surpresa, e de nossa rotina, fuga – Sério, me ama sempre. Mas, às vezes, muda. Ou melhor, me ajuda. Sim, me ajuda com uma prece pra não te perder, pra que não cesse o meu bem querer. Vem. Muda o canal pra uma programação em preto e branco e vem colorir meu corpo com tuas digitais. Fala sussurrando, com aquele tom sacana, sobre teus fetiches secretos, até os banais.

Amor, põe meu coração em teu colo e posta nele mais amor e um pouco mais de esperança. Despe minha alma de mulher e me abraça feito criança – Sim, feito criança. Ou tu não achas que pra durar não precisa de um tanto de ternura e um bocado de ingenuidade? Amor de adulto tem muita maldade. Apego é possessividade. Indireta é falsidade. E até a parte boa da maldade (Lê-se: saudades) se faz por pura crueldade. Ah, esse jeito de amar adulto, que tanto nos cansa, me faz sentir saudades do aperto de mão e de minhas paixões de infância. Quando foi mesmo que aceitei despir o corpo ao invés da alma? Quando foi que eu quis ser fuga quando tudo que meu coração dizia era: “salta”? O medo de amar demais nos faz precipício. Não desses que caem do céu, feito gota de chuva. Mas desses que nos congelam dos pés até a nuca. É que o medo de amar errado paralisa, e a gente se esquiva, numa esquina sem saída. Mas a gente é adulto. Tem que fingir a compostura. Fica aí se trocando por um meia boca, meia transa, numa vida vagabunda. Minha culpa ou meia culpa?

#DQ101 #Espalheamorpoaí <3

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Pelo direito de ser ridículo |#DQ 100

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Que o “amor é fogo que arde sem se ver” todo mundo já sabe. Mas isso, que era aparentemente um manifesto de um eu-lírico apaixonado, em algum momento cataclísmico, foi traduzido às avessas, e o significante perdeu todo o significado. Fogo que arde sem se ver era só uma forma metafórica, e não menos amena, de dizer que o amor arde, consome, ferve, transborda, transpira, até que um dia…

…alguém entendeu tudo errado e bradou alto que isso era apenas paixão. Amor é totalmente o contrário. Deixa isso de ‘ser fogo’ de mão. E, assim, deu-se a confusão. Inventaram um manual de conduta. Nele não pode se entregar rápido, senão é puta. Nem se pode amar demais, senão surta. Alguém disse que a mensagem deveria ser visualizada e ignorada, mesmo que a vontade de responder imediatamente, com um belo riso largo, seja evidenciada. Tem que se manter firme e fazer o “certo”. Dar gelo e não ficar tão perto. Afinal, quem corresponde por último é sempre o mais esperto. Chegamos a uma época em que, mesmo não querendo, se conhece novas pessoas, se aprecia novos risos e se esbarra em outras vidas, mas quem diria? Os corpos se fecharam, os dispostos se mudaram e os opostos… Ah, os opostos… esses se enclausuraram. Assim, o mundo se trancafiou na falsa segurança dos relacionamentos parciais. Está parcialmente amando, parcialmente vivendo e inteiramente se enganando − totalmente sofrendo. Deitam seus corpos desnudos sob a rede das relações preguiçosas. Balançam de um lado para outro suas aventuras monótonas.

Já ouvimos “não se apega, não” virar mantra. Vimos “lancinho” virar moda, ou melhor, dar onda. Vimos que “só sexo” não é traição e até pedidos repentinos de casamento virarem exceção. A gente ficou frouxo, com medo de se arriscar e riscamos, por sua vez, ser “UM POUCO MAIS FELIZ” da lista. Em troca de quê? Em troca de uma suposta maturidade emocional, que prega que não se pode ser nenhum pouco passional. Ou foi em troca de algumas noites a menos de choro, depois de uma possível separação? A gente trocou ‘tentar ser feliz de verdade’ por ‘relacionamentos pela metade’. E, sinceramente, não sei se somos meio felizes, ou ficamos mesmo foi pelo meio. Do caminho. Da vida. Alheios. Quando foi que ficou feio ser um apaixonado ridículo? Desses que armam uma jornada, por um simples pedido? Onde foi que jogamos as flores, cartas e até os mais constrangedores e, não menos, os amáveis apelidos? Onde foi, enfim, que trocamos o nosso direito de sermos ridículos?

#DQ100 #espalheamorporaí <3

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Um papo sobre casamento | #DQ99

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Trilha: 

É a primeira dose do ano e, também, a que antecede a centésima dose do blog. Já falei sobre diversos temas, mas uma leitora me desafiou a falar sobre casamento. Eu repliquei: “mas eu não sou casado”. Ela falou: “você escreve sobre tanta coisa, queria ler sua visão sobre casamento”. Então, comecei a pensar sobre o que escrever. Se você pensar em casamento, talvez a primeira coisa que vem à mente é festa. Acho legal a associação de casamento com véu, grinalda, vestido e os deliciosos bem-casados. Mas como falar sobre casamento pra uma geração que venera a rapidez e vive em um loop infinito de mudanças, que ama miojo, fast food e que, até na música, se alimenta de refrãos monossilábicos? Como não sentir medo e – por que não, pavor – em passar o resto da vida com uma única pessoa? Que nos dê licença a poesia, mas amar uma só pessoa pelo resto da vida é assustador, você não acha?

 

É paradoxal e, ao mesmo tempo, irônico, nossa geração ter dificuldade de falar sobre algo duradouro. Afinal, nós vivemos pensando no amanhã. Aliás, talvez esse seja o epicentro de toda confusão. Relacionamentos duradouros não são aqueles que vivem com a cabeça no amanhã, mas aqueles que se entregam de corpo, alma e coração no hoje. É que o amanhã nunca existiu: é e sempre será mera especulação, imagem virtual. Mas (infelizmente) nossa geração adora esse ambiente.

 

Somos educados, ou melhor, doutrinados em acreditar que tudo aquilo que demora é ultrapassado. Mas também, pudera… Quem vai esperar consertar, num mundo em que a emenda é – sempre – muito mais cara que baixar um aplicativo “que tenha 10 mil sonetos para enviar”? Vive-se a era dos updates, do download e do descarte. Reciclagem e reutilização ainda são slogan de uma minoria naturalista, ou ONG comunitária. “Então, use até o dia em que lhe servir (ou até fazerem algo mais moderno)”. A necessidade do consumo é irrelevante. Já a necessidade de troca, inerente. Como falar sobre relacionamentos duradouros pra uma geração cuja troca é a opção mais viável? Quem vai gastar tempo tentando entender o outro se há como pesquisar pessoas por filtros e selecionar aquelas que se “encaixam” exatamente como você quer? Quem hoje vai a um encontro, sem antes dar uma bela “stalkeada” nas redes sociais? Quem liga pra… Quer dizer, em tempos de WhatsApp: Quem liga?

#DQ99 #Espalheamorporaí <3

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A você que vai chegar | #DQ98

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Ufa! Já faz um tempo que aguardamos sua chegada. Você será o marco de um novo começo. Não só para aqueles que queriam sua chegada, mas até para aqueles que sequer tocam no assunto – Sim, há aqueles que não desejam que você chegue. Mas não se sinta mal. Você é, no fundo, bem quisto por todos. É que eles têm motivos que não cabem a nós julgarmos. É como diz aquele refrão: “cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração”. E você? Está ansioso? Já posso imaginar a correria que vai ser quando você chegar. Todo mundo com seu ritual particular, ou mesmo comemorando publicamente a dádiva de ver seu nascimento. Vamos nos abraçar e, pra ser bem sincero, contaremos até regressivamente. Você vai iluminar o céu, fazendo explodir em cores o tom monocromático da noite. Você vai fazer muita gente chorar.

É difícil ver você nascer e não lembrar as dores que tivemos durante a sua gestação – Sério. Eu cheguei a pensar que você não nasceria. Pensei que nós não sobreviveríamos a tantas complicações. Tivemos mortes prematuras e adeuses já premeditados. Conhecemos heróis anônimos e vilões desmascarados. Vimos escândalos de proporções dantescas. Mas, mesmo em meio à lama da corrupção, se ouviu, de um povo heroico, em um brado inédito e retumbante, bem na cara dos alemães, num “Maraca” lotado, a única estrela que faltava em nossa constelação. Queria dizer a você que, a partir daí, fomos só alegria. E que, pelo menos, nos gramados, as coisas voltaram a se encaixar. Lembra-se do brado? Pois é, ele também se fez um silêncio sepulcral. Nós, que há pouco éramos glória, nos tornamos luto. Levaram nossos caçulas, de forma sem precedente, mostrando que a vida é trem-bala e nós, agora, acima de tudo, somos também Chapecoense.

Eu já imagino você correndo, chegando já como se fosse de casa. Quer dizer, a casa é sua agora. Como eu havia falado, alguns queriam se prender ao passado. Mas você é o tempo e, por isso, inefável, inimitável e implacável. Vai chegar com a sensação de vida nova, página em branco, pra salvar quem está à beira de um colapso e adiantar o relógio que angustia os mais consternados. Você também vai chegar pra lembrar os mais eufóricos que a vida é vento que sopra brisa tão leve quanto finita.

 

#Feliz2017 #espalheamorporaí <3

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