A alergia de ser feliz |#DQ 117

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Trilha: 

 

Há uma filosofia de vida que prega aproveitar o dia ao máximo. Nela, o dia só é válido se, ao final dele, estivermos exauridos e, se for o caso, arrependidos do que fizemos, mas nunca do que deixamos de fazer. É uma filosofia interessante, do ponto de vista prático. Viver o hoje é sempre mais fácil e rápido que ter um plano em longo prazo, rumo à felicidade. Decerto que, pra falar a verdade, não há plano pra ser feliz. Até porque a felicidade, assim como tudo na vida, é questão de momento.

Nesse mundo de incertezas e repleto de “meias-verdades”, fatalmente existiria uma corrente contrária à essa, de aproveitar o máximo de hoje — Não, não estou falando dos procrastinadores. Falo do espécime mais intrigante dos tempos modernos: os alérgicos à felicidade. Parece loucura, mas há sim, gente contrária a ela. Há aqueles que não chegam a se ferir, pelo ao menos, não fisicamente. Mas não se negam à oportunidade de autossabotagem nos relacionamentos. Aqueles que, ao primeiro sinal de amor, somem. Que, ao primeiro sinal de que podem ser felizes hoje, adiam, desmarcam, visualizam e não respondem, inventam uma desculpa qualquer e se fecham, sob a couraça covarde do medo de ser feliz.

A Medicina explica a alergia como uma resposta exagerada do sistema imunológico. Exagero: talvez o maior calo de nossa atual geração. Somos sempre exageradamente demais. Ora somos felizes demais, ora tristes demais. Às vezes, hipocondríacos demais, ou mesmo vulneráveis demais. Não há um equilíbrio, tudo é sempre demais. E como tudo que é demais, sempre sobra, o que ficaria de fora? Fica a felicidade. Ficam vários sorrisos bobos e a monotonia de uma vida sem riscos. O certo é que, até onde se sabe, algumas alergias, talvez, o tempo mesmo cure. Já a felicidade, pode ser apenas um momento, pode ser apenas um instante. Mas pode ser que perdure.

#DQ117 #espalheamorporaí <3

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Mas era só mais um “filme” – DQ 116

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Trilha: 

Se no fim, a vida passa como o filme, no começo de todo grande amor, a gente se sente num trailer? Acho que sim: Um trailer de expectativas. É como ir ao cinema, pra ver aquele filme que você não tinha tanta fé que seria bom. Daí você, que sempre entra no momento exato em que o filme começa (porque detesta esperar), resolve entrar alguns minutos mais cedo e, de repente, entre trailers tediosos, o inesperado acontece. Você, que sequer sabia que gostava daquele gênero de filme, vê-se alucinado para o dia da estreia. Aquele filme, despretensioso, consegue conquistá-lo em pouco mais de dois minutos de trailer. Você pensa: “Se em dois minutos esse filme conseguiu me convencer, imagina em 90 ?”. Pronto. De repente, você está num frenesi de expectativas e tomado por ansiedade pra assistir logo ao filme completo.

Você foi assistir a um filme qualquer, mas se apaixonou por outro! E agora não vê a hora de chegar o dia da estreia. O tempo passa, o filme acaba e outros estreiam, mas nada leva sua expectativa, muito menos lhe diminui o desejo — que, a essa altura, já virou necessidade — em assistir. Pelo contrário, o tempo inflama sua vontade em assistir ao bendito filme por completo. Chega o dia da estreia. Bilhete comprado. Você chega duas horas antes. Não compra pipoca, porque não quer que nada o distraia da telona. Dessa vez, você faz o de sempre. Entra somente na hora do filme começar. Afinal, que trailer pode ser mais interessante que ver aquele filme?

O filme começa. A primeira cena você já viu no trailer. Linda, épica, genial. A segunda, você também viu, porque não se aguentou e foi a um site pirata, que vazou os primeiros minutos do filme. ESSE FILME É O MELHOR FILME DA MINHA… Espera aí! Esse filme parece com aquele a que assisti no mês passado – Comédia romântica é tudo igual mesmo! – Mas deve ser só essa cena. É já que o filme volta a ser interessante. Não dá pra fazer um filme 100% inédito e com cenas perfeitas do começo ao fim… O tempo passa. Ele vai chegando ao fim, e você, que estava esperando assistir ao melhor filme da vida, agora só quer um que seja decente. O que era expectativa vira decepção. O fim acontece. Previsível, triste e sem graça. Tipo esse texto que vai parecer que falei de você e o comparei ao filme. Vai parecer que é indireta, mas Deus me livre disso.

#DQ #espalheamorporaí 

 

 

 

 

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O amor é cócegas |#DQ 115

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Trilha: 

Desconheço outro sentimento mais capaz de nos fazer rir. Amor é frio na barriga. Amar é sentir a alma sorrir. Amor é tipo cócegas que, quando muito, fatalmente nos fará chorar. Mas quem negaria os sorrisos incontroláveis, ou mesmo trocaria a deliciosa angústia de rir até faltar o ar? Quem abortaria uma gargalhada pelo meio, só por medo de chorar ao fim? Quem suportaria uma vida sem riso, ainda que o pranto fosse tão certo quanto preciso? Meu amor, não chore. A vida só vale a pena porque acaba. É a finitude de tudo que há que dá sentido para as coisas que são. Que valeria uma vida infinita e livre de lágrimas, se não se tem a presença de sentimentos que nos apertem a barriga e afrouxem um riso temporário, ou uma alegria passageira?

O amor faz cócegas no peito, na barriga, na alma, nas vísceras. O amor faz umas cócegas que corroem e destroem toda e qualquer certeza. O amor fez cócegas na barriga do destino, riu da solidão, abraçou a melancolia e deu um beijo na depressão. O amor é serelepe. Desses tais sentimentos que não se acomodam em um só lugar. O amor é da cabeça aos pés, do pescoço às costas, da espinha à testa, nas costelas, no canto de trás da orelha, na mordida dos lábios, enquanto escorre o desejo. Amor é carinho na nuca ao final do beijo.

E quem disser que há amores sérios, compenetrados, que vestem toga e falam rebuscado, será que é mesmo amor ou será um contrato? Porque o amar não precisa de regência, norma culta e ortografia. O amar se faz com amor. E o amor, por si só, já é poesia. Amor só pode ser cócegas, porque não há espontaneidade maior que isso. Já vi alguns fingirem rir. Já vi alguns fingirem amar. Mas fingir que sentiu cócegas? Aí já é demais! Acho que não dá.

 

#Espalheamorporaí <3 #DQ115

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OS ESTRANHOS QUE SE AMARAM – #DQ114

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Trilha: 

 

Luísa, que era “Lu”, namorou Pedro que era “amor”. Luísa e Pedro eram o típico casal que só de olhar já se entendem. Nunca tiveram aquelas etapas quando se conhece alguém de: ficar sem assunto, nervoso, as mãos suarem e, constantemente, ficar com a sensação mútua de estarem falando só besteira um pro outro. Porque estranhamente até nas bobagens, eles se entendiam muito bem. No primeiro encontro, logo de cara, Luísa pediu uma limonada suíça, com duas ou quatro colheres de açúcar, nem uma, nem três. Pedro sorriu e perguntou o motivo daquilo. Luísa tem TOC e só gosta de números pares.Pedro ri – meio sem graça, mas não admite que também tem esse defeito. Ela não percebeu, mas Pedro chamou o garçom duas vezes, mesmo ele já tendo atendido desde a primeira.

Vem o segundo encontro e uma sensação gostosa, porém estranha, de que eles são velhos conhecidos. Luísa entra no carro e diz que não gosta da música. Tira do bolso um pen drive com suas músicas preferidas. Pedro detesta e critica o gosto musical dela. Eles sorriem, como se estivessem concordando. – EI, VOCÊS ESTÃO DISCORDANDO! Tirem esse sorriso bobo do rosto, vocês dois!
As horas voam e eles voltam, já planejando como será o próximo encontro. Pedro se aproxima da casa de Luísa e começa a andar mais devagar. Luísa entende e não liga. Por ela, eles paravam, só pra ganhar mais tempo. Eles chegam até à porta da casa. Ambos começam a inventar conversa, no afã de evitar o silêncio que precede a despedida. Pedro, em um rompante, finalmente beija Luísa, que consente. Eles sentem que o beijo parece um hábito e, por alguns instantes, esquecem que aquele foi o primeiro. Eles se despedem. Luísa tira as chaves do bolso e, antes de entrar em casa, novamente beija Pedro. Ela disse que não gosta mais de números pares. Ele sorri e diz que esse valeu por dois e, assim, agora foram três beijos, e não dois. Pedro beija novamente Luísa, e eles começam a trocar incontáveis beijos, até que Luísa o beija pela DÉCIMA OITAVA VEZ e corre pra dentro.

É difícil dizer quem tem o sorriso mais largo dos dois. Se juntá-los, deve dar uma duas voltas no mundo e ainda sobrar uns quilômetros para ir até Nárnia. Pedro chega à sua casa e, advinha quem já lhe mandou mensagem? Luísa. Eles conversam sobre tudo. Não saem sequer da janela um do outro. Madrugada adentra e ali estão eles: apaixonados e conhecendo detalhes que mais tarde vão querer esquecer, mas não vão conseguir. Eu queria poder alertá-los do perigo que correm, mas seria um crime, ou melhor, um pecado, privá-los dessas cicatrizes. O tempo passa e de causas “contranaturais”, toda aquela paixão se vai, todo aquele amor cessa e eles se afastam. A rotina muda, os amigos mudam, os planos mudam e até a playlist do carro muda. Pedro deixa de ser “amor” e volta a ser Pedro. Luísa deixa de ser Lu. E eles passam a ser desconhecidos um do outro. Apenas estranhos que já se amaram.

 

#DQ114 #espalheamorporaí

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AMAR EM TEMPOS DE GUERRA – #DQ 113

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Trilha:

 

E se amar fosse se render? E se amar fosse tão somente perder? E se amar fosse a mais torpe das derrotas, a mais vil das batalhas? Se amar fosse admitir um erro que não é seu? Se amar fosse primeiro vir “você” e depois vir o “eu”?

Fica complicado demais amar em tempos beligerantes, cuja ordem que impera é sempre a vitória, a todo e qualquer preço, desde quem precisa mais do outro até de quem liga primeiro. E, por uma má compreensão do que é maturidade sentimental, perderam todos os sentidos de amar, inclusive o principal. Perderam o tato em relações que não se tocam— só se chocam. Perderam a vista das necessidades alheias. Perderão mais por não saberem ouvir e, muito mais ainda, por não conseguirem sentir.

Esses protegem o peito com coletes à prova de amor. Colocam um capacete pra blindar qualquer pensamento de devoção, ou mesmo de pertencimento, que possa lhe causar dor. Vestem-se, camuflam e se escondem ao ver qualquer rastro de ataque sentimental contra suas fortalezas amorosas.

Mas, graças a Deus, mesmo em meio à guerra, existem aqueles que se rendem ao primeiro soar de trombeta bélica. Desistem desse combate, tão desnecessário quanto desgastante, e sucumbem antes do confronto – Mas que confronto? Achar que é sucumbência colocar o outro primeiro é prova cabal e irrefutável de nosso erro. Quando foi que nós deixamos o amor virar uma guerra ideológica? E nossos sentimentos serem minados, por medo de parecer pro outro que é vulnerável? A troca parece justa? Acho que não. Uma paz sem riso, não é paz: é solidão.

 

#Espalheamorporai #DQ113

 

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Duvido que ela volte |#DQ 112

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Trilha: 

 

Chego à minha casa. Viro as chaves. Abro a porta e a TV está ligada – deve haver alguém assistindo – Não. Eu moro sozinho, sou sozinho. Há uma cadeira com roupas sujas e uma confusão ali, no que era pra ser a minha pia de louças. Talvez essa bagunça incomode quando eu receber a visita – Que visita? – Eu moro sozinho, eu sou sozinho. Tiro os sapatos. Jogo a camisa em cima da cadeira, que parece chegar ao seu limite e… despenca. Roupas sujas no chão – droga! Alguém pode reclamar que, mais uma vez, deixei as roupas caírem? – Quem? Não há quem reclame, eu sou sozinho. Ouço a campainha tocar. A essa hora, deve ser alguém com preguiça de cozinhar, pelo menos eu ganho companhia – Não é ninguém, repito. Eu sou sozinho.

 

Moramos eu e a solidão. Até as companhias frívolas, eu deixei de procurar. Até o tédio, cansou-se de me visitar. Fico aqui, entre os escombros e as ruínas de uma recém e dolorosa separação.Tá, já faz mais tempo que estou solteiro que o tempo que passei junto. E daí? Ela precisou de 5 meses pra fazer com que eu vivesse o que não vivi em 32 anos de “relacionamentos maduros”. Logo eu, rei da sensatez! Deixei-me perder por aquele par de olhos castanhos, sorriso frouxo e juízo imperfeito. Fui levado por aquele olhar que atira qualquer sensatez a quilômetros de distância, propondo uma vida marginal entre os porões das relações infortunas. Dessas que a gente sabe que não darão certo que, talvez, vocês sequer sobrevivam ao próximo beijo, ainda que ele seja taticamente prometido no amanhã. Mas que amanhã? Pra ela, o amanhã é tão virtual quanto o ontem. Pra ela, isso é estar vivo. Pra mim, era o ópio.

 

O meu lado sensato, ela engoliu, assim como um faminto devora um prato de comida. Eu, que já estava entregue à libertinagem deliciosa que sua vida descabida propunha, vi-me ser escarrado cruelmente, com um beijo no rosto. Era o fim daquela relação desafortunada. E, por ironia sarcástica do destino, o começo de minha derrocada.
Deixei a roupa acumular, a barba por fazer e parei a vida, na esperança disso chamá-la de volta. Chamá-la: Ela ou a vida? Tanto faz. Sem uma delas, a outra já está perdida.

 

#DQ111 #espalheamorporaí <3

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AMOR, MEU LOUCO AMOR |#DQ 111

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Trilha: 

E quem tiver a coragem em dizer que amor é lógica, nunca amou ou deve ser um completo covarde. Achar que existe racionalidade no amor é triste. Que baita mentira essa dos racionais! Se vocês amam assim, do “jeito certo” que dizem falar, ou eu conheço outro amor, ou eu, mesmo velho, não aprendi a amar. Porque eu amo como um louco, varrido de qualquer sanidade. Eu amo como poucos, desprovido de qualquer amenidade. Eu, quando amo, fico cativo, feito refém do meu sentimento, fiel à lei de não se encantar por outro amor, nem mesmo por um momento. Sou leal à promessa, quase sempre trágica, de que dessa vez será bem mais tenro.

Meu louco amor não toca, fere. Arranha, vibra, maltrata. Meu louco amor ouriça a pele, semicerra olhos e a pupila, dilata. É um amor tipo caça, tipo selva, tipo chaga. Meu louco amor não tem gosto, tem sabor. Não suspira, é furor. Meu louco amor mora na rua, ou qualquer lugar que tenha uma ou duas doses de insensatez.  Meu louco amor é ferida, que abre, mesmo depois de cicatrizada. É marca indelével no peito, nos ossos, na alma. Meu louco amor escarra. Tosse e espirra, feito uma doença mórbida. Dá náuseas, febre, fraqueza, vertigem, feito peste contagiosa. Meu louco amor é mórbido. Sorrateiro. Sagaz. Meu louco amor não ama com o coração, não ama com a alma, não ama com a lógica. Meu louco amor ama com as vísceras, com pelos, com poros, com saliva.

E o que sobra de mim? Bem, que eu sabia, não é outro amor. É parte oculta, escura. Porque desconheço outro amor, diferente desse delírio que não seja você— que não seja loucura.

 

#DQ111 #Espalheamorporaí <3

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O que é a felicidade? DQ110

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Disseram-me que o amor é o caminho mais curto pra ser feliz. Durante muito tempo, achei que encontrar o amor de nossas vidas fosse um das, senão a maior, razão de nossa existência. Afinal, estamos aqui para sermos felizes. Um adendo: você, que não é uma pessoa romântica, pode trocar “encontrar o amor” por qualquer outra palavra que faça sentido pra você. A finitude da vida e as incertezas do que vêm depois da morte nos fazem criar a necessidade de dar sentido a essa passagem aqui, na Terra. Assim, procuramos pelas gavetas do universo algum par que nos complete, algo que se encaixe, algo que nos sacie a necessidade da procura.


Daí chega o dia que achamos algo. Talvez não seja exatamente o nosso número, mas a pressa de completar a missão é o calço perfeito que faltava. Andamos, desfilando para todo mundo — que ainda não encontrou nada— o quanto somos felizes e abençoados por termos completado a missão de ser feliz. Criamos uma inveja velada e taxamos de recalque, qualquer um que venha nos dizer que nossa missão não é lá tão especial assim. Há, nesse momento, um dos absurdos mais comuns que os seres humanos são capazes de cometer: a necessidade de ser alguém invejável. Por que raios iríamos querer despertar no outro um sentimento que nos fará mal? É como beber o veneno e esperar que faça efeito no outro. É o mais alto nível da ignorância, que parece pressuposto básico para ser humano.


Ficamos ali, medindo com uma balança sem fiel, as conquistas alheias, as glórias dos outros e torcendo, de forma contida, para que os fracassos sejam o lado mais pesado. “O Luís passou no vestibular, mas foi com cotas”. “A Fernanda trabalha no maior jornal do país, mas foi sorte”. “O Pedro tem um carrão do ano, mas também, não dá uma ajuda pra família”. “A Rita, coitada, acabou com a vida dela, imagina criar um filho sozinha?” “O José vive bem, mas é separado, não é feliz”. “A Francisca, essa aí… nunca vai ganhar nada, sempre foi ruim mesmo”. Parece familiar? Sim, esse é o retrato narrado do egoísmo nosso de cada dia. E se a missão fosse empatar o jogo? E se a felicidade fosse o sorriso do outro? E se a gente estivesse mais disposto em medir nossa própria vida, e não a do outro? Talvez a felicidade não seja uma conquista individual, talvez seja um estado de espírito. Não meu. Não seu, mas UNIVERSAL.

#DQ110 #espalheamorporaí <3

 

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Para ler nos dias difíceis | #DQ109

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Trilha: 

Eu deveria começar pedindo calma, mas você é do tipo que se irrita com pedido de calma e a mantém nos momentos mais absurdos. Eu sei que, nessas horas, a prudência é a última das prioridades. Tudo que a gente quer é machucar o outro pra se proteger ou usar o ataque, como forma de escudo. O mundo parece ter andado mais devagar, e você chegou ao final antes de mim. Eu devo estar pelo caminho, tropeçando e debatendo ainda com nossa antepenúltima briga. Aquela por causa do prato limpo na louça suja – ou essa foi a penúltima? – Sei lá. Nunca fui bom com datas mesmo.

 

Fique aqui, mesmo que a sua vontade seja só me esperar chegar, falar umas verdades, bater a porta e sair sem rumo. Afinal , qualquer lugar no mundo parece ser mais hóspito, parece ter mais vida do que aqui. Eu sei que você tem razão e que a gente tem resistido, por pura falta de coragem de terminar, por vergonha de admitir que caímos nas mesmas ciladas de relacionamentos passados. Eu sei que seus motivos ecoam dentro de você, como um címbalo que ressoa o tom da despedida, colocando aquela trilha sonora que faz a gente saber que o fim não está próximo. Ele já chegou.

 

Mas lembre-se de que é possível dizer mentiras só contando verdades. Porque é verdade que a gente vem mal, que a gente cambaleia e se desequilibra cada dia um pouco mais, sob a linha dos relacionamentos que estão por um fio. É verdade que a gente passeia pelo apartamento pequeno, evitando cruzar o olhar e começar uma conversa com o final já manjado. É verdade que o beijo é protocolo e que a gente conversa não por interesse, mas por educação. A única mentira dentro dessas verdades é que você, assim como eu, torce pra ler nas entrelinhas desse texto, um pedido de perdão, ainda que implícito, feito um acróstico justaposto. A verdade é que pediria se isso, de alguma forma, pudesse nos salvar.

#DQ109 #espalheamorporaí <3

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A falta vem antes de você |#DQ108

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Trilha: 

Podia começar dizendo que você faz falta, mas pus o predicado à frente pra provar que estou sujeito a ser propriedade da falta que você me faz. Tudo isso, só pra mostrar que a saudade de você é bem maior que tudo. A falta vem antes de você. A falta precede meu sofrer. A falta é tudo, o resto e nada mais. E o que me sobra consigo guardar num bolso de uma calça velha. São as minhas últimas preces. As minhas últimas palavras. O meu último adeus. É a saudade compactada dentro do meu peito – que encheria um estádio – condensada num pequeno texto repleto de reticências.

Eu vou refazer nossos melhores momentos na vã ilusão de que a vida pode ter um replay guardado, por descuido do roteirista. Vou colocar a nossa trilha e passar em frente ao seu portão, com o som ligado no máximo e um pedido de volta. Mas explicito que as lágrimas hão de escorrer. Vou lhe enviar um buquê de flores anônimo — Eu sei você detesta flores. E sei também que você vai adivinhar que sou eu. Afinal, quem mais lhe daria flores? Não me leve a mal. Essa é apenas uma provocação velada de forçar você uma reação qualquer. Ainda que seja de lamento. Qualquer coisa é melhor que seu silêncio.

A falta fez um buraco no lado esquerdo da cama. Fez sobrar o, sempre insuficiente, lençol. A falta trouxe consigo silêncio pra escrever, trouxe um usuário a menos no Netflix e várias figurantes no filme da vida. A falta que começou em você, hoje é até maior que eu. A falta me engoliu como se tudo em mim virasse saudade. A falta beijou minha boca, com requintes de crueldades. Pôs-me no colo, feito menino, e antes que eu adormecesse pra sonhar com a volta dela, me acordou pra se fazer maior, pra mostrar que o sonho contigo é ilusão. Mas a sua falta… essa sim, é real.

#DQ108 #espalheamorporaí <3

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