O que esperar dos finais? | #DQ82

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Trilha: 

 

Se, no começo, a gente espera sentir aquela ebulição toda de sentimentos (e, quando finalmente sente, parece até doente, sentir febre e quase enlouquecer quando o sentimento passa a ser real) o que esperar dos finais? O que esperar de um fim? Apenas um fim?

Se definir o início das coisas é misterioso, reconhecer términos é algo tenebroso. Ninguém se prepara pro fim. Ninguém se prepara para o fechar de cortinas. Ninguém se prepara para o baixar das luzes, o fim do espetáculo. Finais são como morte. Súbitos, sorrateiros, sujos. Sim, sujos. Podemos até viver com dignidade, mas morrer? JAMAIS. A morte é indigna. É a contravenção da natureza. Não faz parte do ciclo. É o fim do ciclo. Acabar dignamente é uma das mentiras necessárias que usamos para poder seguir em frente.

Nove meses é o tempo que, geralmente, contamos para o nascimento de uma nova vida. Percebem? Conseguimos enxergar começos. Conseguimos acompanhar. E, em alguns casos, prevê-los. Mas e o fim? O fim, não. O fim, a gente só espera, porque ele é certo, mas ninguém ousaria cravar com exatidão quando algo deixará de existir. Nas relações amorosas, não é diferente. Finais, mesmo aqueles programados, não deixam de ser súbitos. Você pode ensaiar quantas vezes quiser. Mas, ainda sim, sairá com a sensação de que tudo acabou “do nada”, mesmo que, mais tarde, consiga ver os reais motivos.

Apesar do Google ter resposta pra tudo e, numa busca rápida, você conseguir listas com sinais de que o fim está próximo,  na real, nada disso fará sentido. Não vai ser porque faltam elogios, sexo, conversas, declarações, ciúmes e tantas outras coisas (que costumam aparecer nessas listas) que tudo vai acabar. Pode ser que sim, pode ser que não. Pode acabar, mesmo que tenha tudo isso e mais um pouco. Pode continuar, mesmo não tendo nada disso. Na vida real não há trailer. Não há letrinhas dos créditos, avisando que acabou. Não há o clássico “The End”, imortalizado no cinema mudo. Não há uma trilha sonora pra falar que chegou ao fim. Não temos nada que simbolize o final das coisas. Elas simplesmente acabam – às vezes, da mesma forma que começam.

Por muito tempo, eu esperei sinais para começar e terminar as coisas. Esperei os avisos que o universo dá quando é provocado. É baboseira. É em vão. Não existem sinais, avisos, ou qualquer outra comunicação. A vida acontece no piscar de olhos. Sim, ela verdadeiramente acontece entre o começo que a gente não espera e o fim que a gente não sabe.

#DQ82 #Espalheamorporaí <3

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Desculpe se amo você | #DQ81

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Trilha: 

Desde o começo, você pôs as cartas na mesa. Deixou claro que o que a gente tinha era muito, porém não o suficiente pra arriscar a amizade e desafiar o status quo. Eu nunca liguei muito pra rótulos e definições. Sempre fui dessas que têm certa predileção pela essência sobre a forma. Já você? Bem… Você tem esse jeito insuportavelmente organizado, seletivo e lógico. É irritante olhar os limites que põe nas coisas – e mais ainda esses que impõem aos sentimentos. Parece que tudo, absolutamente tudo, precisa estar nos trilhos. Eu sei que você planeja cada detalhe minuciosamente. E acredita que o acaso não passa de uma desculpa que os preguiçosos usam para tentar se explicar.

Eu preciso ser honesta com você. Tudo começou com um capricho. Era pra ser só uma forma de convidar você pra olhar a estrada além do que se vê, ou, pelo menos, pra dar um volta fora dos trilhos. Era pra ser só um dia qualquer, desses que a gente faz qualquer coisa que mude a rotina. Você sabe, eu nunca acreditei que a vida é uma estrada em linha reta. Mas, dessa vez, eu fui traída pela minha própria cilada. Eu, que queria tirar você dos trilhos, agora me vejo ganhando velocidade. E, perdida dentro de minha própria loucura, eu sigo em sua direção. Sem freio, sem airbag. Eu sinto que não tenho segurança. Queria eu poder voltar ao início. E não agir por capricho, nem não me lançar nessa cilada. Eu devia me manter quieta e deixar você seguir em linha reta. Mas foi inevitável.

Eu sei que você vai pensar que não faz sentido. E, até pra mim, é estranho. Sentir um sentimento brotar instantaneamente na gente e, no segundo seguinte, ele já não caber mais no coração? Ainda mais quando, depois de uma semana, ele exala pelos poros, deixando febril o corpo? Parece doença ou seria amor? Deve ser um ataque, e desses fulminantes. Desculpe se eu vou parecer uma louca, por acreditar em amores assim. Desculpe se, pro meu coração, tempo é um mero detalhe. Desculpe se não respeito seus limites, sua seleção, sua lógica. Mas é que a ideia de ter você ao meu lado parece tão certa, que o que não faz sentido é justamente não convencer você a me amar. Desculpe se o que eu sinto não é semente. E não precisa regar, podar e, muito menos, esperar. Desculpe se não consigo me calar. Desculpe se o que tenho veio pronto, barulhento e frondoso. É que eu só sei ser grande. Eu não sei ser semente. Eu nunca fui muda.

 

#DQ81 #Espalheamorporaí <3

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Eu vou me desfazer de você | #DQ80

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Trilha: 

A verdade é que eu construí você com todos os superpoderes que eu queria que você tivesse. Eu o coloquei na estante, na cabeceira e, por último, pus você em mim. Eu tinha tanto de você que, às vezes, não me reconhecia no espelho. Já tinha trocado meus gostos pelos seus gostos, meu penteado, minhas roupas, meus lugares, meu time. E, quando dei por mim, então, você já tinha pedido, ainda que tacitamente, minha vida. Mas isso… Isso é demais pra que eu possa dar.

Os muros que eu ergui para proteger o nosso amor, hoje, me encasulam e sufocam. Eu sempre fui dessas que acreditam que amor é difícil e que é preciso lutar contra tudo e contra todos. Pobre de mim. Talvez a ideia do romance de Romeu e Julieta ainda tenha muitas vidas dentro de nós, românticas incuráveis. Parece que, pra ser amor de verdade, a gente deve desafiar as leis da Física e da Lógica. E, em alguns casos, até divina. Eu briguei com o mundo, por nós dois. Briguei até comigo mesma quando, em surtos de sanidade, eu pensei em desistir. Uma voz, ou algoz -vai saber – sussurrava que desistir é ser fraca, e que quem o faz não está à altura de um grande amor. Eu queria um grande amor. E, assim, precisava engolir sapos e ser forte. Então, eu respirava fundo e fingia que tudo se resolveria como em um passe de mágica. Ledo engano.

E nesse ciclo de recomeços e centenas de segundas chances, eu comecei a  desconstruir você. Os muitos abalos, finalmente, o embalavam para longe da minha vida. E, aos poucos, a gente já não dançava a mesma música. Não frequentávamos os mesmos lugares, não torcíamos pro mesmo lado, ou melhor, sequer estávamos do mesmo lado. Eu me refiz dos meus CDs, dos meus livros favoritos e me descobri, entre os escombros de nossa relação, que, a cada impacto, cada pilar derrubado, era uma chance de me refazer mais um pouco. Você não se deu conta, claro. E faz questão de dizer que eu mudei bruscamente. Eu realmente mudei, porque eu sinto que não voltei a ser quem eu sou. Entre as ruínas que você deixou, eu me reergui, aprendendo que os impactos que fazem cair podem ser os impulsos que nos farão voar. Assim, eu me desfiz de nós pra ter a chance de refazer a mim.

 

#DQ80 #Espalheamorporaí <3

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Sobre términos que deram certo | #DQ79

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Trilha: 

 

Eu parei um pouco agora, pra pensar naquilo que você me falou de que “alguns infinitos são maiores que outros”. Eu me eternizei em você, mesmo que hoje more em outra casa, beije outra boca e tenha outros sonhos. Você se eternizou em mim. Mesmo que hoje tenha um novo amor, uma nova vida, uma nova história. Sim, fomos, durante algum espaço de tempo, o que chamam de casal perfeito. Desses que se fundem num campo harmônico e fazem uma canção de fluxo, rima e ritmo perfeitos. A gente, que mal sabia cuidar da gente, passou a se abnegar em prol de um sorriso fora de hora. A gastar tempo pensando em surpresas e a inventar fugas da realidade para um mundo que era só nosso. O tempo nos ensinou a pensar mais antes de agir – É que, algumas vezes, a razão tem (sim) que se sobrepor à emoção. 

Eu tenho certeza de que algumas pessoas são usadas como passagem. Por favor, não leia isso no sentido de fugacidade. Entenda essa passagem como evolução. Porque, hoje, estamos felizes.  Estamos bem. Mesmo que nossa felicidade não seja como de outrora, que, para se estar feliz, era apenas preciso ter um ao outro. De um jeito incomum, porém não menos dramático, a gente aprendeu que o amor nem sempre vence. E que nem sempre ele é capaz de segurar tudo e aniquilar o destino. Nem sempre o amor consegue ficar –  mesmo que a regra seja que ele fique. A gente aprendeu que amor pode mudar, se mudar e nos mudar. A gente aprendeu que não precisa odiar, rasgar memórias e extirpar lembranças. Alguns amores valem a pena guardar dentro da gente. Você continua tendo vida dentro de mim, dentro de nossas lembranças e momentos secretos.

Às vezes, parece que conversamos quase que telepaticamente. Isso – nem de longe – significa que ainda queiramos um ao outro. Apenas que aprendemos o que a maioria dos casais negligencia: saber a hora certa de acabar. Sim. Se há tempo certo pra começar, não haveria um tempo certo para acabar? Nem toda relação é eterna, mas, como já dizia o poetinha, “que seja eterno, enquanto dure”. Não esticamos o fio que nos atava a ponto de parti-lo. Tampouco não criamos prorrogações sádicas quando o fim do jogo pareceu evidente. Não escondemos a sujeira debaixo do tapete e nem nos escondemos no conforto de uma relação preguiçosa. Não foi fácil, eu sei. Mas foi graças a isso que a gente continua, até hoje, dando certo.

 

#DQ79 #espalheamorporaí <3

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Você é um clichê necessário | #DQ 78

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Trilha: 

Eu já havia cansado de ver promessas impossíveis de amores eternos estamparem fotos e vídeos toscos nas redes sociais. Eu já havia perdido o fascínio por cenas românticas, cartinhas, flores e serenata de amor. Já não mais havia tesão na ligação demorada madrugada adentro. Eu já sentia que tudo isso era bobagem e não seria preciso nada disso pra ser feliz. Eu havia desistido de viver o lado bobo do amor, em troca de um sentimento maduro, retilíneo e racional. Quando, enfim, eu me senti inabitável, infértil, cético e incapaz de enxergar com o coração: você apareceu.

E apareceu do nada, me trazendo tudo aquilo que eu havia deixado de acreditar. Você é como uma piada sarcástica que o destino usou para zombar desse tal amadurecimento, que a gente passa a acreditar depois de colecionar despedidas.
Você não é um sonho: você é o despertar. Desses que me acordam de um pesadelo, que é deixar a leveza do amar ser tomada pela apatia das relações genéricas, conclusivas e exatas. Eu quero viver esse delírio delicioso que é acreditar em que você e eu teremos a sorte de não sermos passageiros. E se for passageiro, eu pego carona nessa viagem pra onde haja vida, você e os tais clichês frívolos- mas tão necessários. Vou pra onde haja emoção e sentimentos saltando pelos poros, como se não coubessem mais em mim. Vou pra onde haja calor. Pra onde eu busque, anelante, teu ar ofegante, transpirando cada instante, tão efêmero e tão constante, que não parece mais haver adiante. Pois é sempre fim. É sempre agora. É sempre já.

Há aqueles que hão de me cobrar a razão, a sensatez, a racionalidade que eu fiz questão de bradar, antes de conhecer você.
Desculpem minha apostasia, meu desagrado, mas estou rendido a sentir demais. Predestinado a ser inquietude. Inconveniente. Refém de alguma falha genética, rearranjo cromossômico, ou simplesmente desalinho sentimental. Esses esperam minha cabeça à mesa, apostando que, mais uma vez, hei de cair em frustração. Se for assim, dou-lhes isso mesmo antes de sucumbir. Afinal, não preciso da cabeça, se o que sinto é com alma, víscera e coração.

 

#DQ78 #espalheamorporaí <3

 

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Quem sabe outra hora? | #DQ 77

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Trilha: 

“Hoje, não!” (Vou colocar exclamação, mesmo detestando isso). Mas é que hoje, não! Hoje não dá mais.
Você já não tem a mesma leveza e amor pela vida. A gente cumpre protocolos e segue levando uma rotina, em que se estar feliz é apenas não brigar por coisas vazias. A gente sempre foi mais que isso, ou, pelo menos, eu sempre achei que fosse. Eu sinto saudades de você, de como a gente sabia se encaixar até nas situações mais embaraçosas. Sinto saudades de como você tinha cuidado em viver cada instante de nossos momentos. Sinto saudades de aguardar você vir pra casa, com o relógio em mãos, pra acompanhar a hora e me martirizar por ele ser tão cruel em demorar a passar. Eu sinto saudades do medo de perdê-la. Do medo de você conhecer outro cara, ou de me olhar, como o resto do mundo me olha, e ver que eu não passo de um romântico sonhador. Eu sinto saudades desses detalhes que fazem a gente querer estar sempre perto. Sinto saudades desses exageros e pretextos criados, só para ficarmos juntos e fingirmos que estávamos respeitando o limite de espaço um do outro.

Eu, que já tinha me esquecido de como é não gostar e não pensar em você, agora me pego tentado a me convencer de que nosso tempo não passou. E de que nossa música não cessou e de que ainda podemos continuar a dançar num loop infinito.
Ah, menina! Se, ao menos, eu pudesse me trair e fingir que isso tudo que eu sinto não é nada… Mas, você sabe, meu bem. Eu sempre sinto as coisas de forma intensa e exagerada. É como eu sempre digo: “Se o amor chegou por acaso, ele deveria permanecer de propósito”. Porque, no fundo, a gente não é obrigado a absolutamente nada. Somos nós, na verdade, quem decide se vai ou não continuar.

Hoje eu deixo você. Parece um parto precoce, mas o que eu tô tentando é deixar saudade. Quem sabe, o tempo não a transforme em motivo pra voltar, para, um dia, a gente ter a chance de se encontrar novamente? Num outro momento, num outro encaixe, de um novo jeito? Então, eu estou indo, antes que não sobrem nem expectativas de, num futuro próximo, a gente se esbarrar e reinventar uma maneira de voltar. É loucura, eu sei, essa história de terminar, pensando em voltar. Mas, eu estou trocando a certeza de um fim evidente pela possibilidade de ter você novamente. Dessa vez, não mais pra momentos, mas (quem sabe?), pra sempre.

 

#DQ77 #espalheamorporaí <3

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Dê um tempo ao seu coração | #DQ76

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Após uma grande queda, se tem um forte impacto. Eu já sei: você pensou que iria começar esse texto falando sobre você se reerguer e usar alguma frase do tipo: “quem cai sete, levanta oito”, né?

A verdade é que ninguém se levanta imediatamente. Precisamos sentir a queda, sofrer o impacto para, aí sim, decidir qual a hora de levantar. E isso não seria diferente nos relacionamentos. Você pode até não sair por aí, pegando geral. Mas, uma hora ou outra, você ficará tentado a fazer isso. Quando falta qualidade, se compensa na quantidade. Porque você experimenta várias roupas pra saber qual melhor veste você, não é mesmo? Daí, vamos do varejo para o atacado. Fazemos do outro, consumo. E de nós mesmos, mercadoria.  Percorremos as sessões abarrotadas de opções. Baixamos os aplicativos que aproximam as pessoas por preferência e que promovem uma seleção algorítmica, no que você deve ou não gostar. Como um passe de mágica, ou melhor, com um triscar de teclar, temos, diante do nosso vazio, um turbilhão de perfis compatíveis, classificados de acordo com nossas necessidades.

Deve ser por isso que incutimos, de forma quase robótica, a necessidade de ter um relacionamento perfeito. Nada contra quem se vale da tecnologia pra conhecer novas pessoas. Mas confesso que sou da moda antiga. Desses que vão preferir uma dose de acaso, com os dedos cruzados, um encontro às cegas, pra descobrir se ela gosta das mesmas séries, das mesmas bandas ou da mesma comida. E se não, que novidade vai trazer? É bom sentir a tensão que se faz por trás das cortinas do primeiro encontro. É que nele sempre rola uma espécie de show de Truman. As pessoas vestem não só as melhores roupas. Vestem sorriso, vestem alegria. Algumas até vestem uma personagem – não por maldade, mas, talvez, só pra poder se encaixar nos tais “algoritmos”.

 

Depois das primeiras frustrações, que, muitas vezes, impedem casais promissores de dar o primeiro passo, caímos em contradição, e aí começa toda confusão. Todos falam ao mesmo tempo. Você fala quem pensava que ela fosse, quem ela é e quem ela acha que é. E vice versa. E a conversa, que era pra ser a dois, fica a seis. E aí “cês” já imaginam o fim da história! Casais promissores se perdem antes mesmo de se encontrarem. Tornam -se dessincronizados pela pressa, desarmônicos pela simetria, que só Deus sabe que existe. “Ele não é vegetariano”, “ela não gosta de futebol”, “ele acredita no socialismo”, “ela é isso, aquilo…” Mal sabem que são essas diferenças todas que os livrarão da monotonia, que é conviver com o espelho. E essa é a história dos romances não vividos. Dos amores que sucumbiram antes de serem erguidos. Histórias ímpares de casais que se apartaram, antes mesmo de virarem par.

 

#DQ76 #espalheamorporaí <3

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O quanto eu gosto de você | #DQ75

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Trilha: 

Sabe? Já faz um tempo que eu fiquei com a mania de olhar você em silêncio, com um olhar que a envergonha e se esconde em meu abraço. Faz tempo que eu viajo pra dentro de você nesses segundos, enquanto a olho. Já faz tempo que eu procuro um lugar melhor pra repousar meu olhar. Você sabe: eu não gosto desse sentimento de dependência. Estar com você, em você, olhando pra você é estar bem. E estar bem é estar em casa. Eu poderia dizer que me perco em seu olhar. Porque, no fundo, é o que todo mundo diz quando se está irremediavelmente apaixonado. A gente perde o juízo, o fôlego, a noção. Mas a verdade é que eu não estou nenhum pouco perdido. É completamente o contrário. Estou convencido de que, pela primeira vez na vida, eu me encontrei.

E eu me encontrei dentro de um olhar, que, de mistério, não tem nada. Eu sei que seria mais bonito e poético dizer que seu olhar é mistério. Mas seu olhar é claro, transparente e sem nenhum enigma. Não há o que descobrir e, por incrível que pareça, isso não é nada entediante. Eu sei que a maioria de nós sempre espera um amor criptografado, com tons de cinza e camadas de mistério. O ser humano possui certa paixão platônica pelo desconhecido. Eu sei, eu também era assim. Isso tudo é verdade até chegar uma época da vida, em que a gente perde toda essa excitação pelos códigos e jogos de sedução, que algumas relações podem nos oferecer. Chega uma época da vida em que a gente quer mesmo é marasmo, conchinhas, pipoca, meias, brigadeiro de panela e até filme repetido da Sessão da tarde.  A gente troca qualquer perfume por aquela camisa velha com cheiro de suor. Cá entre nós, que perfume consegue superar o calor do amor?

Eu não sei o quanto eu gosto de você, mas sei que é um pouco além da linha que existe da autoproteção. Eu gosto mesmo de olhar você, menina. Gosto de olhar no fundo dos seus olhos, a esperança de um futuro bom, um lugar tranquilo e algumas coisas bagunçadas, tipo uma sala com marcas de tinta, feita por mãos pequenas. Tipo uma montanha, desbravada por um pequeno aventureiro, que possui um olhar tão tenro quanto o seu. Tipo umas cobertas jogadas ao chão, que testemunham o quanto pode ser boa uma rotina de amor.

#espalheamorporaí <3 #DQ75

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E se você fosse música? | #DQ74

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Eu, hoje, acordei querendo encaixar você em algo que existe. Não pra limitá-la – eu sei que você abomina as formas, afinal, sua alma é livre. Mas pra entender se você realmente existe. Entender se, por alguns momentos, eu deixo de ver você e passo a criá-la e imaginá-la numa rima perfeita, harmônica e equalizada. Eu miro você em espectro de perfeição. Eu a pus em versos de poesias e descobri que nem a rima rica se compararia ao seu valor. Eu a pus em notas de violão e percebi que não existe tom que alcance a voz do meu sentimento. Eu a pus em quadros, pintando, a sete cores, algo que pudesse imprimi-la em tela. Em vão. Falta cor, sobra tinta. Há um arco-íris de adjetivos em cada gesto que você faz. Há uma aquarela de sentimentos, que não há coisa no mundo que dissolva. Nem mesmo em pinturas abstratas ou impressionistas, eu conseguiria imprimi-la, porque nos faltaria emoção, cor e, principalmente, esses detalhes gigantescos que a fazem ser única.

 

Eu não encaixei você em nada – mesmo que eu sempre veja você em tudo. Meu amor, você é um mundo! E que vasto mundo! Você é aurora que desperta minha alma escura. Você é um rio encantado que flui cura, para um ser entorpecido de fugacidade. E esse poder inaudito não me assombra. Do contrário, estou impávido, mesmo vendo brotar de um corpo seco e árido um sorriso perdulário. E desse coração infértil nasce um novo amor, uma nova vida.

 

Eu sigo bestializado pelos seus encantos, como criança, que se perde no parque de diversões. Há mulheres que nos fazem homens. Há outras que nos fazem menino. Eu, que sempre fui amigo da razão, maturidade e sapiência, me pego a exigir de você mimos e colo, como se tivesse tomado por carência? É… há aquelas que nos arrebatam, nos deixam tolos. Que mais faz um homem crescido, fazer manha, birra e até bico, do que esses amores? Que papel bizarro! Pra quem caçoava dos amores rasgados, eu estou em completo desalinho. (E não me envergonho ainda de dizer que faço das tripas, coração, só pra ganhar alguns mais carinhos!) Que lógica ou poesia explicaria isso? É que alguns sentimentos não estão no papel, muito menos nos livros. Estão guardados em nós. Enraizados nos traços mais primitivos. Traços esses que nos rebaixam a racionalidade, mas nos fazem muito mais felizes e vivos. Talvez você seja música. Talvez você seja rima. Talvez você seja a oitava arte que o mundo tanto espera pra deixar de ser ímpar.

 

#DQ74 #espalheamorporaí <3

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ESSE TAL “VIVER EM PAZ”. | #DQ73

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Trilha: 

https://www.youtube.com/watch?v=RCemstzfNak

Quando eu pensava em um lugar para ficar em paz, imaginava que o único barulho seria o canto dos passarinhos, ou o marulho das ondas que, valseando com os ventos, me embalariam para um silêncio aconchegante. Pensei que em todos os dias haveria um céu ensolarado, que refletiria o mar e que minha única preocupação seria em brincar de desenhar em nuvens, formas e curvas aleatórias. Pensei que estar em paz seria um recôncavo de tranquilidade, em que os dias passariam sem ter com que me preocupar com o amanhã. Ou ainda, um lugar onde o ar fosse tão puro, que eu poderia até sentir quando adentrasse nos pulmões. Parece que paz é o fim. Parece que paz não combina com essa vida agitada, aqui na Terra. É muita gente sem vida, vivendo para lá e para cá, sem saber bem o porquê disso. Gente que não vive, apenas existe. Eu sempre associei a imagem de paz ao Éden. Mas, às vezes, Deus prepara um paraíso diferente, porém não menos especial.

Em meio a um deserto de opções, eu achei um oásis. Achei um paraíso que redefiniu todos os conceitos de paz, ou pensando bem, me mostrou o que, de fato, é estar em paz. Ele me olhou com aqueles olhos penetrantes e conversou com minha alma. Parece que eles se entenderam de cara. Por falar em cara, eu me sinto aterrorizada – Que paz é essa que você vende nesse sorriso, menino? Eu não ouço os ventos, nem marulho. Na verdade, eu só ouço as batidas do meu coração, que pululam em ritmo mais frenético do que de uma bateria de escola de samba. É um barulho aconchegante, uma mistura de prazer e agonia. É uma paz com vários tons e camadas de desassossego, que não traz só segurança, traz também um pouco de medo. Medo dessa paz partir e de trazer o frio que se instala na minha barriga, também no meu coração, podendo deixá-lo gelado e sem vida.

Se você é paz, amor, paraíso, eu já nem quero mais saber. Só não quero que você seja passageiro, que seja meu por inteiro, até o dia que o pra sempre tiver de acabar. Quero que instaure essa paz agitada, fazendo do amanhã uma certeza imprevisível. Eu quero essa bagunça que você sabe fazer como ninguém. Quero essa sensação de estar na iminência de um infarto, de tentar respirar fundo e parecer que falta ar. Porque, afinal, sem você não tem ar, graça e nem paz. Eu quero essa paz que você traz, cada vez que você chega.

 

Página 135 do nosso primeiro livro. Gostou? Então, as vendas do segundo lote voltam na próxima semana. E você, que é de São Luís (MA), pode confirmar sua presença clicando aqui no evento e garantir seu exemplar autografado com um preço especial!

 

#DQ73 #espalheamorporaí

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