Carta aos trouxas | #DQ92

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Não, você não leu errado. Essa é uma carta, ou melhor, um manifesto em favor dos trouxas. Porque o mundo está abarrotado de espertos. De pessoas que precisam tirar vantagem de tudo. De um individualismo estúpido, como se precisássemos de muita coisa pra ser feliz. Gente que liga no outro dia só pra parecer difícil. Gente que promete o mundo. Que constrói planos e decide a cor da parede do quarto e, na hora de se mudar, manda uma mensagem dizendo que: “não está a fim, ou não está pronto”. O mundo não precisa das pessoas que apelam para o “jeitinho”. Nem daquelas que param na blitz e perguntam: “O que a gente pode fazer pra se ajudar?”. O mundo não precisa dos cristãos que, ao ver erros, apedrejem o réu. O mundo precisa de menos juízes e mais advogados. Não desses que são coniventes com os erros, fazem vista grossa e empurram a sujeira pra debaixo do tapete. Precisamos de quem ofereça, junto ao perdão, uma nova chance. Algo como: “vai e não peques mais”. Entende?

O mundo precisa de trouxas. Esses que são traídos e não fazem um escândalo como forma de vingança. Não agridem de volta e, quiçá, com força duplicada. Sim. Precisamos de trouxas que, ao receberem o troco maior, não consideram isso um dia de sorte. (Até seria, em tempos de crise!). Mas, nesse caso, a minha sorte é o azar alheio. Então, qual sorte tem nisso? O mundo precisa de trouxas que não furam a fila, que pagam suas contas, sem usar de artifícios ilícitos. Eles têm um cartão de verdade na conta do Netflix, mesmo sabendo que alguns programas conseguem gerar uma conta fake e você consegue assistir “de boas”. Trouxas, que guardam o “eu te amo” pra uma ocasião especial e não dizem somente por dizer ou porque querem iludir a outra pessoa. Trouxas, que detestam futebol, mas vão ao estádio só porque o outro sente um prazer absurdo em ficar gritando por uns caras que nem sabem que ele existe. Trouxas, que escolhem um animal de estimação não, pela raça e sim, com o coração. Trouxas, que não bebem para serem socialmente aceitos. Trouxas usam coisas e não, pessoas. Apegam-se, sim. E, se sentirem vontade, se apegam outra vez. Trouxas escrevem cartas apaixonadas e não se preocupam em parecerem apaixonados demais. A única preocupação é o tamanho do sorriso que o outro dará.

 

#DQ92 #espalheamorporaí <3

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Leia antes de partir | #DQ91

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Um-Dia

Trilha: 

Você não precisa estar aqui até o sol amanhecer. Você não precisa ser hipnotizado pelas voltas e tic-tacs intermitentes do relógio. Quem diria que a hora, um dia, não passaria? Quem diria que ela, que tanto foi pressa, hoje, apenas nos depressa por sua vagarosidade em não passar? Você não precisa fingir sono, quando faltar assunto, ou qualquer outro problema aleatório. Você pode sair, pegar o punhado de vida que lhe sobrou, por no bolso daquela calça jeans e partir. Mas parta sabendo que partir é uma passagem só de ida. Pois a parte que se deixa na partida, nunca parte, é partida. Quebra amiúde, retalhos, alude, frangalhos.

Você pode deixar de ser minha metade, meio, passagem. Pode voltar a ser caminho, mesmo que agora, sem volta. Você vai. E vai tirar o colorido de um colibri, pois um amor quando desbota é como um rio de poesia efluente, que desemboca num leito decadente. Mas, antes, segure minha mão, me abrace forte e não solte.

Ponha aquela música que me faz lembrar algum filme do Carlito, do tempo em que o mundo ria de um espetáculo sem cor, sem som. Ponha qualquer verso mesmo fora do tom. Ponha um poema de Vinícius, aquele que fala de fidelidade, que tem tom de esperança e vai. Vá amanhã de manhã, antes que eu desperte. Deixe-me pela última vez dormir ao seu lado. Finja que não passou, que não está farto.

Vá. Fique. Ou melhor, vá ficando, até ficar sem ter que ir ou até ir querendo voltar. Anda. Pinte um sorriso forçado, tipo aquele da Monalisa e me deixe um mistério – qualquer enigma. Eu preciso me distrair com alguma incerteza, depois que você passar pela porta. Eu preciso de dúvidas que me convençam a não trocar a fechadura. Faça isso por mim: não leve tudo agora. Deixe algum muda de roupa pra – quem sabe uma hora? – você querer voltar. Deixe uma escova de esperança, uma camisa de saudade, qualquer coisa que o faça lembrar que, mesmo que doída, há sempre volta, em toda partida.

#DQ91 #espalheamorporaí <3

 

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Mas, amor, eu tenho pressa | #DQ90

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Se vingança é um prato que se come frio, amor só se serve quente. Acho absolutamente sensata a prudência que o passar dos anos tende a nos trazer. O problema é que quem muito quer sempre tem pressa. E, olha, eu não vou negar: te quero tanto que te quero muito. Eu te quero sempre. Eu te quero agora.

Quem acha que sentimentos usam relógios, passaram da hora. Não existe sincronia com o futuro, tudo é agora. O futuro é um espelho que reflete tudo -menos o amanhã. Amor não é um acrônimo para amortização, que se paga em parcelas para abater uma dívida. Amor é tudo que há, desde o átimo do primeiro beijo até a ultima troca de olhar.

Pro tanto que te quero, perto não é – nem nunca será – suficiente. E te ter por algumas horas, não basta. Talvez, pra você, parece loucura ter esse sentimento sempre urgente. Eu sei que você prefere que eu valse em ritmo sereno ou que, pelo menos, eu não seja esse frevo que não cessa. Mas que posso fazer se sou saudade depressa? Tão urgente que depressa. Encolhe o peito, expande a alma e ao caos me regressa. Eu sempre sofri por antecipação. Eu sinto doer antes do impacto. Eu já vou ao chão machucada. Essa pressa em te ter deve ser minha alma querendo compensar o tempo que cheguei a pensar que tu eras fatídico, fábula, falha, que tu não existias. Acredita. Em dado momento, eu ouvi os conselhos de não ser pressa. Tentei ser menos urgente, mais calma, mais paciente. Passei a castrar meus impulsos e respirar bem fundo. Passei a amar comedida e com razão, até descobrir que não tinha a menor vocação para os sentimentos que não fossem febris. Os que me alertavam eram descrentes em pensar que amar não serve frio: só se serve quente. Como posso respeitar esse delinquentes? Como posso ser prudência se te amar me faz indecente?

#DQ90 #espalheamorporaí

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Sepultamento de uma (ex)romântica |DQ89

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O amor me ensinou a morrer. Foi quando, de saudade em saudade, eu passei a não mais conseguir sentir falta das histórias , dos beijos, das promessas e, principalmente, das pessoas. Eu já fui muito sentimental, sabe? Quando digo isso, quero que entenda como se eu fosse uma receita com apenas um ingrediente: coração. Eu sempre fui tomada pelas minhas emoções, cativa dos meus desejos e refém das paixões efêmeras que a vida parecia fazer questão de me propor. Eu acreditava que é preciso colecionar quedas para finalmente vir alguém que levante e carregue. Porém, chega um tempo na vida em que a gente perde a tesão que o perigo nos oferece. A adrenalina perde toda graça. O medo é substituído pela prudência. E a gente quer menos emoção, menos sentimento e mais realidade. Nessa hora, eu senti tocar a marcha fúnebre, uma valsa lenta e nenhum flor. Passava meu corpo, sem nenhum cortejo. Ninguém me viu. Ninguém chorou. Morria ali uma menina romântica.

O laudo da perícia apontava vários traumas antigos. Também, desde a infância , eu passava horas escrevendo cartinhas e colorindo corações para eles serem amassados e transformados em bola, na hora do recreio. É um exemplo tosco, mas, já adulta, entendi o quão significativa era aquela situação. Nada mudou. Eu apenas troquei as cartas por scrap, depois por sms e, mais tarde, por whats. Continuava imprimindo meu coração como único e suficiente conteúdo. Deu tão certo quanto a estratégia do general Crasso, que, talvez, não teria tido tal fama se o mundo conhecesse minha história.  A questão é que chutaram meu coração na infância. Ignoraram meu scrap na adolescência e printaram minhas emoções na fase adulta. Isso que me fez querer a morte mais que o amor – se é que ele realmente existe.

Assim, escrevo minha última carta, em tom de epitáfio. Eu não teria uma forma mais clichê e menos dramática de encarar a morte. Eu quis o perigo. Eu quis a loucura. Eu quis um amor sem dimensões. E tudo que eu consegui foi um coração vazio, ecoando solidão. Aqui jaz um coração.

Em suma: sumiu.

#DQ89 #espalheamorporaí <3

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Ela é dom |DQ88

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Trilha: 

Ela tem a coragem que eu preciso com a paciência que eu queria. Ela tem uma gargalhada que traz paz e tem som de alegria. Ela tem a leveza de um abraço, com a sutileza de um beijo na testa. Ela sequer precisa de motivo pra fazer o que lhe interessa. Ela é mais que beleza. Ela é carinho, suor e amasso. Mas não se engane, se faz birra, pra tirar…é cansaço.

Ela é andarilha e também abrigo. Tem um pouco de mãe, de amante e, claro: um ombro amigo. Ela é o fim da procura até na partida. Ela não é daquelas que ganhamos, mas que conquistamos. Ela, que faz um coque com uma mão e com a outra passa batom, vai perder a destreza vez por mês por meias e um chocolate Kibom.

Ela, que sempre levanta primeiro, pinta as unhas, salva o mundo e ainda arruma o cabelo.  Ela tem o dom de ser diferente e de nunca amar pela metade. Sempre se dá por inteiro, pois no amor não existe vaidade.

Ela nunca vai passar o dia esperando sua ligação, até porque se der vontade de ligar… se liga, mermão! Amor, pra ela, não é baralho ou qualquer jogo de tabuleiro. Quando começa o jogo, pode ser tudo, menos amor ou, no máximo, erro.

Existirão algumas chamadas perdidas no Whatsapp, mas isso não quer dizer que ela quer chamar sua atenção ligando tão tarde. É que ela tem essa mania de ficar olhando pra sua foto de perfil e de sorrir com velhas conversas e áudios toscos que já ouviu.

Já disseram pra ela que ser assim é desperdício, porque “homem não gosta de mulher que se dá, ele prefere quem se faz de difícil”. Ela é, por fim, daquelas que não dizem que gosta logo de cara. Mas, foram dizer isso justamente, pra ela. Ela que nunca foi regra. Ela que sempre foi contrária.

#DQ88 #espalheamorporaí 

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Antônimo de amar é sofrer |DQ87

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Trilha: 

Talvez essa seja o pior título que já pus em um texto. É que eu precisava dizer isso a você: amor e sofrimento não são sinônimos. Muito pelo contrário: é como água e óleo. São substâncias imiscíveis. Então, pare com essa mania de associar amor e sofrimento, porque não é, nunca foi e nunca será. Pra você, que lembrou que amor tem uma enorme dose de sacrifício, é isso mesmo: sacrifício. Existe uma linha – nada tênue – entre se sacrificar por algo e sofrer por alguma coisa. A diferença é simples, porém substancial. Sacrificar é uma atitude voluntária que nós fazemos para atingir um objetivo maior. É um esforço pra gerar um ganho, não necessariamente pra si. Pode ser para o outro. Já sofrer é padecer com o resultado de alguma coisa. Se, por acaso, ainda estiver em dúvida se isso é um sacrifício ou sofrimento, a dica é: se causar dor, é sofrimento e não, sacrifício.

Até um dia desses, era impossível dois corpos estarem no mesmo lugar, ao mesmo tempo, segundo uma das leis de Newton. Mas quem me garante que Newton estava falando de Física? E se ele estivesse falando justamente que amor e sofrimento não ocupam o mesmo lugar, ao mesmo tempo? É só depois que o amor se vai que o sofrimento pode entrar. Enquanto existir amor, não haverá sofrimento. Pode até não ser uma lei da Física, mas deveria ser uma lei da vida.  Você e essa mania de achar que amar é sofrer nunca chegarão a lugar algum. Ou que quanto mais se sofre e aperta o peito, mais se ama ou se está apaixonado? N-Ã-O! Absolutamente, não.

Deixe-me explicar uma coisa: você se sacrifica quando ama. E isso é uma atitude saudável, que vai gerar um amor mais completo, após esses sacrifícios. Quando você percebe que não é recíproco, deixa de se amar e, assim, o sacrifício pega a mão do amor e sai pela porta. O que sobra é dor, sofrimento. Vale ressaltar que o amor é educado. Ele não vai fazer escândalo e nem postar indireta no Facebook, dizendo que está partindo. Ele se vai silenciosamente, sem alardes ou despedidas. Daí entra o sofrimento, trazendo consigo toda a dor que ele pode carregar. Você nem se deu conta de que o amor foi embora, que você não tem mais forças para se sacrificar em prol de algo maior, que, pra falar a verdade, parece não fazer o menor sentido. Então, passa a sofrer e se ilude que o sofrimento é por amor, quando, na verdade, é justamente pela ausência dele. Se ainda tivesse amor, não haveria sofrimento. Não adianta cultivar o que já morreu e, muito menos, usar essas lágrimas pra regar aquilo que já feneceu.

#DQ87 #espalheamorporaí <3

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ANTES QUE AMAR SE TORNE UM SACO |DQ86

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Trilha: 

 

Nós nem chegamos a ser (não o que eu pensei que seríamos). É que eu sempre imaginei você um pouco menos do que eu queria e bem mais que eu esperava. Coisa de quem sente e sente bastante, sabe? A gente sempre quer muito mais e espera bem pouco. Deve ser por isso que, muitas vezes, nós, os exagerados, nos contentamos com tão pouco. Seria cômico se não fosse trágico, essa nossa permissividade a atitudes que abominamos, só para não se estar sozinho. Acho que é absolutamente normal (e até um exercício de sensatez), em algumas vezes, colocar o outro nas costas e dar alguns passos com um peso extra. Isso faz parte do “estar junto”. É o que chamam de concessões e sacrifícios. E, sinceramente, não vejo um sentimento capaz de passar por cima do individualismo nosso de cada dia que não seja o amor.

 

É bem verdade que por você eu escalaria o monte Everest a cavalinho, mas eu não posso e nem devo respirar meu amor por você. Você diz que eu sonho demais, que eu quero demais, que eu amo demais e que, por isso, sinto demais. – Mas quer saber? Na boa? Pelo menos, eu sei exatamente o que eu quero. Eu sinto mais, sofro mais e vivo mais tudo que qualquer outra pessoa. Às vezes, e na maioria delas, aquilo que eu mais quero é justamente aquilo que eu não posso ter. E dói (pra CARAMBA!). Mas doeria ainda mais não saber o que quero.

 

Lembra a última vez em que você cuidou de mim? Da última vez em que eu chorei por você? Da última vez em que a gente se desentendeu por um erro que nem era meu, mas eu resolvi procurá-la? Eu sabia que seria complicado. Se dois bicudos não se beijam, dois orgulhosos não se amam. Só que eu resolvi arriscar, mesmo que você prefira a razão ao perdão. Eu já tinha descoberto em secreto que podia viver sem isso. Afinal, era você minha maior razão. No começo foi fácil abrir mão e devo admitir que até fiquei surpreso. Não só com minha capacidade de não dar a mínima pro meu orgulho, mas com sua habilidade de se aproveitar disso. Aos poucos, foi ficando mais complicado, mesmo a gente dizendo que o amor não se conjuga com orgulho. Exagerar isso pode significar deixar de se amar, e isso já é demais. Então, eu estou indo. Antes que ficar se torne um fardo, e amar, um saco.

 

#DQ86 #Espalheamorporaí

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E se eu não quiser amar? |#DQ85

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Trilha: 

Oi, bom dia. Bom começo de tarde. Boa tarde. Bom começo de noite. Boa noite. Boa madruga… Amor, cheguei e já tô com saudades. QUEM NUNCA?

Um dia, pelo menos uma vez na vida, a gente perde a noção do tempo, do espaço, do ridículo. E nesse momento que a gente se encontra rendido, cativo e eufórico é que resolvemos olhar o verso e ver a validade daquele sentimento. Daí, vem a pergunta: só a paixão é suficiente? Porque, lá atrás, alguém, em dado momento de frustração passional, decidiu que paixão sempre passa e que o que vale mesmo é o amor. De lá pra cá, o amor engatou alguma marcha intermediária que nos fez  seguir sem parar.  Porém com um limite claro de velocidade permitida.

Qualquer pisão no acelerador é visto como um indício de imprudência. Como se o amor e paixão não pudessem rumar o mesmo destino. A paixão vai consumir todo combustível, fazer ultrapassagens perigosas, andar no contrafluxo, na contramão e colidir com algum desavisado. A paixão é catastrófica – eles disseram. Já o amor? Ah, o amor… Esse é prudente. Tudo espera. Tudo suporta. Tudo crê. Não se afoba. O amor é educado. Cavalheiro. Abre a porta. Põe o cinto, não avança o sinal e respeita qualquer sinalização. Deve ser por isso que a gente sempre vê o amor com esse quê de calmaria. Essa valsa irretocável que pulsa, com uma cadência própria, a música que lhe convém. Já a paixão é lambada, movimento, transpiração. É calor excessivo, é demasia, é perdição. Rotularam a paixão de uma forma que estar somente apaixonado, não importa. O que vale mesmo é passar o purgatório dos sentimentos e chegar ao ápice. Paixão é Karma, deve  ser superado, evoluir e transcender o Nirvana.

Se isso tudo for verdade, eu sinto muito, mas eu nunca mais amarei ninguém. Eu prefiro a falibilidade da paixão à metáfora de um amor eterno. Prefiro essa falta incessante que a paixão deixa à saciedade que o amor traz. Nada contra o amor perene, a valsa e esse quê de calmaria. Mas o que eu quero mesmo é esse embaraço harmônico. Quero esse mosaico de sentimentos e confusão de emoções que só as paixões costumam oferecer.

 

#DQ85 #espalheamorporaí <3

 

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⁠⁠A teoria da relatividade na conquista |#DQ84

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Trilha: 

Uma das ideias mais brilhantes da história é a teoria da relatividade. Einstein já dizia, em linhas gerais, que até o tempo é relativo. Ele questionou não só a ciência, mas um pilar da humanidade: a certeza de que o tempo não para. Obviamente, não temos ainda como chegar a tal velocidade, mas as evidências que ele nos mostrou em seus estudos provam que se até o tempo pode ser relativo, que dirá nossas relações afetivas?

A aceitação de uma atitude está intimamente ligada ao seu grau de reciprocidade. Se você for vítima de uma cantada barata por alguém que tenha seu perfil, isso será visto com humor. Já se for por alguém que não desperte o mínimo de interesse, em alguns casos, será encarado como assédio. Na verdade, não há uma linha moral, lógica e racional que separe, ou melhor, que enquadre, as atitudes como positivas ou negativas. Tudo isso é relativo e depende de diversos fatores individuais.

É claro que existem modelos gerais, atitudes que têm uma probabilidade de aceitação positiva maior. São os famosos “Ás” do baralho – ou coringa, como preferir. Tais atitudes, apesar de não serem absolutas, têm, em sua execução, um poder de conversão maior, por ser justamente a intersecção na maioria das variáveis que são relativas. Ao redor do relativo, tudo costuma ser absoluto.

Desconhecer o desfecho é parte da mágica do momento. Num mundo sedento por fórmulas, algoritmos e métricas, o desconhecido se torna fascinante e desafiador. Entrar a pés descalços num rio em que não se vê a profundidade, ou num campo minado, onde a próxima resposta pode determinar a continuidade no jogo ou sua explosão, é um dos mais belos mistérios que o mundo ainda pode nos oferecer. Não há oráculo no mundo capaz de prever o que pode acontecer quando duas pessoas decidem se conquistar. Não há Google, não há algoritmos. Só há o bom e velho olho no olho. Mãos geladas. Boca seca. Corações acelerados. Calor excessivo. A boa e velha conquista. É a parte analógica de um mundo quase que todo digital. É a engrenagem automática que move nossa vida, só que ainda (felizmente) de forma manual.

#DQ84 #espalheamorporaí

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Prefiro ser indecisão |#DQ83

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Trilha: 

Admitir ser indecisão é o primeiro passo para sentir menos culpa. Não levar para o campo psiquiátrico uma característica como outra qualquer é, algumas vezes, impossível. É que, para alguns, ser indecisão é patológico. Não ter uma resposta pronta para as intempéries e desafios da vida é crime – inafiançável. Para outros, é uma inação, reflexo imediato. A sociedade não está tão preparada para entender os indecisos. Por sua vez, esses incompreendidos lançam mão de suas incertezas e decidem por “voto popular” o que deveria ser feito de forma salomônica e individual. Há, nas incertezas que circundam a exatidão, tudo– menos convicção. Então, vocês que têm medo de se perder, antes mesmo de se encontrar, terão nas suas asas cortadas marcas que deformarão sua essência. E de indecisos, vocês passarão a frustrados.

Volta e meia, você se deparará com perguntas toscas do tipo: “O que você gosta de comer? De vestir? De ouvir? De ser?”. Daí, baterá aquela hesitação em responder. Porque, no fundo, nem sabe se você se reconhecerá daqui a uns dois ou três anos, de frente para o espelho. E não digo esse espelho que reflete o que todo mundo vê. Mas aquele que conseguiria ver você por dentro e por inteiro, refletindo cada incerteza que mora dentro de si mesmo. A hesitação é porque não é a primeira vez que você ouviu essas perguntas. E, numa fração de segundos, passa todo um filme de como você já respondeu a todas elas. E até de formas tão diferentes que nem parecem vir da mesma pessoa.

Você, que já quis fazer de Medicina a Teatro, que já se apaixonou por Filosofia, mas descobriu que gosta mesmo é de cálculo, é visto por todos como quem não sabe o que quer. O mundo, a família, os amigos e até aqueles que mal o conhecem lhe cobram certezas, como se o mundo fosse um conjunto harmônico e exato, em que ser ou ter dúvida é ser o próprio caos. Não, você não é caos. Você é sim uma miscigenação de sentimentos e desejos. E que mal há nisso? Você só tem tudo e mais um pouco. Um jeito exagerado em sentir e ser muito. Eu sei, eu sei. O mundo não está tão acostumado a isso e trata como diferente quem ora é amargo, ora é doce. Mal sabem eles o privilégio de ser indecisão! Mal sabem a delícia que é ser agridoce.

 

#DQ83 #espalheamorporaí <3

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