Tudo ou nada: o amor não aceita migalhas |#DQ126
Trilha:
Todos nós queremos muita coisa ao mesmo tempo. Desde pequenos, somos abarcados pela imensidão do mundo e possibilidades. O mundo nos é apresentado como um grande jogo de apostas. E, assim, todos os dias, ganhamos algumas fichas para apostar nas probabilidades da vida. Entre erros e acertos, o saldo nem sempre é positivo. E aceitar essa realidade é o que chamam de maturidade. Com ela, tendemos a ficar mais prudentes, realizamos menos apostas arriscadas e tentamos expurgar do jogo o tão temido —e não menos instigante —risco. E, assim, vamos nos permitindo trocas e apostas mais seguras. Um concurso? Uma profissão “da moda”? Ou um amor morno.Desses que levamos em banho-maria e dizem durar uma vida.
Enfim, entre trocas prudentes (ou covardes), começamos a diminuir as fichas, ou as expectativas e, por medo de falir, nós nos contentamos em tão somente não perder, ainda que sejam míseros trocados. O importante é não perder. Mas o pior dos prejuízos nem sempre é o que perdemos. Algumas vezes, doloridas vezes, eu diria, ganhar pouco é pior que não ganhar nada.
Mas e quando o pouco é pior que nada? Quando é preferível ter o saldo zerado, ou mesmo estar insolvente do que a ter uns trocados ganhos? Talvez, no mundo dos negócios, isso seja uma heresia, mas no dos relacionamentos deveria ser uma regra de ouro. A verdade é que ter ou ser de alguém somente pela metade é mais difícil que não ter. Porque quando você sentir essa coisa louca de que, mesmo quando se tem muito, ainda sim parecer pouco, você vai descobrir que, no jogo do amor, o pouco não é melhor que nada.
Talvez isso seja um devaneio de um coração amante dos sentimentos, que não lhe cabem e que é amante das grandes apostas — ou seria das paixões? — ou mesmo de um coração amante da adrenalina, que salta, feito suor, em mãos gélidas, que se entrelaçam no primeiro encontro. Ou das pupilas dilatadas e daquela disritmia acelerada, que somente as paixões conseguem nos dar. Mas, sobretudo, pode ser apenas mais um devaneio de um coração que é amante dos riscos que, cá entre nós, são tão necessários quanto precisos. Pra gente sentir muito. Pra gente seguir vivo.