Eu vi uma estrela cadente| DQ 147

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Trilha:

Porta do elevador abre. Estou com fones de ouvido, curtindo a minha música preferida. Ela, de cabeça baixa, entra, teclando no celular. O cheiro do seu perfume invade aquele lugar. Fecho os olhos e tiro os fones, tentando gravar cada segundo daquele momento. Afinal, todo mundo vai perguntar como foi que a gente se conheceu, e eu preciso dar todos esses detalhes. Ela aperta o 17º andar, estamos no 3º. Tenho exatamente 14 andares, para convencê-la de que praia é melhor que shopping centers e que ela nunca deve trocar seus óculos por lentes de contato. O elevador para no 4º andar, mas ninguém entra. Se isso acontecer nos próximos 13 andares, quem sabe a gente não chegue ao 17º já casados?
Num olhar dissecador, eu percebo uma tatuagem com alguma frase em inglês. Seria ótimo se eu soubesse traduzir. Maldita globalização! Alguma frase com Star, mas Star é estrela. Lembrei-me daquele filme “Guerra nas estrelas”. Pergunto se ela é fã de Star Wars. Assim. De primeira. Sem nenhum contexto. A pergunta salta da minha boca, como se isso fosse um “oi, bom dia”. Ela estranha, obviamente, mas responde que nunca viu e pergunta por que eu perguntei aquilo do nada. Eu poderia ser sincero, admitir minha ignorância em inglês, ou dizer que eu estou apaixonado pelo contraste daqueles olhos mareados num rosto feliz, mas ela me acharia um idiota.
Digo que… 11º andar. A porta abre. Alguém corre em direção e pede pra segurar a porta. Num reflexo, eu aperto pra fechar. Preciso de uma desculpa. Rápido! Pensa! pensa!
Digo: “Estou com pressa, acho que ela ia descer”. Ela vira a cara, como se eu fosse membro de algum grupo neonazista. Faltam 5 andares, uns 30 segundos, se eu estiver com sorte. Agora é tudo ou nada.
– Desculpa, meu nome é Carlos. Eu me esqueci de me apresentar. Qual o seu?
– Hum… O meu é Estrela.

Porra, a tatuagem! Era óbvio que o nome dela era Estrela.

– Ah, por isso tem a tatuagem com o teu nome?
– Não, que idiota faria a tatuagem com o próprio nome? Essa é a letra de uma música que eu amo.
– Sério? Qual a música? (e eu lembrando Star Wars)
– All Of The Stars, do Ed.
– Não sou muito bom com inglês.
– É que o refrão diz: “Saw a shooting star and thought of you”.

17º andar. Meu andar chegou.

– Ei, mas o que significa?- pergunto.

Ela anota algo num papel e joga pra mim. O verso dele tem o número de um telefone, que, se Deus ouvir minhas preces, será o dela.
Fecho os olhos novamente. Faço um pedido. Dizem que dá sorte ver uma estrela cadente.

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O fantástico mundo da solidão acompanhada – DQ146

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Trilha: 

 

Casal jantando, risos individualizados numa mesa redonda de pouco mais de um metro, mas a distância entre eles não é tão curta quanto parece. Do outro lado, um homem toma um café numa caneca rasa e esboça uns risos espásticos. Por volta de todo lugar, as pessoas viajam em seus touch screens e aplicativos, tentando trazer quem está longe pra perto. Será? O mundo gira e, tal como o tempo, parece condenado à continuidade perene da eternidade.

Nós entramos nesse carrossel que nunca para de girar. E o que é pior: num único sentido. É pra lá, pro futuro, que o mundo segue, e a gente segue junto. Junto? Será? Será se a gente tem mesmo companhia? Ou será se estar junto não é mera coincidência conveniente? Sei lá, vai que a pessoa que nos acompanha está ali por carona, ou vai que sou eu quem está pegando carona no carrossel alheio e perdi, por medo, a hora de parar. Parar? Ele não para. Gira, gira e gira. É, eu acho que já passei aqui antes – Déjà vu, ou seria rotina? Carona arriscada essa que, às vezes, a gente pega na vida do outro. É carona ou viagem suicida? Afinal, isso sim é de matar: ser passageiro do destino e vagar sem rumo, por puro medo de ficar sozinho.

Lá no fantástico mundo da solidão acompanhada, a gente se engana que está junto, mesmo que, no fundo de nossa companhia, a gente não saiba nada. São esses casais de risos individualizados, abastecidos por uma conexão, tão remota quanto o Wifi, que fazem o fenômeno sobrenatural de uma solidão acompanhada. É essa vida, eternamente conectada ao virtual e plugada no efêmero. É o fugaz espelhismo, que nos faz pares iguais, refletindo no outro projeções de nossa carência indecente e medíocre: estamos sós, a sós, com nós mesmos.

 

#DQ146 #espalheamorporaí <3

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Ainda bem que eu não sou dessas | #DQ 145

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Trilha:

 

“Boa noite” é normal. Agora desejar “boa noite” pela quarta vez é uma forma bonita e bem contida de tentar driblar o sono e varar a madrugada, zapeando sobre diversos assuntos que não significam absolutamente nada. Quer dizer, pode ser que essa bagunça toda signifique que eu posso estar a fim de você e tentando conversar sobre qualquer assunto— desde que envolva você. Pode ser. Pode ser que, entre esses assuntos, eu tenha indiretas bem ou mal-sucedidas, e qualquer mínimo detalhe de reciprocidade vire pista do grande mistério em saber se os risos, em formas de emojis, são gargalhadas reais.

Ei, não vai pensando que sou dessas, que se interessam por caras que me tiram gargalhadas e me olham, como se quisessem desgraçar minha vida! Sim, esse olhar mesmo, que sempre faz, toda vez que me encara. Não vai pensando que eu sou dessas, que adoro esses abraços demorados, e torço pra que esse beijo no rosto escorregue pro queixo e carinho no pescoço… Hã? Onde eu estava mesmo? Ah, pescoço! Não, nada a ver.

Não vai pensando que as minhas ligações sem querer é por eu estar vendo sua foto, com aquele sorriso desgraçado, como quem diz: “Eu sou o seu, desassossego”. E não. Não errei a vírgula. Queria mesmo que tivesse uma pausa na parte que faz você ser meu. Menino, eu mesma, detesto confusão. Detesto essa coisa de encontros inesperados, esse frenesi no peito, feito bateria de escola de samba, e essa incerteza kármica de que, mais cedo ou mais tarde, vai rolar. Longe de mim pensar isso! Ainda bem que não sou dessas.

Pra ser sincera, eu não espero nada de você, apesar de ter uma mania estranha de acompanhar teus status online. Sei lá, vai que puxa papo, e eu demoro a responder? Vai que desse papo surge um convite pra gente se ver? Vai que desse convite abra o apetite, e a gente resolve experimentar os “bem-casados”? Afinal, se a gente casar amanhã, eu preciso saber qual docinho encomendar. Vai que você hoje resolva querer brincar com meus sentimentos e amanhã novamente e, depois novamente e novamente? Estranho, né? Também acho, nada a ver. Ainda bem que isso é só um texto de quinta e não vai levar a sério. Até porque não sou de mandar indiretas. Ainda bem que não sou dessas.

 

#DQ145 #Espalheamorporaí <3

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Por favor, diz pra mim | #DQ 144

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Trilha:

O pouco que me resta de sanidade faz tua ausência ser menos doída. É que esse fiapo de lucidez que segurava minhas vontades, segura hoje também as meias verdades que eu preciso criar pra não acreditar que nosso fim já chegou. É teu cheiro, que já passa por não se perceber, entre os lençóis arrumados, numa cama tranquila que não aquece, nem amarrota. É o hálito que sai de tua boca, que prometia sempre perdição, que agora se perde no ar. É a pele que toca num tato estranho e me traz uma lembrança tardia —ou seria letargia —de que a gente já foi mais?

Eram os beijos que envolviam mais que lábios, e o sentimento que envolvia também a alma, mas que hoje só vaga de um lado pro outro, tipo cadeira de balanço quebrada. Cadeira de balanço… É assim que me sinto: como se estar contigo me mantivesse ocupado, indo de um lado pro outro, mas sem sair do lugar. Onde foi que nós deixamos de nos querer e nos fazer querência? Onde foi que nossa paixão deu lugar às formalidades dos dias comuns? Onde foi que esquecemos o botão de voltar alguns capítulos e, num loop infinito, brincar de ser pra sempre? Onde foi que não ouvimos a trilha final que anunciava a subida dos créditos e o fade out?

E se eu soubesse a resposta dessas perguntas, talvez me convencesse de que não ainda é cedo pra dizer a Deus. Pra dizer pra Ele que desfaça o trato e nos reparta de novo. Talvez eu te esconda da vista dEle, como quem protege o que tem de mais precioso. Talvez eu ganhe tempo pra mudar tudo e não enfrentar, a pés descalços, esse dilúvio que a tua partida me fará passar. E tu? Se tivesses confuso? Tu nadarias por mim e por ti e enfrentaria tudo? O que tu farias se, no meio do mar, eu tivesse à deriva? Tu voltarias pro cais ou nadaria mar acima? Por favor, diz pra mim.

 

#DQ144 #Espalheamorporaí

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Sobre os erros deliciosos | #DQ 143

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Trilha: 

 

O problema de alguns erros é que eles beijam bem. Sim, alguns erros são deliciosos e, até para os mais sensatos, resistir, não parece uma opção. Já diz a sabedoria popular: Errar uma vez é humano, duas é burrice, três é cara de pau. Mas se eles te conhecessem, menina…errariam mais que pesquisa do Ibope sobre intenção de voto. Sério, Alguns erros têm a boca vermelha e beijam bem pra caramba. Soltam o cabelo só pra fazer charme, mordem o canto da boca, enquanto pensam olhando pra cima, paralisadas numa pose de como se estivesse sendo pintada por algum artista. Sabe quando a gente entra em relacionamentos que têm tudo pra dar errado? Sabe quando temos à nossa frente aquela pessoa que não combina em nada e parece exatamente o oposto de tudo que a gente sempre quis? Quando a convivência com ela seria tão possível como andar sobre as águas ? Se você leu essa parte e pensou: “Jesus conseguiu”, ACORDA : você não é Jesus.

No fundo da sua alma tem uma voz dizendo: ELA NÃO É PRA VOCÊ, VOCÊS JUNTOS SÃO IMPOSSIVÉIS.

Essa voz pode ser sua consciência, seus amigos, o tarô, os búzios, os signos, mas, mesmo que tudo, absolutamente tudo, diga que não vai dar certo, você não consegue resistir. Não se culpe tanto. Esses são os erros necessários, ou toleráveis, não importa. A questão é que todo mundo, na vida, passará por esses tais “erros inescapáveis”, porém deliciosos -pelo ao menos até o dia em que a sua vontade conseguir sobrepor a razão.

O problema é que erros, por natureza, são feitos para serem cometidos. Parece contra a lógica, mas você já viu alguém continuar depois que acerta? Só os erros despertam a insensatez incessante e, não menos fulminante, de continuar. As tragédias gregas mesmo se arrastam vivas por conta dos erros. Parece que o erro tem esse quê contínuo que nos obriga à persistência.

 

#DQ143 #espalheamorporaí <3

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Sorria, essa é nossa melhor foto | #DQ 142

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Trilha:

Olha aqui, não esconda o rosto. Deixa-me tirar essa foto, antes que a bateria descarregue por completo. Deixa-me eternizar esse momento, enquanto nosso amor ainda é jovem, antes que a gente perca a luz, a cor, e o nosso enquadramento fique desarmônico. Sabe, lembrei-me de quando a gente não tinha nenhuma lembrança. É, hoje, nesse feriado, lembrei-me da época em que a vida não havia nos juntado. Era um bocado de coisa que havia por viver, junto a um punhado de vida que eu havia tido. E, de repente, tua vinda trouxe uma infinidade de novas possibilidades. Como a de gostar de fotos antigas, a de fotografar o que ninguém percebe, mas todo mundo vê. Como aquele filme clichê que termina com final feliz. Como gostar de abacaxi com hortelã e chocolate bis, ou ficar em silêncio absoluto de frente pro mar e perceber que há, no silêncio do vazio das vozes, alguns ensinamentos fantásticos, ou como tu mesmo dizes: “Ficar em silêncio consigo é um ato de se ouvir”.

Quem nos garante que essa não seja nossa última recordação, que eu não terei tempo de revelar, ou não vou querer, porque isso te manteria, de alguma forma, congelado dentro desse filme antigo? Lembra que a gente prometeu não se despedir? E que concordamos que os clichês que saltam das últimas conversas carcomeriam nossas melhores recordações e borrariam nossas fotos ainda por revelar?

Faz assim. Sorri aquele sorriso de saudade, que soltou no aeroporto, na última viagem, e me dá a hora de capturar a felicidade e materializar no papel aquele domingo feliz. Faz de conta que o mundo termina hoje, numa daquelas guerras apocalípticas, que tu tanto gostas de ver no cinema, e repousa teu olhar mais sincero pra única foto que eu terei de ti. Traz a paz que tens na vida pra essa fotografia. Faz dela uma poesia bonita que, mais tarde, pode ser combinada com uma trilha melosa e um chocolate bis. Vai que ela embala minhas lágrimas ou acalenta meu sono? De qualquer forma, olha pra cá, com o olhar pro futuro. Afinal a gente deve mesmo estar diante dele.

 

#DQ142 #espalheamorporaí <3

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Sobre a falta que ainda sinto | #DQ 141

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Trilha:

É… Você até pode saber que doeu quando terminamos, afinal é o que todo mundo mesmo espera, usando os clichês odiosos de que você encontrará alguém melhor, e que isso não vai mudar nada entre vocês. Vai mudar tudo. Já mudou. Você sabe a dor que eu senti, não porque sentiu algo parecido, mas porque até meu respirar era pesaroso e vazio. Você sabe porque ainda temos aqueles amigos em comum, que te dão a atualização diária do meu boletim depressivo. Mas só sabe até aí. O resto, eu preferi guardar a sete chaves, como resto de amor e, talvez, de dignidade que os finais costumam não deixar.

Todo fim sobra algo, mesmo que caiba apenas no bolso de uma calça jeans. Tal como esse par de ingressos para aquele filme que a gente não viu, porque a paixão e os beijos ainda eram nossa melhor programação. Diferente de você, eu não desfilei em carro alegórico com minha dor, mesmo que, nas redes sociais, você faça questão de mostrar um samba-enredo, que fala de tudo —menos de saudades  e que mostra tudo —inclusive desapego. Foi carnavalesco. E o que é pior: foi uma folia fora de época pra mim, que me vestia de solidão. Não que você precisasse ficar de luto, mas uma parte de mim esperava que doesse pelo menos metade em você do que doeu (tá, ainda dói!) aqui.

Você lerá esse texto, e o que me vai me dar raiva é esse sorriso de canto de boca. Mesmo que agora você disfarce com um tom mais sóbrio, por dentro, saber que ainda sinto sua falta, e que a dor da saudade é uma constante, vai envaidecê-la, a ponto de comemorar a dor alheia. É cruel, sim. Não adianta disfarçar. Isso só prova que há verdades doídas que precisam ser ditas. Há dores sofridas que precisam ser sentidas. De que valeria para mim, amar alguém que só ama o meu amor? Esses amores, feito Narciso, que amam mais o reflexo de si no outro do que o outro, não me servem, mesmo que façam uma falta que não deveriam fazer.

 

#DQ141 #espalheamorporaí <3

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O que eu faço com tudo isso? | #DQ140

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Trilha:

Você é a primeira e última mensagem e, nesse intervalo de tempo, há, em nossa variedade de assuntos que giram entre memes, netos e como seria o nome de nossa rua em Marte, o desejo de estar com você. Mesmo que virtualmente, falar com você, sempre e sobre tudo,  é uma parte de fazer do meu mundo o seu mundo. É participar sobre as frustrações e conquistas pra alguém que tem o poder de, num simples “Bom dia”, fazer esse dia ser realmente bom, ou pelo menos, começar bom.

O que faço com isso tudo que há na mídia do meu celular e dentro do meu coração? O que faço com o beijo de ontem no rosto, que triscou o canto da boca e acendeu a luz amarela da paixão? Que faço com essa vontade de invadir sua vida de vez e não me conter mais pra não  ver você, todos os dias? Que faço com aquele trecho de música, na verdade, aquela frase, que começa com a letra do seu sobrenome e -não sei por que cargas d’agua – lembra você? Que faço eu da vida, sem aquela bagunça que você traz, toda vez que aparece de surpresa, e eu quase preciso de uma camisa de força, pra conter minha felicidade louca? Que faço eu, com esses relógios que não passam às quintas-feiras e resolvem se arrastar a tarde inteira, só pra me torturar? Que faço eu com o porta-retrato que comprei, pra guardar nossa primeira viagem juntos? Sendo que não temos sequer uma foto no mesmo lugar?

Eu pego tudo e jogo naquele lugar das possibilidades e continuo com essas expectativas? Ou pego tudo e jogo na parte das coisas impossíveis de acontecer, mas que a gente queria tanto? Eu faço o quê com todo esse sentimento? Eu calo ou grito? Eu marco você nesse texto e finjo que é por acaso? Que é só mais um texto bobo de internet, que não tem nada a ver?

MAS, se assim, por acaso, tivesse: O que eu faço?

 

#DQ140 #Espalheamorporaí <3

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Hoje, aqui. Amanhã, não se sabe. | #DQ138

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Trilha:

Em breve, não seremos esse par que parece eterno. Em breve, enlaçaremos outras mãos e pertenceremos a outros corpos. Em breve, seremos tanto de outros, tais como jamais fomos um do outro. Em breve, nosso amor se esfriará tão de repente quanto pegar no sono e, acredite em mim, você sequer perceberá que adormeceu. Vai doer sim, durante um tempo. Até a gente se acostumar à falta (e se sentir mais livre) que com saudades. Em breve, o seu beijo, que hoje é perdição, vai se perder em minhas lembranças. Em breve, o seu insólito abraço, que hoje transpassa toda dor, será como relva nos campos. Em breve, seremos, um para o outro, lembranças vagas, pouco visitadas, tipo aquele vestido azul, que era seu preferido e hoje não lhe cabe mais.

E o que faremos nós, antes que a música cesse e as cortinas se fechem? Seremos lamento e pranto pretenso? Ou seremos reféns de um destino traçado e nos entregaremos à melancólica certeza de que fatalmente, mais cedo ou mais tarde, chegaremos ao fim? Podemos brincar com essa sina sarcástica e, em nossa finitude, tentar o absurdo de ser eterno enquanto dure. Podemos nos enganar com promessas malditas, que nos pesarão o peito, no momento da partida, e cobrarão com juros lágrimas sofridas. Podemos ir além, viajar pra aquele lugar que a gente guardou pra o grande amor de nossa vida e se enganar que estamos realmente vivendo isso, porque, afinal, uma hora vai acabar.

A gente pode ser feliz sem pensar que, amanhã, a felicidade aquecerá uma dor que vai nos queimar por inteiro e arder como febre. A gente pode ser um do outro, ainda que isso nos custe, num futuro, seguir em diante incompletos. A gente pode ser esses erros deliciosos, que misturam na mesma proporção tudo de bom e de ruim que uma relação pode e deve ter. A gente pode ser a bagunça confortável que somente os amores que marcam podem nos dar. A gente pode ser o erro bonito, que vira pintura na arte, cicatriz nas quedas e saudade na vida. A gente pode, mas será se a gente deve? Não sei. Diga você. Por mim, a gente pode ser.

 

#espalheamorporaí #DQ138

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Onde anda você? | #DQ137

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Trilha:

E por falar em saudade, onde anda aquela que a gente sentia, no intervalo das brigas, no afã das birras? E por falar em desejo, onde andam os beijos, na calada da noite, em que a gente se dava, fechando os olhos e abrindo a alma? E por falar em paixão, cadê seu abraço? Que envolvia meu corpo, num perfeito compasso, às proporções absurdas, e naquele mormaço? E por falar em calor, cadê sua pele que habitava meu tato e arrepiava a derme, fazendo-me suar? E que cercava meu toque, sentindo molhar, derramando o licor do suor dos amantes?

Onde andam as horas que passavam num minuto, fazendo nossas tardes, apenas vultos? Onde andam as surpresas que eram quase rotina? Onde anda a beleza do sorriso que fica, depois de um presente ou uma carta qualquer? Onde anda o mar, que a gente não mais visita, será que ainda há tempo pra amar e sentir-se viva, ou a gente passou tal como aquela brisa? Onde anda a ansiedade que escorria nas mãos? Aquele suor frio nos dedos que denota paixão? E os sentidos mais tolos que se fazia canção, nas palpitadas frenéticas do meu coração?

Onde foram parar os acasos premeditados? Os desvios propositais que nos levavam sempre ao encontro um do outro? Onde foram se esconder os atalhos que antes pegava, pra fugir do trânsito e chegar mais cedo? Onde andam as insônias deliciosas que aconteciam nas madrugadas? Onde andam os feriados inventados e o domingo no meio da semana? Onde anda aquela felicidade toda que se deitava em plena segunda e vestia pijama, tentando adiar o fim do fim de semana? Onde andam as nossas conversas impublicáveis e os sussurros ilícitos? Onde andam nossas carícias ou até os nossos vícios? Onde anda o ritmo que me permitia voar sem correr nenhum risco, permitindo-me saltar dos mais altos precipícios, com a certeza de que até a queda terminava em você? E por falar em perigo, onde anda você, que me deixou cativo, na parte que vais à busca de abrigo, como se precisasse de algo mais do que estar comigo?

 

#DQ137 #espalheamorporaí <3

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