Mas você a deixou ir? | DQ 190

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Trillha: 

 

É, eu sei que, no começo, você pensou que seria fácil. Afinal, você nem gostava mais como antes, né? Você, que contava os minutos para vê-la, passou a inverter prioridades e dar importância para o que sempre foi secundário. Estava constantemente dando motivos para que ela o deixasse – e olha que você vinha se esforçando, viu? Como assim levar para comer camarão? Ela é alérgica, cabeção, se liga! Mostrou uma coleira engraçada para o cachorro dela? Que legal! Pena que ele morreu faz uns três meses, né?

Mancadas atrás de mancadas, você parecia estar testando a paciência dela. Mas ela é dessas que prefere consertar coisas a trocar. Algo raro em um mundo em que até os sentimentos são descartáveis. Ela é daquelas que acha que amor é decisão e que nem sempre haverá dias em que você vai se sentir flutuando. Há dias de sorrir e para chorar também. Ela é daquelas que sabe a hora de calar para não prolongar uma conversa que, no fundo, você sabe que vai machucar os dois. Aqui cabe um adendo: você vem fazendo dela uma especialista nesse assunto. Ela é daquelas que você sempre espera o melhor e, ainda sim, ela consegue surpreender.

Ela é o que seus amigos dizem que “você tem que casar”. E, olha, que eles não sabem que ela não é só para casar, como para QUALQUER coisa. Ela topa qualquer parada – desde que seja com você (até assistir UFC! Só que três lutas é o limite dela, viu?). Ela se viu lutando, apanhando e tentando ficar em pé, sempre salva pelos intervalos de cada assalto. Intervalos que davam tempo só para recuperar o fôlego, fazer uns curativos rápidos e voltar para o massacre. – Mas para quê? O que mais ela podia esperar do final dessa luta, a não ser uma coleção de hematomas? Ela decidiu, por sua vez, bater no chão, mesmo que o gosto da desistência pudesse ser amargo e, assim, saiu de cabeça erguida por ter dado o seu melhor.

Então, você vence. Comemora a vitória com uma bela noitada. Curtindo agora publicamente o que já fazia há meses escondido. Já ela? Ela, agora, se recupera da surra e, apesar da derrota, existe um sentimento de recomeço. O tempo passa e você sofre sua primeira grande derrota. Engraçado que só agora percebeu que ela era o que ela sempre foi, e você lembra-se do bom e velho ditado que só se “dá valor depois que perde”. É um clichê barato, eu sei, mas é uma verdade de alto preço para você, que não sabia que, assim como o tempo traz, o tempo também leva. E bons ventos nem sempre voltam a soprar.

 

#DQ190 #espalheamorporaí <3

 

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Eu, jogador? | #DQ189

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Trilha:

 

 

É, nunca foi meu forte essa coisa de jogar com sentimentos. Eu sempre perco o time e caio nas ciladas dos momentos. Eu até planejo o próximo passo, o que vou falar. Mas me sinto péssimo por isso e desisto na hora H. Eu deixo de tentar ser menos empolgado, menos sorridente, mais calado e menos contente. Acho terrível não poder ligar no dia depois do seguinte, novamente, e ficar nesse jogo de xadrez, esperando que você não tenha mais pra onde ir e chegue a minha vez. Se for pra ser assim, melhor nem começar. Eu quis você pra tanta coisa e nenhuma delas foi jogar.

Deveria ter uma regra, dessas que a gente só faz amor, e nunca guerra. Deveria ter um manifesto em favor dos afobados, dos intensos, dos amantes, dos imprudentes. A gente não tem colete à prova de balas, capacete, salva -vida. A gente não tem nada. A gente só sente as coisas e faz. E se isso é pecado, eu peco até demais. Peco, porque não me nego às palavras. Peco, porque não me nego aos olhares. Peco, porque não me nego ao fogo cruzado, ao beijo roubado e ao coração acelerado. Peco, porque, lá no alto, no auge do meu sentir, se você pedir pra eu pular, eu pulo. E se não pedir, eu pulo mesmo assim. Porque se você não tem coragem de pular, não merece a vista ao subir. Daqui, de cima, tudo é pequeno- inclusive o medo de não ter quem segure você quando cair. Eu sou -e parece que não deixarei de ser precipício- pressuposto, predição, suicida, falha geográfica, que relevo sem depressão.

Eu vou sentir mais que todo mundo sente. Vou mentir menos que todo mundo mente. Vou rezar mais que qualquer crente. E falhar mais que qualquer vidente. Eu vou ser um desastre sem culpa. Leve como vento. Denso como frio. Intenso. Credo. Crente. Crido. Criado órfão por pais ausente. Amado só por deuses, inexistentes. Cultivado nas incertezas dos desesperados, eu fui cilada, do meu próprio acaso.

 

#DQ189 #espalheamorporaí <3

 

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Então, vem e apaga luz | #DQ188

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Trilha:

 

Lembrei-me de teu sorriso, sorri. Dormi e acordei com uma saudade boa. Percebi que te amar em silêncio pode ser prudente, mas não é suficiente. Eu pensava que, calando esse sentimento, morreria de fome. Ledo engano. Meu amor por ti se alimenta justamente dessa ausência. Ele se nutre das memórias, músicas e lugares que eu sequer fui contigo, mas com os quais tanto sonhei, que chego até confundir com a realidade. Deve ser por isso que eu me apaixono mais a cada dia.

Eu me perco da rotina, lembrando-me de detalhes nossos, ou melhor, teus. É que os revivo tanto que eu chego a pensar que são meus. Hoje me lembrei de como tu seguras a xícara quente de café com as duas mãos. E, por alguns segundos, eu queria que, em vez da xícara, fosse meu coração. Eu sempre quis te dar meu coração porque, pensa bem: se uma xícara de café, tu seguras com as duas mãos, que dirá um coração? Pode parecer bobagem, mas, com o passar do tempo, tu valorizas mais o cuidado que qualquer outra coisa.

Estou ensaiando algumas formas mais brandas de dizer que te quero. Ensaiando uma forma de não parecer desesperado. Mas tudo que sinto é que eu estou tão atrasado que, se eu perder mais dois segundos, eu não suportaria. Então, vem. Apaga a luz desse quarto e me ama no mistério que só o escuro nos mostra. Traz esse colo disposto a me acomodar, sem me fazer dormir. Eu quero ficar são e alerta que é pra te curtir mais e mais entre essas cobertas. Esquece o mundo lá fora que gira. Gira e continua a girar em movimento aleatório. Corre pros meus braços que estão estendidos no tamanho exato que encaixa o teu abraço. Foge dessa vida cheia de coisas vazias e preenche esse espaço que eu guardei só pra ti. Não resistas, não me peças tempo, porque o que eu te proponho é uma vida toda sem olhar para o relógio. Corre o risco de te magoar e me dá a chance de te fazer feliz. Eu não prometo nada, porque promessa é dívida. E o que eu tenho pra ti é muito mais que um compromisso.

 

#DQ188 #espalheamorporaí

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Um brinde à nossa desordem – DQ 187

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Trilha:

 

É tudo a mesma coisa, mas não é mais nada igual. Pensando bem, você está até mais bonita do que da primeira vez que eu a vi. Mais confiante e muito mais gostosa. A busca pelo encaixe exato – o ritmo perfeito – deu lugar a essa conexão telepática que o tempo nos presenteou. Não estou reclamando disso, mas, às vezes, eu sinto falta de ter o que descobrir. Eu sei de cor todas as zonas de seu corpo, seus sabores e desejos mais ocultos. Eu queria apagar as luzes e descobri-la no escuro. E, entre gemidos e sussurros, ter um segredo novo pra contar. Eu sei que a nossa relação é ótima. Dessas que causam inveja em muitos casais. Mas eu sinto falta dos erros, do frio na barriga, e, acredite se quiser, até das brigas bobas que sempre começavam no quarto e terminavam na cozinha. Era uma delícia ter nossos beijos molhados de culpa, sentir suas carícias em forma de súplica, com um pedido sussurrado de desculpas.

Ainda é ótimo, e a gente se basta. Mas será que isso é suficiente? Eu sinto saudades de não merecê-la, de querer você mais que a mim e de buscar seu cheiro – ainda que esteja longe. Amor tem esse quê de constância, mas eu queria mesmo era aquela abundância que sempre sobrava do nosso gostar. A fragilidade da relação e imaturidade do amor traziam um cuidado meticuloso, como se fôssemos proibidos de errar. Estou constrangido em pedir mais, porque você já me deu muito. Mas essa calma toda me assusta. Todo mundo sonha com um amor tranquilo, e eu só queria um pouco daquela nossa bagunça, daquela nossa aleatoriedade tão sincronizada que parecia até combinada.

Talvez eu não queira mais, seja só medo desse mar tranquilo. Você mesma sempre disse que mar calmo nunca fez bom marinheiro. Nós sempre conseguimos nos virar bem em meio às tempestades – que foram muitas, por sinal. Eu tenho medo dessa paz infinita que me traz tons de finitude. Desse silêncio que algumas madrugadas têm. Toda tragédia sempre acontece quando tudo parece estar calmo. Então me bagunce e me confunda. Faça-me esquecer de que amanhã é segunda-feira e me deixe sequestrar você para uma viagem sem destino traçado, sem nada programado. Eu não quero acertar sempre. Eu quero voltar a errar- desde que os erros sejam todos com você.

 

#DQ187 #Espalheamorporaí <3

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NÃO É ELA, MAS EU QUERIA TANTO QUE FOSSE | DQ 186

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Trilha:

 

A verdade é que do começo nunca dá para olhar o fim. A gente sequer pensa nisso. Principalmente, quando o começo é digno de Oscar e vem com uma sensação ridiculamente gostosa de que é para sempre. Ela tem gosto de eterno, com aquele cheiro que você não enjoaria ter impregnando nos lençóis todas as manhãs. Tem aquela boca com formato e cor de maçã, e aqueles olhos morenos que fazem bater sereno o ritmo frenético do seu coração. Ela não tem organização: deixa a toalha na cama e a camisa no chão. Ela é egoísta e sempre puxa o lençol de madrugada.

Você esboça um protesto e, quando pensa em puxar de volta, ela se volta encarando-o de olhos fechados, faz um carinho na nuca, deixando você desarmado. Você se esquece de que precisa da metade do lençol. Afinal, ela está ali por inteira. Que outro lençol aqueceria a sua alma? Você pensa em acordá-la, mas hesita. Porque é simplesmente divino vê-la dormindo com uma paz celestial. Ela sorri e sussurra que o lençol foi um aviso. O que mais é preciso para você despertar? Você sorri de volta e acaricia o seu rosto, beijando cada parte do seu corpo, como se quisesse redescobrir os caminhos que já sabe de olhos fechados. Por falar em olhos, você não fecha os olhos. Ela pergunta o porquê. Você responde que “filme bom, a gente não pisca e segue, aproveitando à risca, cada segundo desse infinito chamado amar”. Agora são mãos, braços e abraços, pele, carícias, suor e cansaço. São dois amantes desafiando a física de que dois corpos não ocupam o mesmo espaço. É mágico, sublime, e você não mudaria nenhum trecho desse roteiro. Deve ser o melhor filme do século – mas, calma. Espera. Ela vai viajar? Pelo tamanho da bagagem, vai passar muito tempo. O quê? Vai pra sempre? Mas ganhamos até um Oscar… e… ela é…. Ela o interrompe. Diz que isso é só um trailer do começo do filme. Apesar de toda dor e saudade, ela o deixa com um fio de ansiedade, pelo filme de verdade que ainda hão de viver

 

#DQ186 #espalheamorporaí /,3

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NÃO É FRIO, NEM MEDO | DQ 185

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Trilha: 

 

Lá está ela, concentrada em qualquer coisa que não seja você. Todas dão aquela atenção a que você está acostumado, menos ela. Você se aproxima e joga o jogo que domina. Mas ela sabe de cor cada passo e desarma cada tentativa, sem qualquer embaraço. Você se sente desafiado, elogia os olhos e o cabelo dela, usando todo seu charme pra quebrar o gelo. Ela sorri, mas não derrete: é só um vacilo que não compromete seu coração que é iceberg.

O tempo passa. Ela disfarça. No fundo, ela queria pedir seu número. Mas, um dia, também lhe roubaram o ar e, no começo, foi a melhor sensação do mundo. Estar ofegante, com o coração acelerado, só em passar alguns momentos lado a lado, é, sem dúvidas, uma das sensações mais ridiculamente gostosas que a paixão pode nos trazer. E quando ela desejou algo menos intenso não significou que queria perder a adrenalina. Só queria um pouco de silêncio entre beijos alucinantes e noites ofegantes. Ela queria um par que valseasse e que conseguisse desacelerar o ritmo, só pra ver a chuva cair e banhar as flores. Só não contava que uma chuva fina virasse tempestade e trouxesse as mesmas dores que, um dia, jurou não mais sentir.  Não contava que o ar, que dantes era uma falta deliciosa, fossem hoje soluços de noites tortuosas.

Então, não é frio, nem medo: é prudência. E, se um dia, você sumir com uma desculpa que só vai ali, se ela descongelar o coração e, assim como água, você deixar escorrer pelas mãos, ela terá medo de perguntar a você que horas já são, porque, talvez, já seja hora de ir. Ela nunca pediu que você insistisse, mas ela já torce pra você continuar. Mas só insista em derreter um coração gelado, se a sua intenção é mantê-lo aquecido.  Não o faça por desafio, ou pra querer provar pra você que é capaz. Não a faça desacreditar de vez no amor.

 

#DQ185 #ESPALHEAMORPORAÍ

 

 

 

 

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VOCÊ, PRA MIM, É PRIVILÉGIO | DQ 184

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Trilha: 

É uma delícia viver os momentos antes de saber se está apaixonado. É que o real e o imaginado se cruzam em dado instante, e tudo parece mais interessante. O sinal fica vermelho e eu vou lhe roubar mais um beijo. E, se a música é ruim, a gente dança mesmo assim. A falta de dinheiro é só mais um tempero para nossa criatividade em fazer dos pequenos instantes eternas metades desse nosso infinito particular.

Quem disse que eu preciso de muito? Com você aqui, já tenho tudo. E, talvez, um pouco além. É que nós temos um jeito exagerado em se dar, né, meu bem? Uns chamam de amor, outros, de paixão. Eles e essa mania de adjetivar de forma tão comum substantivos tão próprios, tão nossos, tão singulares. Não os culpo, porque cá entre nós, do que a gente sente e carrega no peito: só a gente é quem sabe.

Nesse universo particular, em que os normais insistem em chamar de quarto, nós nos descobrimos por inteiro. Vivendo com a sensação de que o mundo todo para, mas só a gente percebe, toda vez que você entra pela porta. Você faz de meus braços rede, e do meu colo, aconchego. Tenho em seu coração o sossego de uma manhã de domingo. E no gosto de teu beijo, um café forte, no ponto, desses que despertam e brindam a dádiva de mais um dia de vida. Não só de vida, mas de mais um dia ao teu lado, repleto de sorrisos e regados com algumas lágrimas – por que não? Eu preciso que você erre um pouco e você também, porque do contrário, eu me convenceria que isso aqui é um paraíso.

Vivemos no ritmo que nos apraz. No meio termo entre o tango e o forró. Algum problema? Sim, claro. Mas do lado daqui, de dentro, só ficam nossos melhores momentos. Vou contar um segredo que, com certeza, já não é nenhum mistério: MEU BEM, VOCÊ, PRA MIM, É PRIVILÉGIO.

 

#DQ194 #espalheamorporaí

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ÁRVORE OU AVE? | DQ 183

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 Trilha: 

Eu tenho fome. Não a fome que se passa depois de uma macarronada com mostarda e limonada. Falo de fome que me faz estar sempre em movimento, buscando a novidade das coisas e provando as surpresas das pessoas. Eu não sou o tipo de pessoa que dá graças à gravidade. Pelo contrário, no fundo, eu queria que ela sequer existisse. É que a gravidade prende tudo ao chão, e eu sempre cultivei em mim o desejo de voar.  Talvez se esse mundo fosse mais leve, as pessoas pudessem voar. Voar é sempre sinônimo de liberdade. E isso é o que mais me fascina.

Compartilhei isso com um amigo. Ele, por sua vez, falou: “eu já adoro a gravidade. Eu sou como árvore. Gosto de criar raízes e pertencer a um lugar”. Aquilo me chamou atenção, porque uma parte de mim quer exatamente isso. Mas voar ainda parece uma das melhores sensações que eu poderia sentir. Hoje, eu me peguei nesse dilema: voar ou criar raízes? Essa, sem dúvida, é uma questão que passa pelo menos uma vez na cabeça de todo ser humano. Constituir uma família ou não? Ter filhos ou não? Mudar de cidade? Cursar que faculdade? Essas e outras dúvidas estão intimamente ligadas à decisão sobre ser árvore ou ave.

Foi no tédio de um domingo ocioso que conheci Sterna paradisuea, o trinta-réis-ártico. Uma pequena ave que migra do Círculo Polar Ártico até o limite do Antártico, em apenas nove meses. Essa ave tem a invejável capacidade de viver conhecendo diversas paisagens, diferentes lugares e saboreando as surpresas agradáveis (algumas nem tão agradáveis que essa jornada pode oferecer). E quer saber? Assumir riscos é uma forma sadia de se sentir vivo. É esse frio na barriga, que vem com as grandes aventuras, que aquece nosso coração e nos dá a certeza de que estamos realmente vivos.

Toda essa migração é justificada pela necessidade de buscar climas mais confortáveis. Ela não quer ganhar o mundo e voar pelos quatro cantos só por seu bel prazer. É muito além disso: está em seu DNA a necessidade de voar. Não pense que há um voo solitário e uma vida perdulária. Há, sim, parceiros de jornadas que não a esperam retornar. Eles voam juntos. O trinta-réis-ártico é a prova de que a felicidade está no caminho. Ela nos ensina que não precisamos fincar raízes em um só lugar para chamá-lo de nosso. Essas aves possuem laços tão extensos quanto a necessidade das mesmas de voar. Possuem raízes tão fortes quanto qualquer árvore. Porque o nosso lugar não é onde a gente fica e sim, o que a gente está.

 

#DQ183 #espalheamorporaí <3

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Ela ia casar com você | DQ 182

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Trilha:

Ela nunca pediu, ainda bem. Mas ela iria casar com você. – Sério. Ela dormia pensando em como seria a festa. E aquele papo chato para saber se você toparia casar na praia era só mais um indício de que eu não estou errado. Hoje você a viu feliz, sorridente e com três filhos lindos. O marido dela parece ser um cara bacana, né? Tem até um rosto famil… – Calma aí, esse não é o Thiago? Mas ele não era gay? Não, ela não traiu você e nem quis dar o troco. É que ele, apesar da falta de todos os predicativos que você fazia questão de se gabar, sobrava paciência, quando o assunto era amar. Paciência. Talvez, o ingrediente mais importante de uma relação. E foi assim que ela trocou uma casa em ruínas pela chance de construir um castelo.  

Ele, por sua vez, foi montando cada pedaço que você derrubou, sem pressa alguma. Colando o que dava e derrubando o que não prestava. Ela chorou no colo dele, porque não conseguia esquecer você. Ele, com a paciência que lhe é peculiar, o procurou naquele dia, lembra? Mas o que você respondeu? “Ela não tem coragem de vir e manda seu amiguinho gay?” Pois é. Ele nem chegou a dizer isso para ela. Inventou que não encontrou você, e ela fingiu que acreditou. O tempo foi passando e, aos poucos, a ferida foi fechando, o sorriso desabrochando e ela, finalmente, se restaurando. Finalmente, de coração limpo, ela resolveu se dar uma chance com alguém que ela tinha certeza de que estaria sempre ali.  

Mas o que você não sabe é que no dia do casamento, ela orou baixinho perdoando você. E, apesar de estar extremamente feliz com o marido que Deus lhe deu, ela pensou em você e em onde você estaria naquele exato momento. Não, não é que ela ainda o ame ou que ainda sinta algo por você. É só um jeito dela de seguir em frente e, para isso, ela precisava te perdoar. Hoje, você se deparou com aquele sorriso e isso foi um golpe de nostalgia. Ela sabe o quanto você gostava desse sorriso. Talvez, por isso, ela engolia tanta coisa com ele estampado no rosto. Hoje, ela usa esse mesmo sorriso para outro, mas saiba que ela quis tanto usá-lo somente para você. 

#DQ182 #espalheamorporaí <3

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Estar apaixonado muda tudo | DQ 181

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Trilha:

 

A máxima de que o amor é cego é confirmada sempre que esbarramos em elefantes espalhados pela sala e nos perguntamos como eles vieram parar ali. Dá um susto quando o amor passa, e a gente começa a ver tudo muito cru e nu. O amor pode até ser cego, mas a paixão é ainda pior. Ela é alucinógena, psicotrópica. Paixão é droga. E que droga! Paixão bagunça tudo e, ao contrário do amor, que tateia o perigo, em busca da verdade, ela distorce tudo.

A paixão distorce o senso do ridículo e nos reduz à condição aviltante de bobos apaixonados. Esses que fazem cartas melosas e são capazes de vender toda sua paz em troca de um sorriso. Paixão é tão maluca que muda até o tempo. Não ter tempo é uma prerrogativa dos sóbrios, uma benesse de quem goza de todas as suas faculdades mentais. Nós,apaixonados, não fomos agraciados com tal benefício. Os apaixonados são engenhosos (lê-se: inconsequentes) atravessamos mar, céus e terra, desde que, do outro lado, esteja o ser que juramos uma devoção quase que hipnótica. Nós, apaixonados, somos deverasmente conhecidos pela ausência de limites. Parece que há prazer nas margens, na beirada mais próxima do precipício, e a queda nem é fatalidade. Cair é bônus.

A paixão muda tudo em nós -e mais um pouco-. Sim, porque estar apaixonado é ter um além: além dos outros. É ter um limite inalcançável. É morar num inverso intangível e estar sempre em posição vulnerável. Eu poderia dizer que estar apaixonado é uma das coisas mais desprezíveis do mundo, mas não posso. É estupidamente feliz ver dois seres miseravelmente apaixonados, vivendo a plenitude da devoção e o nirvana da servidão. Seguem vivendo como se não houvesse mais nada, além deles, apaixonados. É trágico, mas é lindo. É absurdo, mas é sublime ver como que a paixão muda tudo. E ainda bem que muda. Muda tanto que,nos casos mais loucos, continua a mesma, o tempo todo.

 

#Espalheamorporaí <3 #DQ181

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