Antônimo de amar é sofrer |DQ87

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Talvez essa seja o pior título que já pus em um texto. É que eu precisava dizer isso a você: amor e sofrimento não são sinônimos. Muito pelo contrário: é como água e óleo. São substâncias imiscíveis. Então, pare com essa mania de associar amor e sofrimento, porque não é, nunca foi e nunca será. Pra você, que lembrou que amor tem uma enorme dose de sacrifício, é isso mesmo: sacrifício. Existe uma linha – nada tênue – entre se sacrificar por algo e sofrer por alguma coisa. A diferença é simples, porém substancial. Sacrificar é uma atitude voluntária que nós fazemos para atingir um objetivo maior. É um esforço pra gerar um ganho, não necessariamente pra si. Pode ser para o outro. Já sofrer é padecer com o resultado de alguma coisa. Se, por acaso, ainda estiver em dúvida se isso é um sacrifício ou sofrimento, a dica é: se causar dor, é sofrimento e não, sacrifício.

Até um dia desses, era impossível dois corpos estarem no mesmo lugar, ao mesmo tempo, segundo uma das leis de Newton. Mas quem me garante que Newton estava falando de Física? E se ele estivesse falando justamente que amor e sofrimento não ocupam o mesmo lugar, ao mesmo tempo? É só depois que o amor se vai que o sofrimento pode entrar. Enquanto existir amor, não haverá sofrimento. Pode até não ser uma lei da Física, mas deveria ser uma lei da vida.  Você e essa mania de achar que amar é sofrer nunca chegarão a lugar algum. Ou que quanto mais se sofre e aperta o peito, mais se ama ou se está apaixonado? N-Ã-O! Absolutamente, não.

Deixe-me explicar uma coisa: você se sacrifica quando ama. E isso é uma atitude saudável, que vai gerar um amor mais completo, após esses sacrifícios. Quando você percebe que não é recíproco, deixa de se amar e, assim, o sacrifício pega a mão do amor e sai pela porta. O que sobra é dor, sofrimento. Vale ressaltar que o amor é educado. Ele não vai fazer escândalo e nem postar indireta no Facebook, dizendo que está partindo. Ele se vai silenciosamente, sem alardes ou despedidas. Daí entra o sofrimento, trazendo consigo toda a dor que ele pode carregar. Você nem se deu conta de que o amor foi embora, que você não tem mais forças para se sacrificar em prol de algo maior, que, pra falar a verdade, parece não fazer o menor sentido. Então, passa a sofrer e se ilude que o sofrimento é por amor, quando, na verdade, é justamente pela ausência dele. Se ainda tivesse amor, não haveria sofrimento. Não adianta cultivar o que já morreu e, muito menos, usar essas lágrimas pra regar aquilo que já feneceu.

#DQ87 #espalheamorporaí <3

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ANTES QUE AMAR SE TORNE UM SACO |DQ86

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Nós nem chegamos a ser (não o que eu pensei que seríamos). É que eu sempre imaginei você um pouco menos do que eu queria e bem mais que eu esperava. Coisa de quem sente e sente bastante, sabe? A gente sempre quer muito mais e espera bem pouco. Deve ser por isso que, muitas vezes, nós, os exagerados, nos contentamos com tão pouco. Seria cômico se não fosse trágico, essa nossa permissividade a atitudes que abominamos, só para não se estar sozinho. Acho que é absolutamente normal (e até um exercício de sensatez), em algumas vezes, colocar o outro nas costas e dar alguns passos com um peso extra. Isso faz parte do “estar junto”. É o que chamam de concessões e sacrifícios. E, sinceramente, não vejo um sentimento capaz de passar por cima do individualismo nosso de cada dia que não seja o amor.

 

É bem verdade que por você eu escalaria o monte Everest a cavalinho, mas eu não posso e nem devo respirar meu amor por você. Você diz que eu sonho demais, que eu quero demais, que eu amo demais e que, por isso, sinto demais. – Mas quer saber? Na boa? Pelo menos, eu sei exatamente o que eu quero. Eu sinto mais, sofro mais e vivo mais tudo que qualquer outra pessoa. Às vezes, e na maioria delas, aquilo que eu mais quero é justamente aquilo que eu não posso ter. E dói (pra CARAMBA!). Mas doeria ainda mais não saber o que quero.

 

Lembra a última vez em que você cuidou de mim? Da última vez em que eu chorei por você? Da última vez em que a gente se desentendeu por um erro que nem era meu, mas eu resolvi procurá-la? Eu sabia que seria complicado. Se dois bicudos não se beijam, dois orgulhosos não se amam. Só que eu resolvi arriscar, mesmo que você prefira a razão ao perdão. Eu já tinha descoberto em secreto que podia viver sem isso. Afinal, era você minha maior razão. No começo foi fácil abrir mão e devo admitir que até fiquei surpreso. Não só com minha capacidade de não dar a mínima pro meu orgulho, mas com sua habilidade de se aproveitar disso. Aos poucos, foi ficando mais complicado, mesmo a gente dizendo que o amor não se conjuga com orgulho. Exagerar isso pode significar deixar de se amar, e isso já é demais. Então, eu estou indo. Antes que ficar se torne um fardo, e amar, um saco.

 

#DQ86 #Espalheamorporaí

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E se eu não quiser amar? |#DQ85

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Oi, bom dia. Bom começo de tarde. Boa tarde. Bom começo de noite. Boa noite. Boa madruga… Amor, cheguei e já tô com saudades. QUEM NUNCA?

Um dia, pelo menos uma vez na vida, a gente perde a noção do tempo, do espaço, do ridículo. E nesse momento que a gente se encontra rendido, cativo e eufórico é que resolvemos olhar o verso e ver a validade daquele sentimento. Daí, vem a pergunta: só a paixão é suficiente? Porque, lá atrás, alguém, em dado momento de frustração passional, decidiu que paixão sempre passa e que o que vale mesmo é o amor. De lá pra cá, o amor engatou alguma marcha intermediária que nos fez  seguir sem parar.  Porém com um limite claro de velocidade permitida.

Qualquer pisão no acelerador é visto como um indício de imprudência. Como se o amor e paixão não pudessem rumar o mesmo destino. A paixão vai consumir todo combustível, fazer ultrapassagens perigosas, andar no contrafluxo, na contramão e colidir com algum desavisado. A paixão é catastrófica – eles disseram. Já o amor? Ah, o amor… Esse é prudente. Tudo espera. Tudo suporta. Tudo crê. Não se afoba. O amor é educado. Cavalheiro. Abre a porta. Põe o cinto, não avança o sinal e respeita qualquer sinalização. Deve ser por isso que a gente sempre vê o amor com esse quê de calmaria. Essa valsa irretocável que pulsa, com uma cadência própria, a música que lhe convém. Já a paixão é lambada, movimento, transpiração. É calor excessivo, é demasia, é perdição. Rotularam a paixão de uma forma que estar somente apaixonado, não importa. O que vale mesmo é passar o purgatório dos sentimentos e chegar ao ápice. Paixão é Karma, deve  ser superado, evoluir e transcender o Nirvana.

Se isso tudo for verdade, eu sinto muito, mas eu nunca mais amarei ninguém. Eu prefiro a falibilidade da paixão à metáfora de um amor eterno. Prefiro essa falta incessante que a paixão deixa à saciedade que o amor traz. Nada contra o amor perene, a valsa e esse quê de calmaria. Mas o que eu quero mesmo é esse embaraço harmônico. Quero esse mosaico de sentimentos e confusão de emoções que só as paixões costumam oferecer.

 

#DQ85 #espalheamorporaí <3

 

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⁠⁠A teoria da relatividade na conquista |#DQ84

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Uma das ideias mais brilhantes da história é a teoria da relatividade. Einstein já dizia, em linhas gerais, que até o tempo é relativo. Ele questionou não só a ciência, mas um pilar da humanidade: a certeza de que o tempo não para. Obviamente, não temos ainda como chegar a tal velocidade, mas as evidências que ele nos mostrou em seus estudos provam que se até o tempo pode ser relativo, que dirá nossas relações afetivas?

A aceitação de uma atitude está intimamente ligada ao seu grau de reciprocidade. Se você for vítima de uma cantada barata por alguém que tenha seu perfil, isso será visto com humor. Já se for por alguém que não desperte o mínimo de interesse, em alguns casos, será encarado como assédio. Na verdade, não há uma linha moral, lógica e racional que separe, ou melhor, que enquadre, as atitudes como positivas ou negativas. Tudo isso é relativo e depende de diversos fatores individuais.

É claro que existem modelos gerais, atitudes que têm uma probabilidade de aceitação positiva maior. São os famosos “Ás” do baralho – ou coringa, como preferir. Tais atitudes, apesar de não serem absolutas, têm, em sua execução, um poder de conversão maior, por ser justamente a intersecção na maioria das variáveis que são relativas. Ao redor do relativo, tudo costuma ser absoluto.

Desconhecer o desfecho é parte da mágica do momento. Num mundo sedento por fórmulas, algoritmos e métricas, o desconhecido se torna fascinante e desafiador. Entrar a pés descalços num rio em que não se vê a profundidade, ou num campo minado, onde a próxima resposta pode determinar a continuidade no jogo ou sua explosão, é um dos mais belos mistérios que o mundo ainda pode nos oferecer. Não há oráculo no mundo capaz de prever o que pode acontecer quando duas pessoas decidem se conquistar. Não há Google, não há algoritmos. Só há o bom e velho olho no olho. Mãos geladas. Boca seca. Corações acelerados. Calor excessivo. A boa e velha conquista. É a parte analógica de um mundo quase que todo digital. É a engrenagem automática que move nossa vida, só que ainda (felizmente) de forma manual.

#DQ84 #espalheamorporaí

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Prefiro ser indecisão |#DQ83

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Admitir ser indecisão é o primeiro passo para sentir menos culpa. Não levar para o campo psiquiátrico uma característica como outra qualquer é, algumas vezes, impossível. É que, para alguns, ser indecisão é patológico. Não ter uma resposta pronta para as intempéries e desafios da vida é crime – inafiançável. Para outros, é uma inação, reflexo imediato. A sociedade não está tão preparada para entender os indecisos. Por sua vez, esses incompreendidos lançam mão de suas incertezas e decidem por “voto popular” o que deveria ser feito de forma salomônica e individual. Há, nas incertezas que circundam a exatidão, tudo– menos convicção. Então, vocês que têm medo de se perder, antes mesmo de se encontrar, terão nas suas asas cortadas marcas que deformarão sua essência. E de indecisos, vocês passarão a frustrados.

Volta e meia, você se deparará com perguntas toscas do tipo: “O que você gosta de comer? De vestir? De ouvir? De ser?”. Daí, baterá aquela hesitação em responder. Porque, no fundo, nem sabe se você se reconhecerá daqui a uns dois ou três anos, de frente para o espelho. E não digo esse espelho que reflete o que todo mundo vê. Mas aquele que conseguiria ver você por dentro e por inteiro, refletindo cada incerteza que mora dentro de si mesmo. A hesitação é porque não é a primeira vez que você ouviu essas perguntas. E, numa fração de segundos, passa todo um filme de como você já respondeu a todas elas. E até de formas tão diferentes que nem parecem vir da mesma pessoa.

Você, que já quis fazer de Medicina a Teatro, que já se apaixonou por Filosofia, mas descobriu que gosta mesmo é de cálculo, é visto por todos como quem não sabe o que quer. O mundo, a família, os amigos e até aqueles que mal o conhecem lhe cobram certezas, como se o mundo fosse um conjunto harmônico e exato, em que ser ou ter dúvida é ser o próprio caos. Não, você não é caos. Você é sim uma miscigenação de sentimentos e desejos. E que mal há nisso? Você só tem tudo e mais um pouco. Um jeito exagerado em sentir e ser muito. Eu sei, eu sei. O mundo não está tão acostumado a isso e trata como diferente quem ora é amargo, ora é doce. Mal sabem eles o privilégio de ser indecisão! Mal sabem a delícia que é ser agridoce.

 

#DQ83 #espalheamorporaí <3

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O que esperar dos finais? | #DQ82

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Se, no começo, a gente espera sentir aquela ebulição toda de sentimentos (e, quando finalmente sente, parece até doente, sentir febre e quase enlouquecer quando o sentimento passa a ser real) o que esperar dos finais? O que esperar de um fim? Apenas um fim?

Se definir o início das coisas é misterioso, reconhecer términos é algo tenebroso. Ninguém se prepara pro fim. Ninguém se prepara para o fechar de cortinas. Ninguém se prepara para o baixar das luzes, o fim do espetáculo. Finais são como morte. Súbitos, sorrateiros, sujos. Sim, sujos. Podemos até viver com dignidade, mas morrer? JAMAIS. A morte é indigna. É a contravenção da natureza. Não faz parte do ciclo. É o fim do ciclo. Acabar dignamente é uma das mentiras necessárias que usamos para poder seguir em frente.

Nove meses é o tempo que, geralmente, contamos para o nascimento de uma nova vida. Percebem? Conseguimos enxergar começos. Conseguimos acompanhar. E, em alguns casos, prevê-los. Mas e o fim? O fim, não. O fim, a gente só espera, porque ele é certo, mas ninguém ousaria cravar com exatidão quando algo deixará de existir. Nas relações amorosas, não é diferente. Finais, mesmo aqueles programados, não deixam de ser súbitos. Você pode ensaiar quantas vezes quiser. Mas, ainda sim, sairá com a sensação de que tudo acabou “do nada”, mesmo que, mais tarde, consiga ver os reais motivos.

Apesar do Google ter resposta pra tudo e, numa busca rápida, você conseguir listas com sinais de que o fim está próximo,  na real, nada disso fará sentido. Não vai ser porque faltam elogios, sexo, conversas, declarações, ciúmes e tantas outras coisas (que costumam aparecer nessas listas) que tudo vai acabar. Pode ser que sim, pode ser que não. Pode acabar, mesmo que tenha tudo isso e mais um pouco. Pode continuar, mesmo não tendo nada disso. Na vida real não há trailer. Não há letrinhas dos créditos, avisando que acabou. Não há o clássico “The End”, imortalizado no cinema mudo. Não há uma trilha sonora pra falar que chegou ao fim. Não temos nada que simbolize o final das coisas. Elas simplesmente acabam – às vezes, da mesma forma que começam.

Por muito tempo, eu esperei sinais para começar e terminar as coisas. Esperei os avisos que o universo dá quando é provocado. É baboseira. É em vão. Não existem sinais, avisos, ou qualquer outra comunicação. A vida acontece no piscar de olhos. Sim, ela verdadeiramente acontece entre o começo que a gente não espera e o fim que a gente não sabe.

#DQ82 #Espalheamorporaí <3

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Desculpe se amo você | #DQ81

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Desde o começo, você pôs as cartas na mesa. Deixou claro que o que a gente tinha era muito, porém não o suficiente pra arriscar a amizade e desafiar o status quo. Eu nunca liguei muito pra rótulos e definições. Sempre fui dessas que têm certa predileção pela essência sobre a forma. Já você? Bem… Você tem esse jeito insuportavelmente organizado, seletivo e lógico. É irritante olhar os limites que põe nas coisas – e mais ainda esses que impõem aos sentimentos. Parece que tudo, absolutamente tudo, precisa estar nos trilhos. Eu sei que você planeja cada detalhe minuciosamente. E acredita que o acaso não passa de uma desculpa que os preguiçosos usam para tentar se explicar.

Eu preciso ser honesta com você. Tudo começou com um capricho. Era pra ser só uma forma de convidar você pra olhar a estrada além do que se vê, ou, pelo menos, pra dar um volta fora dos trilhos. Era pra ser só um dia qualquer, desses que a gente faz qualquer coisa que mude a rotina. Você sabe, eu nunca acreditei que a vida é uma estrada em linha reta. Mas, dessa vez, eu fui traída pela minha própria cilada. Eu, que queria tirar você dos trilhos, agora me vejo ganhando velocidade. E, perdida dentro de minha própria loucura, eu sigo em sua direção. Sem freio, sem airbag. Eu sinto que não tenho segurança. Queria eu poder voltar ao início. E não agir por capricho, nem não me lançar nessa cilada. Eu devia me manter quieta e deixar você seguir em linha reta. Mas foi inevitável.

Eu sei que você vai pensar que não faz sentido. E, até pra mim, é estranho. Sentir um sentimento brotar instantaneamente na gente e, no segundo seguinte, ele já não caber mais no coração? Ainda mais quando, depois de uma semana, ele exala pelos poros, deixando febril o corpo? Parece doença ou seria amor? Deve ser um ataque, e desses fulminantes. Desculpe se eu vou parecer uma louca, por acreditar em amores assim. Desculpe se, pro meu coração, tempo é um mero detalhe. Desculpe se não respeito seus limites, sua seleção, sua lógica. Mas é que a ideia de ter você ao meu lado parece tão certa, que o que não faz sentido é justamente não convencer você a me amar. Desculpe se o que eu sinto não é semente. E não precisa regar, podar e, muito menos, esperar. Desculpe se não consigo me calar. Desculpe se o que tenho veio pronto, barulhento e frondoso. É que eu só sei ser grande. Eu não sei ser semente. Eu nunca fui muda.

 

#DQ81 #Espalheamorporaí <3

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Eu vou me desfazer de você | #DQ80

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A verdade é que eu construí você com todos os superpoderes que eu queria que você tivesse. Eu o coloquei na estante, na cabeceira e, por último, pus você em mim. Eu tinha tanto de você que, às vezes, não me reconhecia no espelho. Já tinha trocado meus gostos pelos seus gostos, meu penteado, minhas roupas, meus lugares, meu time. E, quando dei por mim, então, você já tinha pedido, ainda que tacitamente, minha vida. Mas isso… Isso é demais pra que eu possa dar.

Os muros que eu ergui para proteger o nosso amor, hoje, me encasulam e sufocam. Eu sempre fui dessas que acreditam que amor é difícil e que é preciso lutar contra tudo e contra todos. Pobre de mim. Talvez a ideia do romance de Romeu e Julieta ainda tenha muitas vidas dentro de nós, românticas incuráveis. Parece que, pra ser amor de verdade, a gente deve desafiar as leis da Física e da Lógica. E, em alguns casos, até divina. Eu briguei com o mundo, por nós dois. Briguei até comigo mesma quando, em surtos de sanidade, eu pensei em desistir. Uma voz, ou algoz -vai saber – sussurrava que desistir é ser fraca, e que quem o faz não está à altura de um grande amor. Eu queria um grande amor. E, assim, precisava engolir sapos e ser forte. Então, eu respirava fundo e fingia que tudo se resolveria como em um passe de mágica. Ledo engano.

E nesse ciclo de recomeços e centenas de segundas chances, eu comecei a  desconstruir você. Os muitos abalos, finalmente, o embalavam para longe da minha vida. E, aos poucos, a gente já não dançava a mesma música. Não frequentávamos os mesmos lugares, não torcíamos pro mesmo lado, ou melhor, sequer estávamos do mesmo lado. Eu me refiz dos meus CDs, dos meus livros favoritos e me descobri, entre os escombros de nossa relação, que, a cada impacto, cada pilar derrubado, era uma chance de me refazer mais um pouco. Você não se deu conta, claro. E faz questão de dizer que eu mudei bruscamente. Eu realmente mudei, porque eu sinto que não voltei a ser quem eu sou. Entre as ruínas que você deixou, eu me reergui, aprendendo que os impactos que fazem cair podem ser os impulsos que nos farão voar. Assim, eu me desfiz de nós pra ter a chance de refazer a mim.

 

#DQ80 #Espalheamorporaí <3

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Sobre términos que deram certo | #DQ79

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Eu parei um pouco agora, pra pensar naquilo que você me falou de que “alguns infinitos são maiores que outros”. Eu me eternizei em você, mesmo que hoje more em outra casa, beije outra boca e tenha outros sonhos. Você se eternizou em mim. Mesmo que hoje tenha um novo amor, uma nova vida, uma nova história. Sim, fomos, durante algum espaço de tempo, o que chamam de casal perfeito. Desses que se fundem num campo harmônico e fazem uma canção de fluxo, rima e ritmo perfeitos. A gente, que mal sabia cuidar da gente, passou a se abnegar em prol de um sorriso fora de hora. A gastar tempo pensando em surpresas e a inventar fugas da realidade para um mundo que era só nosso. O tempo nos ensinou a pensar mais antes de agir – É que, algumas vezes, a razão tem (sim) que se sobrepor à emoção. 

Eu tenho certeza de que algumas pessoas são usadas como passagem. Por favor, não leia isso no sentido de fugacidade. Entenda essa passagem como evolução. Porque, hoje, estamos felizes.  Estamos bem. Mesmo que nossa felicidade não seja como de outrora, que, para se estar feliz, era apenas preciso ter um ao outro. De um jeito incomum, porém não menos dramático, a gente aprendeu que o amor nem sempre vence. E que nem sempre ele é capaz de segurar tudo e aniquilar o destino. Nem sempre o amor consegue ficar –  mesmo que a regra seja que ele fique. A gente aprendeu que amor pode mudar, se mudar e nos mudar. A gente aprendeu que não precisa odiar, rasgar memórias e extirpar lembranças. Alguns amores valem a pena guardar dentro da gente. Você continua tendo vida dentro de mim, dentro de nossas lembranças e momentos secretos.

Às vezes, parece que conversamos quase que telepaticamente. Isso – nem de longe – significa que ainda queiramos um ao outro. Apenas que aprendemos o que a maioria dos casais negligencia: saber a hora certa de acabar. Sim. Se há tempo certo pra começar, não haveria um tempo certo para acabar? Nem toda relação é eterna, mas, como já dizia o poetinha, “que seja eterno, enquanto dure”. Não esticamos o fio que nos atava a ponto de parti-lo. Tampouco não criamos prorrogações sádicas quando o fim do jogo pareceu evidente. Não escondemos a sujeira debaixo do tapete e nem nos escondemos no conforto de uma relação preguiçosa. Não foi fácil, eu sei. Mas foi graças a isso que a gente continua, até hoje, dando certo.

 

#DQ79 #espalheamorporaí <3

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Você é um clichê necessário | #DQ 78

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Eu já havia cansado de ver promessas impossíveis de amores eternos estamparem fotos e vídeos toscos nas redes sociais. Eu já havia perdido o fascínio por cenas românticas, cartinhas, flores e serenata de amor. Já não mais havia tesão na ligação demorada madrugada adentro. Eu já sentia que tudo isso era bobagem e não seria preciso nada disso pra ser feliz. Eu havia desistido de viver o lado bobo do amor, em troca de um sentimento maduro, retilíneo e racional. Quando, enfim, eu me senti inabitável, infértil, cético e incapaz de enxergar com o coração: você apareceu.

E apareceu do nada, me trazendo tudo aquilo que eu havia deixado de acreditar. Você é como uma piada sarcástica que o destino usou para zombar desse tal amadurecimento, que a gente passa a acreditar depois de colecionar despedidas.
Você não é um sonho: você é o despertar. Desses que me acordam de um pesadelo, que é deixar a leveza do amar ser tomada pela apatia das relações genéricas, conclusivas e exatas. Eu quero viver esse delírio delicioso que é acreditar em que você e eu teremos a sorte de não sermos passageiros. E se for passageiro, eu pego carona nessa viagem pra onde haja vida, você e os tais clichês frívolos- mas tão necessários. Vou pra onde haja emoção e sentimentos saltando pelos poros, como se não coubessem mais em mim. Vou pra onde haja calor. Pra onde eu busque, anelante, teu ar ofegante, transpirando cada instante, tão efêmero e tão constante, que não parece mais haver adiante. Pois é sempre fim. É sempre agora. É sempre já.

Há aqueles que hão de me cobrar a razão, a sensatez, a racionalidade que eu fiz questão de bradar, antes de conhecer você.
Desculpem minha apostasia, meu desagrado, mas estou rendido a sentir demais. Predestinado a ser inquietude. Inconveniente. Refém de alguma falha genética, rearranjo cromossômico, ou simplesmente desalinho sentimental. Esses esperam minha cabeça à mesa, apostando que, mais uma vez, hei de cair em frustração. Se for assim, dou-lhes isso mesmo antes de sucumbir. Afinal, não preciso da cabeça, se o que sinto é com alma, víscera e coração.

 

#DQ78 #espalheamorporaí <3

 

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