Após uma grande queda, se tem um forte impacto. Eu já sei: você pensou que iria começar esse texto falando sobre você se reerguer e usar alguma frase do tipo: “quem cai sete, levanta oito”, né?
A verdade é que ninguém se levanta imediatamente. Precisamos sentir a queda, sofrer o impacto para, aí sim, decidir qual a hora de levantar. E isso não seria diferente nos relacionamentos. Você pode até não sair por aí, pegando geral. Mas, uma hora ou outra, você ficará tentado a fazer isso. Quando falta qualidade, se compensa na quantidade. Porque você experimenta várias roupas pra saber qual melhor veste você, não é mesmo? Daí, vamos do varejo para o atacado. Fazemos do outro, consumo. E de nós mesmos, mercadoria. Percorremos as sessões abarrotadas de opções. Baixamos os aplicativos que aproximam as pessoas por preferência e que promovem uma seleção algorítmica, no que você deve ou não gostar. Como um passe de mágica, ou melhor, com um triscar de teclar, temos, diante do nosso vazio, um turbilhão de perfis compatíveis, classificados de acordo com nossas necessidades.
Deve ser por isso que incutimos, de forma quase robótica, a necessidade de ter um relacionamento perfeito. Nada contra quem se vale da tecnologia pra conhecer novas pessoas. Mas confesso que sou da moda antiga. Desses que vão preferir uma dose de acaso, com os dedos cruzados, um encontro às cegas, pra descobrir se ela gosta das mesmas séries, das mesmas bandas ou da mesma comida. E se não, que novidade vai trazer? É bom sentir a tensão que se faz por trás das cortinas do primeiro encontro. É que nele sempre rola uma espécie de show de Truman. As pessoas vestem não só as melhores roupas. Vestem sorriso, vestem alegria. Algumas até vestem uma personagem – não por maldade, mas, talvez, só pra poder se encaixar nos tais “algoritmos”.
Depois das primeiras frustrações, que, muitas vezes, impedem casais promissores de dar o primeiro passo, caímos em contradição, e aí começa toda confusão. Todos falam ao mesmo tempo. Você fala quem pensava que ela fosse, quem ela é e quem ela acha que é. E vice versa. E a conversa, que era pra ser a dois, fica a seis. E aí “cês” já imaginam o fim da história! Casais promissores se perdem antes mesmo de se encontrarem. Tornam -se dessincronizados pela pressa, desarmônicos pela simetria, que só Deus sabe que existe. “Ele não é vegetariano”, “ela não gosta de futebol”, “ele acredita no socialismo”, “ela é isso, aquilo…” Mal sabem que são essas diferenças todas que os livrarão da monotonia, que é conviver com o espelho. E essa é a história dos romances não vividos. Dos amores que sucumbiram antes de serem erguidos. Histórias ímpares de casais que se apartaram, antes mesmo de virarem par.
#DQ76 #espalheamorporaí <3
Perfeito…tudo que uma pessoa recém separado precisa saber.parabéns Belo texto!!