Trilha:
Você vai conhecer alguém que vai fazê-lo não querer mais ninguém. Você vai acordar e dormir pensando nessa pessoa. Toda vez que ela chegar perto de você, seu peito entrará num frenesi cardíaco que fará inveja à bateria da escola de samba Beija-flor. Você conversará o dia todo e, ainda sim, faltará tempo e sobrará conversa para o dia seguinte. Tudo isso é verdade. Quem sou eu pra discordar disso? Mas o que a gente esquece é que a paixão é monogâmica por natureza. O amor, não. Calma. Não quero dizer que o amor é bi, tri ou “zilhogâmico”. A questão é que a paixão por natureza tem esse gosto insaciável. Já o amor traz, em seu bojo, a maturidade e a constância. Ninguém vai se engasgar bebendo amor. Já a paixão, isso é quase uma regra.
A paixão decide por você. O amor, com você. A paixão pensa por você. O amor, em você. É preciso admitir que não fomos feitos em pares. E, por mais bonito que isso pareça na poesia, na realidade, isso é apenas o reflexo de nossa ilusão. Nós não somos monogâmicos. Sentimos ou sentiremos desejo por outra pessoa, de possuir outros corpos e descobrir novas sensações. Há um espírito aventureiro em todos nós. Descobrir terras além-mar não foi suficiente. Hoje, mesmo após conquistar os quatro cantos do mundo, o homem se lança ao espaço em busca não só das descobertas, mas das experiências que, com certeza, trarão.
É preciso desconstruir o mito criado em torno da monogamia, bem como o de achar que amar alguém nos fará imunes a desejar outras pessoas. Isso não é e nunca será um estímulo nato. É, sim, uma decisão diária e com doses cavalares de renúncias. Toda traição põe em xeque o sentimento alheio, como se ela fosse uma prova cabal de que não há amor. Talvez haja sim, mas faltam caráter, domínio próprio e todos os outros ingredientes que compõem a fidelidade e a monogamia. Quando você admitir que somente o sentimento seja suficiente e partir para um exercício de sacrifício e altruísmo, vai descobrir que não há no mundo uma alma gêmea sequer. Se você é do time dos românticos, vai lutar contra isso. – Mas, calma! Isso é maravilhoso! Afinal, há, no mínimo, mais de uma chance de ser feliz.
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