Quem é você na travessia? |DQ 193

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Trilha: 

Você precisa atravessar para o outro lado, mas o gelo é fino demais. O que fazer? Nunca fui bom de Física, mas me lembro de quando o professor perguntou isso em sala, e um amigo disse: “eu passaria o mais lento possível, assim, qualquer estalo eu poderia voltar”. O professor replicou: “se o estalo acontecer exatamente na metade do caminho, fica difícil saber se é melhor voltar ou prosseguir. Concorda?”. Fez-se um silêncio na sala durante alguns minutos, até outro aluno vir com uma segunda teoria: “professor, devemos ver a coloração que o gelo tem e só assim atravessar”. – Ótima análise – disse ele – percebo que você gosta do Discovery Channel. Mas você sabe distinguir as cores? O aluno balançou a cabeça negativamente. Mais um aluno lançou uma teoria: “o segredo está na velocidade. Quando se está sobre uma superfície frágil, devemos atravessá-la o mais depressa possível”. Imediatamente, outro aluno replicou a teoria de seu colega: “atravessar deitado, arrastando-se, é a melhor opção. Quanto maior a área de contato, menor a pressão”.  Mais uma vez, o silêncio tomou conta da turma, e o professor passou a mão no queixo, como que preparando uma resposta que extrapolaria a Física. Parecia vir dali uma lição de vida: “as diferentes respostas compreendem mais que sua interpretação da Física. Todos nós temos nossas teorias sobre como enfrentar situações adversas”, ele afirmou. A primeira teoria diz respeito àqueles que ficarão tão atemorizados com a possibilidade de afundar que, ao primeiro estalo, correrão para a margem. Essas pessoas estão sempre inventando desculpas para se negar a travessia. Usam como subterfúgio o excesso de cuidado, porém nada mais é do que um eufemismo para covardia. São bons amantes, podem topar uma travessia e correr riscos controlados, mas, ao som do primeiro estalo, abandonarão a travessia e voltarão para seu estado inerte.

A segunda teoria pertence aos metódicos. Eles farão a boa e velha balança dos prós e contras ou, pelo menos, acham que estão fazendo isso. Essas pessoas têm a necessidade de calcular até mesmo o imponderável. Seus referenciais chegam a ser tão rasos quanto a espessura do gelo. Não sabem distinguir qual coloração é a ideal. Não sabem o que realmente precisa ser analisado e, geralmente, afundam em suas próprias convicções. De que vale a análise se não se entende os parâmetros? Ora desistem, ora afundam, dependendo mais da sorte do que da lógica, que tanto se gabam. A terceira teoria nada mais é do que o reflexo de um grupo de pessoas que assume riscos desnecessários. Em contraponto ao primeiro, que a qualquer estalo se volta para a margem, esses estão tão preocupados em concluir a missão que esquecem que o maior desafio não está na chegada, e sim no caminho. Adoram atalhos e costumam se perder do caminho.

Algumas vezes, culpa da velocidade. Outras, culpa dos próprios atalhos. Essas pessoas têm um instinto natural em superar desafios, são ótimas competidoras e se dão melhor com pessoas iguais. Estão sempre motivando seus parceiros a correr riscos, vivem de uma vez a adrenalina de toda uma travessia. Sempre precisam de mais, desconhecem o que é satisfação e precisam estar sempre diante de novas travessias. A quarta teoria é bem interessante, pois, ao contrário da segunda, sabe o que está analisando. Realmente, há uma lógica bem mais coerente, se aumentar a área de contato quando o objetivo é diminuir a pressão. Mais interessante ainda é que, apesar da variabilidade das teorias aqui levantadas, todas têm um ponto em comum: não param para pensar no problema. A segunda até tenta entender, mas não se relaciona com ele. Parte por não querer, parte por não entender. Por muitas vezes, adiamos soluções por estarmos muito fechados em nossas convicções. Afinal, entender o mundo alheio é um importante ponto de vista. A quarta teoria não só tenta entender, como, literalmente, ABRAÇA o problema. Sente o frio dele cortar a pele, mas, dessa forma, consegue aliviar a pressão.  E chegar ao outro lado da margem, agora, é apenas uma questão de tempo.

 

 

#DQ193

#espalheamorporaí <3

 

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