Trilha:
Se eu conseguisse escrever o que sinto por ti, seria um dos maiores fracassos da história da Literatura. Afinal, o amor que as pessoas compram é clichê, e o meu… ah, o meu é aquele absurdo que todo mundo confunde, até eu mesmo, com obsessão. Não dessas que matam e ferem. Mas dessas que deixam marca na alma, como se fossem um hematoma perpétuo. O que sinto não causa frio na barriga— é uma úlcera que morde as paredes do meu intestino e corrói todas as minhas entranhas. O meu é tipo fome, mas não dessas que se sentem entre uma refeição e outra. Meu amor é fome que mendiga migalhas, sorrisos, beijos e se alimenta morbidamente de tudo que cai do teu prato.
Muito já se falou sobre amor e amar. Sobre os vários tipos e formas de gostar. Eu mesmo já quis colocar todo meu talento à prova em versos que te provem, pelo menos por alguns segundos, tudo que sinto. Eu já busquei inspiração em coisas, lugares e até livros. Já me fiz sacana em versos indecentes que te fizessem suar, assim, de repente, como um suor flambado em desejo e regado ao vício que, pra mim, é teu cheiro. Já banquei o ultrarromântico em poesias que te fizessem chorar, como se o choro fosse uma prova de algo, desculpas. Já quis empenhar toda minha alma numa frase, mas ela caberia numa linha, se o texto quisesse mesmo traduzir a imensidão de te amar.
Convencido de minha missão inglória, eu te dedico meu lamento e uma ou outra dose de analgésicos. Há meses, escrevo, tento rimar com algo que preste. Faço um verso e apago, começo a olhar tua foto e divago. Voo pra uma ilha que deve ser cenário de filme. Confundo as personagens e coloco nós dois num cenário paradisíaco. Ah, se minha pena conseguisse escrever como meu coração sente! Imagina só, ler meus sentimentos e minha devoção? Mas vou continuar tentando. Quem sabe, um dia, eu desafio as leis da escrita e escrevo, de um jeito perfeito, toda nossa vida
#DQ192 #espalheamorporaí <3