Trilha:
Ouvi de uma amiga, que estava pra lá de Bagdá, a seguinte frase: “Eu não vou escolher mais ninguém, eu vou deixar que alguém me escolha. É tão difícil escolher alguém!”. Devo admitir que bêbados têm seus méritos, quando o assunto é frase de reflexão. Hoje sentei pra escrever e lembrei-me desse episódio. Realmente, o poder da escolha é algo tentador e, ao mesmo tempo, assustador. Todos os dias, somos obrigados a exercer nosso poder de decisão e, se você se recusar a usá-lo, ainda sim, isso será uma decisão. De qualquer forma, o que quero dizer é que não há como fugir. Decidir é algo tão certo quanto necessário.
Mergulhado em algumas das decisões que eu julgo serem as mais importantes da minha vida, percebi que a gente só se dá conta da importância que uma escolha tem, quando decidimos de forma errada. Do contrário, passamos por cima e vamos colocando culpa no acaso, destino ou na força superior que você acredite. Você pode ter mil e um motivos para confiar, mas a decisão de confiar ou não é sua escolha. Pode haver mil e um motivos para continuar, ainda sim, essa decisão será sua. Só quem sente o gosto amargo da culpa, sabe o quanto pesa fazer uma escolha. Toda nossa vida está baseada nas escolhas que faremos. Todavia, há somente duas escolhas que não nos cabem. E talvez, as mais importantes: nascer e morrer. Curiosamente, os dois extremos dessa jornada que chamamos de vida.
Imagine dois prédios de mesma altura, distantes entre si, em um espaço qualquer, ligados por uma tábua estreita, que mal cabe a largura de seu pé. Logicamente, a travessia de um lado para outro, para os mais radicais, será adrenalina pura, quiçá, atravessarão de cabeça para baixo ou com alguma espécie de malabarismo circense. Para outros, será um passo de cada vez, calculando incessantemente os riscos, no afã de manter o equilíbrio necessário e tentando não pensar na queda que parece iminente. Pois bem. Esse equilíbrio é a vida. Como você atravessará são suas decisões. Não há aqui, nas entrelinhas desse texto, um tom professoral de alguém que vai ensiná-lo a forma como se deve atravessar a vida. Ainda que tivesse essa sabedoria, essa escolha não é minha, é inteiramente sua. A vida é o equilíbrio constante entre suas escolhas e consequências. Neruda uma vez disse que até somos livres para escolher, mas prisioneiros das consequências dessa escolha. É uma verdade simples e profunda. Importante frisar que não é porque começou devagar, dando um passo de cada vez, que se vai terminar nesse mesmo ritmo. O lado bom da escolha é justamente esse. Trocar o ritmo, correr riscos ou simplesmente levar a vida devagar. No fim, o que importa é chegar do outro lado, com a sensação de que valeu a pena a travessia.
#DQ172 #espalheamorporaí <3