Trilha:
A verdade é que me enganaram. Disseram-me que amor era algo tão natural, que eu iria aprender sem cair tanto. Ledo engano. Eu penso, depois de todos esses erros que carrego no peito, que amar alguém é como brincar de roleta russa. A única ressalva é que não é apenas uma bala que colocamos no tambor do revólver. E o calibre, dependendo do sentimento, faz ainda mais estrago. Ao contrário da roleta russa, como conhecemos, no amor, são várias munições engatilhadas, prontas pra nos detonar e apenas uma chance de não cometer suicídio. A lógica pode até ser similar, mas as probabilidades são totalmente inversas.
Disseram-me que, quando se ama, a gente nasce novamente. Mas e quando se erra o alvo? Quando se puxa o gatilho no momento errado? O que vem depois do disparo do tambor? Se acertar (lê-se: amar), é nascer novamente, amar quem não nos merece é similar a um suicídio. Pode até ser que a morte seja ficção, mas a dor, essa sim, é real. Amar alguém que nos fere mortalmente, como se nós fôssemos culpados pelo crime de tentar, é ser condenado pelo gatilho que nós mesmos puxamos, toda vez que a roleta gira.
A gente vai brincando, vai se viciando e se matando, mesmo que figurativamente. E aí apertamos gatilhos, gastamos munições e vamos brincando com a sorte, jurando não mais nos precipitar ou brincar com algo tão sério e perigoso. Mas a adrenalina é viciante e, ainda que seja errado, amar é um sentimento tão gostoso, que mal dá pra resistir. Daí o grande problema é justamente esse: nós nos viciamos nos riscos, na adrenalina, no medo que estar refém nos traz. Seria cômico, se não fosse trágico, mas na roleta russa do amor, somos presas fáceis de um destino que, de um jeito ou de outro, é sempre fatal.
#DQ163 #espalheamorpoaí <3