Sepultamento de uma (ex)romântica |DQ89

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O amor me ensinou a morrer. Foi quando, de saudade em saudade, eu passei a não mais conseguir sentir falta das histórias , dos beijos, das promessas e, principalmente, das pessoas. Eu já fui muito sentimental, sabe? Quando digo isso, quero que entenda como se eu fosse uma receita com apenas um ingrediente: coração. Eu sempre fui tomada pelas minhas emoções, cativa dos meus desejos e refém das paixões efêmeras que a vida parecia fazer questão de me propor. Eu acreditava que é preciso colecionar quedas para finalmente vir alguém que levante e carregue. Porém, chega um tempo na vida em que a gente perde a tesão que o perigo nos oferece. A adrenalina perde toda graça. O medo é substituído pela prudência. E a gente quer menos emoção, menos sentimento e mais realidade. Nessa hora, eu senti tocar a marcha fúnebre, uma valsa lenta e nenhum flor. Passava meu corpo, sem nenhum cortejo. Ninguém me viu. Ninguém chorou. Morria ali uma menina romântica.

O laudo da perícia apontava vários traumas antigos. Também, desde a infância , eu passava horas escrevendo cartinhas e colorindo corações para eles serem amassados e transformados em bola, na hora do recreio. É um exemplo tosco, mas, já adulta, entendi o quão significativa era aquela situação. Nada mudou. Eu apenas troquei as cartas por scrap, depois por sms e, mais tarde, por whats. Continuava imprimindo meu coração como único e suficiente conteúdo. Deu tão certo quanto a estratégia do general Crasso, que, talvez, não teria tido tal fama se o mundo conhecesse minha história.  A questão é que chutaram meu coração na infância. Ignoraram meu scrap na adolescência e printaram minhas emoções na fase adulta. Isso que me fez querer a morte mais que o amor – se é que ele realmente existe.

Assim, escrevo minha última carta, em tom de epitáfio. Eu não teria uma forma mais clichê e menos dramática de encarar a morte. Eu quis o perigo. Eu quis a loucura. Eu quis um amor sem dimensões. E tudo que eu consegui foi um coração vazio, ecoando solidão. Aqui jaz um coração.

Em suma: sumiu.

#DQ89 #espalheamorporaí <3

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