Limpo ou puro? | DQ 198

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Trilha: 

Já dizia um grande pensador que o homem nasce como uma folha em branco. A ideia é simples. Nascemos limpos, o que não quer dizer puros. (Pelo menos, não necessariamente). Um relacionamento pode se manter limpo mesmo sem ser puro. A limpeza é o tratamento diário, superficial. São as aparências que impressionam os olhares mais óbvios. A pureza é uma espécie de Santo Graal da limpeza. É o selo de resistência. Ser puro é o prêmio que os casais que permaneceram limpos recebem por seus esforços.

A pureza de uma relação é medida pela capacidade de resistência ante às pressões externas. Quando resistimos a essas pressões, mantemo-nos puro. Quando recomeçamos, após sucumbir num erro, limpamo-nos. Ou seja, pureza é um bibelô que se põe na estante principal, no afã de impressionar os outros. É título que envaidece e superestima relacionamentos, dando a eles superpoderes. Casais puros não se aproximam dos caminhos tortuosos e da margem da estrada. Há uma espécie de detector de perigo que é acionada, mesmo a léguas de realmente estarem diante de um. E, de longe, nunca saberemos se é medo ou excesso de preocupação.

Já casais que estão limpos, vivem na difícil e, às vezes, ingrata rotina de varrer a sujeira do dia. Estão ali errando, sujando, corrigindo, limpando. Já perderam a pureza e, pra falar a verdade, sequer estão preocupados com isso. São atraídos para margem e, vez ou outra, derrapam nas curvas mais sinuosas. O bom é que o desejo de limpeza impera mais que instantaneamente. A pureza de um casal é sensível. A de limpeza, compreensível. A sensibilidade está para a fragilidade, assim como a limpeza está para a compreensão.

A vida sem máculas deve dar um trabalho danado. Deve ser difícil negar-se à ira, ao egoísmo e a tantos outros sentimentos que batem à porta dos casais. Talvez não querer se limpar todos os dias dê menos trabalho, mas “poder sujar” deveria ser parte do pacto. Até porque, no fim, o que vale mesmo é claro, ser feliz.

#espalheamorporaí <3 #DQ198

 

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