A autenticidade do perdão | DQ 191

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Trilha: 

 

Talvez o perdão seja a maior demonstração de amor que conhecemos. Mais que flores inesperadas, declarações públicas ou a permissão para o outro para dormir do lado da parede. Essa última, tecnicamente empatada, perde no limite da margem de erro. O perdão vence, porque ele é o orgasmo de um sentimento nada impulsivo, chamado amor. Toda vez que o amor perdoa, ele goza. Perdoar é extravasar bem na cara do outro a abnegação do ego. É colocar acima do nosso desejo nato de vingança, que chamamos de justiça— para não parecermos cruéis— uma segunda chance ao outro.

O problema é que o perdão é um sentimento tão nobre que, paradoxalmente, pode nos deixar assoberbado. Eu sei, é loucura, mas a vaidade é tão traiçoeira que pode aparecer até no exercício do perdão. Já vi diversas pessoas se vangloriando por serem humildes. A questão é que a altivez que o perdão pode provocar cria uma condicionante para a concessão do perdão. Admitimos liberar o perdão, se e somente se, não houver reincidência. E para não haver reincidência, precisamos fiscalizar. Daí, auditamos cada passo do outro. Viramos não mais perdoadores, e sim carcereiros. Aprisionamos o outro, legitimados pela suposta benesse que o perdão nos dá.

Fiscalizar quem errou satisfaz nossa sede de vingança (lê-se: justiça). Estabelece no outro o sentimento de dívida e aprisionamento. Nasce uma pressão tão intensa e pesada que provoca a rebeldia. A rebeldia, uma vez instaurada, pede a contravenção e é legitimada pela sede de vingança que, claro, não também existe em quem buscará o perdão inicialmente, —que, nesse momento, sequer lembra que errou: está tomado pela revanche. Ou seja, essa confusão toda, simplesmente porque o perdão virou moeda de troca. A gratuidade do perdão não é só sua forma mais autêntica, mas sim sua única forma. Talvez por isso seja tão difícil perdoar e, mais ainda, ser perdoado.

 

#DQ191 #espalheamorporaí <3

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