Trilha:
A naturalidade numa relação é tão necessária quanto as esporádicas, mas não tão raras quanto as surpresas. É que manter um padrão natural estabelece um conforto ideal e, por conseguinte, um desgaste na linha do suportável. Sim, uma relação, por mais saudável que seja, exigirá de você um desgaste. É óbvio , pra não dizer elementar, que esforços em prol do bem alheio costumam passar despercebidos. Até porque quando se começa a perceber, começa-se também a incomodar. O sincronismo do ritmo que cada um leva não é lá das tarefas mais fáceis. A gente sempre se atropela nos primeiros passos, nos primeiros voos.
Tal como uma balança, relacionamentos saudáveis são aqueles que equilibram as necessidades individuais, em prol do bem em comum, estabelecendo uma equalização entre as particularidades. Daí, essa simetria, independente de ser kármico ou catastrófico, precisa ser natural. É que, no dia a dia, não vai sobrar muito tempo pra pensar na melhor atitude, e os gestos, impulsos e atitudes serão automáticos, tipo esse movimento involuntário, que chamamos de reflexo. Assim, é perda de tempo -e por que não dizer de vida?- achar que podemos fingir um ritmo diferente do nosso natural para agradar ao outro.
Nessa biosfera dos relacionamentos, há aqueles que não andam, mas rastejam. Répteis, que raptam nossas forças e sugam sempre pra baixo qualquer desejo além de vagar pelo chão. Talvez, se tivessem oportunidade de olhar o céu, cultivariam o desejo de voar. Há também os anfíbios, esses híbridos, são os mais perigosos, pois nos enganam mais facilmente. A gente nunca sabe se eles vão pular, rastejar ou nadar. São os andarilhos que entram em nossas vidas, com promessas de boas aventuras, mas que, no fim, são tediosas mudanças de vida.
Felizmente, há aqueles relacionamentos que buscam mais além. Olham para cima, e o céu parece ser um convite impossível de resistir. São relacionamentos que não sequestram os nossos sonhos, pelo contrário: são como asas. Escondem o chão, e voar vira uma obrigação. A queda é uma possibilidade, mas, pra quem tem asas, a altura é irrelevante.
Parceiros que encontram o sincronismo natural do bater de asas decolam rumo à felicidade, num ritmo tão natural que parece mágica, pelo menos para os outros. É que voar não é natural pra todo mundo. Melhor nem contar, caso você tenha planos ou asas. Isso só despertaria inveja alheia. Voe alto. Fale baixo. Ou melhor, não fale. Afinal, nenhum pássaro voa, olhando pra suas asas. Para eles, voar é natural.
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