Trilha:
Existe uma diferença “normal” entre percepções de sentimentos. É a velha história de ver o copo pela metade, mas, mesmo assim, para alguns, estará meio cheio e, para outros, meio vazio. Ninguém ama de forma altruísta, como se não esperasse que os esforços despendidos em favor do outro não voltassem, ainda que com um deságio, em forma de reciprocidade. É como quando você dá uma viagem dos sonhos e ganha de volta um eu te amo, que, por si só, é melhor que qualquer viagem, mas que, pra você, pode não significar tanto assim, haja vista que falou isso na segunda vez que saíram juntos — Perceberam? É justamente bem aí que as percepções ficam tão complexas que a balança parece perder o fiel. Não há uma escala única, ou mesmo unidade de medida padrão, que mensure o peso das ações e das palavras numa relação. Para alguns, a palavra é tudo, para outros, nada. Para alguns, ação é tudo, para outros, somente ‘quase’. E, não podemos negar que atitudes têm um peso diferenciado e, se não concordar comigo, lide com isso.
Não teria nenhum problema se e, somente se, fôssemos iguais no que diz respeito à saciedade emocional e se houvesse a tal escala padrão que medisse o esforço alheio. É só parar pra pensar e lembrar que, para alguns, dizer eu te amo é tão fácil quanto desejar um bom dia. Já para outros, eu te amo é quase um epitáfio. É uma prova e tanto, principalmente no mundo de hoje, parar e ver com os olhos dos outros. Parar pra medir com a régua do outro. Parar pra sentir como o outro. Logo pra gente tão egoísta! Logo pra gente que enxerga sempre um amor caolho!
Na subjetividade da percepção, a afetividade alheia não há razão, até porque se tivesse não seria subjetiva. O que nos resta é confiar no sentimento do outro e seguir pelo árido caminho da fé de ver e ter coragem no amor. Exigir de outro uma reciprocidade que nos satisfaça é tão, ou mais difícil, que a exigência de amar sem esperar nada em troca. Então, que seja leve e releve os fardos, tanto das expectativas não atendidas, quanto da culpa de ser egoísta.
#DQ168