Trilha:
Um coração superficial, um violão desafinado e uma dose de qualquer líquido amargo. Isso é o que tenho, é o que me sobra, depois de mais um ciclo de paixão avassaladora, de pressa e de um querer a ti, febril. Eu preciso desfibrilar, desacelerar. Preciso me recompor. Em choque, sou arritmia que precede a morte do pertencer a ti.
Eu me sinto pálida, sem o rubor de teus lábios rente à minha pele, que não mais doura. Antes, cálida e sedenta, agora, saudosa. Eu te quis um pouco mais. Eu, de ti, precisei, mesmo tu sendo, em suma, imprecisão. Sumiste, levando não só o sentido. A direção, levaste o caminho. Para aonde irei, se há sempre essa pedra no meio do caminho? Ou será se o meu caminho é rude feito pedra e revel, contrário ao destino de seguir em outra direção? Que culpa tenho eu, se, desse lado do amor, sofre-se em demasia e se ama em abastança? Assim como o medo que se tem em volta de um precipício é vontade de cair, em volta do amor, tudo é queda. Não existe equilíbrio, não existe prudência.
É que minha rota de amor não tem planos alternativos, atalhos ou passagens secretas. Sou linha reta, com depressões, que espero que releves. Tão improvável quanto encontrar alguém disposto a viver um amor, assim é ele perdurar. Sou dessas que vão amar tudo em um só dia, em uma só noite. Amanhã eu estarei de ressaca moral, em crise de consciência, por me dar por completo, convivendo com o gosto amargo, que fica de beijos fugazes e noites de sacrifícios de corpo, mente e alma. Recuso-me a parceiros de vida, promessas brandas, tenras e eternas. O que eu quero é um pacto, tão forte quanto à vida, tão inesperado quanto à morte.
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