Trilha:
“Nem sempre dá pra prevenir, mas sempre dá pra curar”. Tá, eu sei que o ditado não é bem assim. Mas, cá entre nós, deveria ser sim, desse jeito. É que prevenção não é, em alguns casos, sequer opção. Há uma galera que vai me condenar, apontando os manuais de segurança e dizendo que todo acidente pode ser evitado. Mas será mesmo? Será se não é altivez nossa achar que dá pra prever em que esquina vamos derrapar e colidir com a maior cilada de nossa vida, que, por crueldade do destino e vergonha no futuro, daremos a ela um apelido carinhoso (lê-se: vergonhoso)? Será que dá pra não perguntar o nome daquele (a) que a gente vai querer apagar o número do celular, mas vai lembrar-se até do perfume? Acho que não.
E como não há prevenção, remediar, então, seria pior que misturar Merthiolate com limão e arrancar o cascão. Porque remediar é remendo e, mesmo que não deixe nenhuma cicatriz, a gente sabe que nunca, em hipótese alguma, um machucado é esquecido completamente. A gente não pisa com tanta força, não corre com tanta pressa, não atravessa mais sem olhar. Daí em diante, a vida passa a ser vivida o mais próximo dos 100% que for possível. Você evita uma declaração de amor, por achar que é cedo demais. Evita ou rejeita um convite pra sair, que não tenha o intervalo inútil de dois dias úteis, e tantas outras regras fúteis que, travestidas de maturidade, só atrasam a nossa vida de seguir no fluxo normal.
Há, no entanto, na cura, algo diferente do remediar. É um quê catártico que purga a culpa e exorciza qualquer resquício de fantasma ou dor antiga. Cura é redenção. Liberta o perdão e traz uma nova vida. Vida novinha. Zerada. E que permite encontrar um novo amor, ou mesmo — infelizmente— uma nova cilada. Mas é o risco que se corre toda vez que se aposta. Afinal, se acertar é um grande amor. Se errar, foi só mais uma aposta.
#DQ157 #espalheamorporaí <3