Trilha:
Tô aqui, sentado no canto esquerdo da cama, lembrando que ano passado, você ainda brigava por esse lado, por causa parede. Lembrei-me da gente correndo pelo espremido quarto-que é ainda amarelo com lilás- porque não tive tempo (lê-se: grana) pra pintar de outra cor. Olhei o livro, que você deixou por ler pela metade, e me deu uma vontade de ir atrás de você pra devolver. Tá, não foi lá um namoro, que você jura que encontrou o amor da sua vida. Foi uma diversão gostosa pra ambos e que a gente, no fundo, sabia que, mais cedo ou mais tarde, a gente esfriaria. Não tivemos aqueles términos gloriosos, com direito à trilha de fossa e corações odiosos, reclamando o erro do outro, no tribunal de amigos em comum, e se escondendo atrás da pilha de coisa que ficou um do outro, após a separação. Não fomos aquele casal que desenhou a casa dos sonhos, e já até tinha “batizado” os nomes dos filhos que teríamos no ano de 2022, depois daquela viagem que faríamos pro Chile, regada a vinhos e àquele queijo engraçado, que você odeia que eu diga -que tem cheiro de pum- mas você sabe que tem.
Não fomos aquele final doloroso, que faz a lembrança do outro ser um pecado capital. A gente foi bem normal. Normal até demais. Era um beijo normal, um gostar normal, uma saudade normal. Tudo era normal, até que, normalmente, a gente se perdeu e fatalmente se separou. Ali, pela esquina qualquer, em que se cruzam as paixões corriqueiras e acaba na travessa do esquecimento. Ali, pelo caminho óbvio das relações que a gente esquece, porque não tem nada de bom ou de ruim pra lembrar. Ali, pela estrada invisível que faz a gente se esquecer de que foi companhia, um dia, um pro outro e, quando lembra, surpreende-se, ou até mesmo, confunde. É que os términos geralmente são lembrados com aquele tom fúnebre e pesaroso, ou mesmo aquela saudade fina, que engole o peito, deixando a gente pequeninho. Mas o nosso, foi… Normal.
#Espalheamorporaí <3 #DQ148