Amar de verdade dói | #DQ135

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“Mar calmo nunca fez bons marinheiros”, “no pain, no gain” e tantas outras frases sugerem a ideia de que as adversidades moldam o caráter, forjam a resistência e nos deixam mais fortes. O mantra da superação é repetido amiúde desde os filmes de ação até em conselhos amorosos. Mas há, nesses intervalos que intercalam os momentos felizes, dor. Muita dor mesmo. Tal como o atleta que rasga os músculos, numa série de hipertrofia, o amor de sua vida lhe fará alguns calos e lhe causará (sim) dor.

A ideia de sentir dor não é necessariamente doer, mas sim de desconforto. Desconforto que a vida em conjunto naturalmente nos traz, ou o causado pelo contrato implícito,  que nos imputa uma liberdade parcial. Talvez você seja adepto dos relacionamentos abertos, o que, ainda sim, não excluiria essa perda de liberdade plena (vamos deixar isso pra uma próxima dose). O cerne da questão é: quanto vale a pena sentir essa dor? Quando sabemos se estamos a sofrer por um bem maior, ou o sofrer é bem maior?

Não existe resposta definitiva pra essas perguntas. Afinal, relacionamento é individualizado, adaptável e ajustado na balança que equilibra a reciprocidade. Penso que, se as ostras pudessem sentir algo, não existiriam pérolas no mar. Imagina só, ter dentro de si, um grão de areia que atrita diariamente com sua carne e disputa espaço dentro de você? Imagina precisar carregar esse grão de areia todo o tempo? Imagina a inveja que ela não deve sentir das outras ostras livres de areia? Mas a ostra vê o grão de areia com esse olhar de superação. Pra ela, a dor parece valer a pena. Então, abraça-a e, envolvendo-a com uma camada lisa, suporta a dor e os dias difíceis. O resultado, a gente sabe, uma pérola é formada e fica bem mais confortável abrigar aquele grão de areia, antes de superfície pontiaguda. Acho que isso nos prova que amar de verdade dói. Porque o amor de verdade nos colocará à prova, tal como as ostras são. A verdade é que a dor amolda, ou melhor, adorna alguns relacionamentos. Tanto que Rubem Alves já dizia: “Ostra feliz, não faz pérola”.

 

#DQ135 #Espalheamorporaí <3

 

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