Trillha:
Ali, pela meia noite e meia, depois que as luzes se apagam, e o silêncio se faz ouvir…
Ali, pela meia noite, depois que a cidade cochila, na iminência de viver outro dia repetido, cheio de carros, buzinas e olhares consternados para relógios que passeiam vagamente pelos ponteiros, reprisando o regime infinito: a ditadura do tempo…
Ali, pela meia noite, que não quer dizer que estamos exatamente às 00h30, pode ser qualquer hora entre a dormência do Sol e a opulência da Lua, ou mesmo a presença de ambos, num eclipse tão raro quanto sublime…
Você me faz tão bem que eu mal sentiria falta do Sol. Você me faz tão bem que eu mal sentiria falta do calor.
Ah, calor…
É tudo que mais temos entre olhares cheios de lasciva e corpos flambados, dourando a alma, dourando o corpo, de dentro pra fora, não só parte, mas todo.
Noite adentro, vagamos no escuro rumo aos diferentes ápices que a vida a dois pode nos oferecer. Franquiamos um ao outro brindes que enchem os corpos, feito taças. Damos ao tradicional “tim-tim”, tons mais graves, ora mais agudos, mas nunca, em hipótese alguma, brindes mudos. É cálice. Fala-se. Mexe-se. Envolve-se. E, assim, deixa-se a verborragia do imperativo justaposta em diálogos impublicáveis e inexprimíveis. Talvez por isso o corpo soe num tom nada suave, escorrendo as mais belas declarações que o mundo já ouviu: “o fogo que arde sem se ver”.
Mais tarde, o Sol subirá enciumado, tentando roubar a atenção novamente pra si. Esconderei você entre as cobertas. Desligarei os relógios. Fecharemos as cortinas, buscando estender a felicidade que se despede em forma de penumbra. Ficamos nós, finalmente mudos, olhando a janela clarear, e a cidade, de mal humor, acordar. Vai ver é o jeito dela de concordar, que a noite que passou ainda há pouco, não deveria passar.
#DQ134 #espalheamorporaí <3