Trilha:
Com a sensação de déjà vu ou de já viver esse dia, mudo o canal da TV. Zapeando todos os canais, desisto. Abro a Netflix. São centenas de opções, mas nenhuma parece boa suficiente pra passar o tempo. Não é déjà vu, é só minha vida: repetida e sem graça.O relógio marca 23h57. Daqui a meia hora, vai marcar 23h58. É o tempo me sabotando, como sempre. É a vida me ensinando que ser feliz não é passagem só de ida. Algumas vezes, é também de volta.
O tédio, uma pizza fria e uma série qualquer vão fazendo a fotografia do cenário preto e branco da minha vida – ou seria cinza? O porta-retratos colorido, mas sem foto e em formato de coração, lembra que eu já tive um ̶ Coração? Foto? Cor? Ou vida? Talvez tudo. Talvez seja justamente a pessoa, com sorriso de criança e covinhas de bebê, que coloria tudo. Talvez seja aquele sorriso que iluminava meu mundo, que, agora opaco, agora ocre, agora sofre.
Vão me chamar de melancólico, depressivo, e os mais exagerados: suicida. Como se eu tivesse pretensão em tirar mais alguma coisa, tipo a vida. Que mais poderia tirar, quando ela me pediu um tempo? Levou a paz dessa casa e me deixando nesse tormento? Deixou o eco do silêncio que reverbera, em cada canto, uma espécie de luto pretenso. Deixou a janela aberta, com vista pra solidão, que, ao horizonte, confunde- se com o mar, quase formando uma metáfora perfeita. Seria (a) mar em vão? Ou a angústia da espera, ressaca? Seria o amor, essa onda que vai e vem, mas nunca vem em vão? Seria eu, náufrago num mar de lágrima, que à rebenta fez cismar? Teria eu tormenta maior que ver ,todos os dias, por essa janela, uma bela solidão – ainda por cima com vista pro mar?
#DQ133 #espalheamorporaí <3