A irrelevância do choro nos términos | #DQ132

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Perder alguém é como perder uma parte do corpo. Mas você pode fazer sobreviver sem uma perna, um braço ou até mesmo sem um rim. Perder alguém não é como morrer. A morte representa o fim de tudo. Já perder alguém, não é o fim. E pode ser exatamente o contrário. Perder alguém é o começo de uma dor que, talvez, passe amanhã, ou pode continuar para sempre.

Quando uma epidemia toma conta de uma população, sempre procuram o paciente zero. É uma dedução elementar, mas não menos eficaz, ir à raiz do problema. O choro geralmente representa o início de toda dor. É o reflexo mais primitivo que sentimos quando estamos tristes. Quiçá o choro, tal como febre, seja autodefesa. Chega a ser engraçado, se não fosse trágico, que queimar de febre seja não só um sinônimo, mas um dos passos para a cura. Essa é a mesma sensação das feridas feitas na alma. Elas queimam por dentro, deixando-nos acamados, indefesos, vulneráveis. Algumas dessas feridas não cessam com a ausência de choro, nem tampouco amenizam. Alguns traumas são tão intensos que o silêncio se torna o apelo mais justaposto a que podemos recorrer.

Chorar demais tem o mesmo efeito que o placebo. Ainda que muitos, inclusive eu, defenda o choro como meio essencial ao processo de catarse, ele, por si só, não antecipa ou atrasa nada. O choro, por mais regenerativo que possa parecer, não muda, em nenhum milésimo, o relógio da dor, que dirá o da alegria. Tampouco pode ser visto como um termômetro do quanto você está sofrendo. Assim, desprendido de qualquer tom professoral, afirmo: o choro é irrelevância nas relações que findam. O choro é a vaidade que a dor cultiva de forma ostensiva. É a primazia que os términos, sempre trágicos, trazem a nós. Chorar pode ser lenitivo ou leviano. Pode ser simplesmente uma forma de aliciar a dor, ou buscar a cura, através do pranto. Chorar pode ser tanta coisa — inclusive: nada.

 

#DQ132 #espalheamorporaí <3

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