Trilha
Dizem que os olhos de quem a gente ama são a janela da alma. Dizem que quando sentimos o gosto da reciprocidade no amor é como estar no céu. Talvez seja verdade. Mas eu não posso negar que a janela que dá pra sua alma me faz chorar. Não posso negar que ela está fechada e não há nada que eu possa fazer para que ela abra. Não há como subornar a porta do céu. É por isso que olhar pra você incomoda. É por isso que olhar pra você é um doce deletério. Dói. Fere. Arranca pedaço. É um esquartejar de emoções.
Olhar você é olhar um futuro distante, ilusório, virtual. Amores deveriam preencher o peito e não pressioná-lo contra seu próprio coração, arrancando todo seu fôlego. Amores deveriam abraçar, e não sufocar, feito camisa de força. Amores deveriam ser constantes, e não passar depressa, tipo Sol de inverno, que teima em brilhar em tardes nubladas. Olhar você é atestar a impotência dos que lutam contra essa força imperiosa e natural, chamada destino. Olhar você é ter certeza de que algumas feridas cicatrizam logo. Já outras, nasceram mesmo para ficarem abertas. Olhar você é perceber que o ódio é um sentimento independente. Não adianta querer odiá-lo pra ser mais fácil esquecer. E olhar você me diz exatamente isso.
É algo, em seu olhar, que me faz acreditar que não é possível viver sem você. É algo nessa dor que desatina, vinda desse olhar arrebatador, que me devora a sanidade e me faz torpor. É a necessidade que eu sempre tive de viver os amores que me fazem mal. É o jeito pra lá de masoquista que me faz refém dessas ciladas manjadas e mal resolvidas. É a paz das relações saudáveis, que parece um lugar inóspito para um coração acostumado a sangrar. Olhar pra você dói. E dói —ainda mais— saber que eu não paro de olhar por isso.
#DQ130 #Espalheamorporaí <3