A desordem que me faz bem |#DQ 125

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A gaveta aberta. A toalha molhada. A tampa do tubo de pasta dental no ralo da pia. A barba, assim como a vida, está mal aparada e cheia de falhas. Tudo muito fora do lugar. Pareço uma bagunça, mas eu me convenço de que isso sim é liberdade. Eu vou morrer dizendo que isso é liberdade e dar aquela desculpa que levo uma vida de solteirão. Vou dizer que estou confortável e que posso fazer o que eu quiser, sem ninguém regulando a vida do jeito que levo. Eu sei, você está esperando um “mas”. Está esperando a parte em que eu admito sua falta e que a peço explicitamente pra voltar, pra reorganizar a minha vida e trazer um pouco de paz pro caos do meu coração.

Mas o texto não tem mas, não tem pedido de socorro e não tem nenhuma pretensão de reconciliação. A vida é boa bagunçada. Você sabe que eu sempre fui a desordem mais harmônica que você já conheceu. O caos nunca me assustou. Foi você mesma que me definiu assim. Eu não preciso que a vida faça sentido, ou que as coisas tenham um lugar definido. Talvez eu goste da desordem e da aleatoriedade do dia a dia. Você sabe como eu detesto rotina, horários e abomino as expectativas. O gosto das surpresas é sempre melhor que a confirmação das expectativas. A vida não vai no piloto automático, muito menos ruma sem direção. Ela só vaga entre as esquinas estreitas de minhas vontades passageiras —e não parece se importar em percorrer esse caminho.

O tempo vai passar e pode ser que eu sinta, em dado momento, falta de uma vida menos aleatória. Dizem que isso é amadurecer. Mas que amadurecimento é esse que nos suga a vida e nos põe sempre à margem das coisas triviais? Que amadurecer é esse que nos pede sempre uma prudência velada e, em cada passo, um milhão de motivos, como se a vida não nos permitisse rasuras, borrões e até mesmo páginas rasgadas? Talvez amadurecer seja descobrir em qual desordem devemos seguir.

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