Trilha:
Uns amores acabam por desgaste, outros, por descuido, e outros simplesmente acabam pelo cansaço. Perdem o fôlego na correria da vida, ou na monotonia dos dias – vai saber. Cansar de alguém não é pecado. Pecado é permanecer cansado e fazer da relação uma prova inglória e inútil de resistência.
É bem verdade que o amor é, muitas vezes, respirar pelo outro. É mergulhar um pouco mais fundo do que as orientações de segurança recomendam e nadar rumo ao infinito, que sempre sedutor, atrai-nos como imã rumo ao desconhecido. Mas e quando o esforço pesa sobe os ombros e parece em vão qualquer sacrifício? E quando a vontade de buscar a superfície é maior que rumar em outra direção? E quando os pulmões pedem liberdade e um pouco mais de ar? Quando o sentimento nos deixa à deriva, sem porto, ancorados num ponto qualquer? Quando o “tanto faz” parece ser a melhor opção? Quando os beijos têm o mesmo gosto amargo das frutas que passaram do ponto e, por uma displicência natural, esqueceram-se de cair?
O peso do cansaço pesa menos que o peso da culpa por estar cansado. Parece um crime hediondo, inafiançável, desses que choca pela barbárie e nos constrange com escárnio. Terminar uma relação não é fácil, e sem um motivo latente, vira um martírio. Como chegar a quem gosta de você e dizer que cansou? Dizer que todo aquele sentimento passou sem deixar sequer um aviso prévio? Como explicar que a alegria da chegada se transformou em tédio? Como entender que a paixão, dantes vultosa, esfriou? E que a saudade, dantes imediata, é agora tipo aquela parenta distante que sequer lhe visita?
Ah, quem me dera não ter me cansado de você. De nós. Da vida.
#DQ121 #espalheamorporaí