Trilha:
Luísa, que era “Lu”, namorou Pedro que era “amor”. Luísa e Pedro eram o típico casal que só de olhar já se entendem. Nunca tiveram aquelas etapas quando se conhece alguém de: ficar sem assunto, nervoso, as mãos suarem e, constantemente, ficar com a sensação mútua de estarem falando só besteira um pro outro. Porque estranhamente até nas bobagens, eles se entendiam muito bem. No primeiro encontro, logo de cara, Luísa pediu uma limonada suíça, com duas ou quatro colheres de açúcar, nem uma, nem três. Pedro sorriu e perguntou o motivo daquilo. Luísa tem TOC e só gosta de números pares.Pedro ri – meio sem graça, mas não admite que também tem esse defeito. Ela não percebeu, mas Pedro chamou o garçom duas vezes, mesmo ele já tendo atendido desde a primeira.
Vem o segundo encontro e uma sensação gostosa, porém estranha, de que eles são velhos conhecidos. Luísa entra no carro e diz que não gosta da música. Tira do bolso um pen drive com suas músicas preferidas. Pedro detesta e critica o gosto musical dela. Eles sorriem, como se estivessem concordando. – EI, VOCÊS ESTÃO DISCORDANDO! Tirem esse sorriso bobo do rosto, vocês dois!
As horas voam e eles voltam, já planejando como será o próximo encontro. Pedro se aproxima da casa de Luísa e começa a andar mais devagar. Luísa entende e não liga. Por ela, eles paravam, só pra ganhar mais tempo. Eles chegam até à porta da casa. Ambos começam a inventar conversa, no afã de evitar o silêncio que precede a despedida. Pedro, em um rompante, finalmente beija Luísa, que consente. Eles sentem que o beijo parece um hábito e, por alguns instantes, esquecem que aquele foi o primeiro. Eles se despedem. Luísa tira as chaves do bolso e, antes de entrar em casa, novamente beija Pedro. Ela disse que não gosta mais de números pares. Ele sorri e diz que esse valeu por dois e, assim, agora foram três beijos, e não dois. Pedro beija novamente Luísa, e eles começam a trocar incontáveis beijos, até que Luísa o beija pela DÉCIMA OITAVA VEZ e corre pra dentro.
É difícil dizer quem tem o sorriso mais largo dos dois. Se juntá-los, deve dar uma duas voltas no mundo e ainda sobrar uns quilômetros para ir até Nárnia. Pedro chega à sua casa e, advinha quem já lhe mandou mensagem? Luísa. Eles conversam sobre tudo. Não saem sequer da janela um do outro. Madrugada adentra e ali estão eles: apaixonados e conhecendo detalhes que mais tarde vão querer esquecer, mas não vão conseguir. Eu queria poder alertá-los do perigo que correm, mas seria um crime, ou melhor, um pecado, privá-los dessas cicatrizes. O tempo passa e de causas “contranaturais”, toda aquela paixão se vai, todo aquele amor cessa e eles se afastam. A rotina muda, os amigos mudam, os planos mudam e até a playlist do carro muda. Pedro deixa de ser “amor” e volta a ser Pedro. Luísa deixa de ser Lu. E eles passam a ser desconhecidos um do outro. Apenas estranhos que já se amaram.
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