Trilha:
Chego à minha casa. Viro as chaves. Abro a porta e a TV está ligada – deve haver alguém assistindo – Não. Eu moro sozinho, sou sozinho. Há uma cadeira com roupas sujas e uma confusão ali, no que era pra ser a minha pia de louças. Talvez essa bagunça incomode quando eu receber a visita – Que visita? – Eu moro sozinho, eu sou sozinho. Tiro os sapatos. Jogo a camisa em cima da cadeira, que parece chegar ao seu limite e… despenca. Roupas sujas no chão – droga! Alguém pode reclamar que, mais uma vez, deixei as roupas caírem? – Quem? Não há quem reclame, eu sou sozinho. Ouço a campainha tocar. A essa hora, deve ser alguém com preguiça de cozinhar, pelo menos eu ganho companhia – Não é ninguém, repito. Eu sou sozinho.
Moramos eu e a solidão. Até as companhias frívolas, eu deixei de procurar. Até o tédio, cansou-se de me visitar. Fico aqui, entre os escombros e as ruínas de uma recém e dolorosa separação.Tá, já faz mais tempo que estou solteiro que o tempo que passei junto. E daí? Ela precisou de 5 meses pra fazer com que eu vivesse o que não vivi em 32 anos de “relacionamentos maduros”. Logo eu, rei da sensatez! Deixei-me perder por aquele par de olhos castanhos, sorriso frouxo e juízo imperfeito. Fui levado por aquele olhar que atira qualquer sensatez a quilômetros de distância, propondo uma vida marginal entre os porões das relações infortunas. Dessas que a gente sabe que não darão certo que, talvez, vocês sequer sobrevivam ao próximo beijo, ainda que ele seja taticamente prometido no amanhã. Mas que amanhã? Pra ela, o amanhã é tão virtual quanto o ontem. Pra ela, isso é estar vivo. Pra mim, era o ópio.
O meu lado sensato, ela engoliu, assim como um faminto devora um prato de comida. Eu, que já estava entregue à libertinagem deliciosa que sua vida descabida propunha, vi-me ser escarrado cruelmente, com um beijo no rosto. Era o fim daquela relação desafortunada. E, por ironia sarcástica do destino, o começo de minha derrocada.
Deixei a roupa acumular, a barba por fazer e parei a vida, na esperança disso chamá-la de volta. Chamá-la: Ela ou a vida? Tanto faz. Sem uma delas, a outra já está perdida.
#DQ111 #espalheamorporaí <3
Só tiro. Me avisa para colocar o colete das próximas vezes.