Trilha:
Podia começar dizendo que você faz falta, mas pus o predicado à frente pra provar que estou sujeito a ser propriedade da falta que você me faz. Tudo isso, só pra mostrar que a saudade de você é bem maior que tudo. A falta vem antes de você. A falta precede meu sofrer. A falta é tudo, o resto e nada mais. E o que me sobra consigo guardar num bolso de uma calça velha. São as minhas últimas preces. As minhas últimas palavras. O meu último adeus. É a saudade compactada dentro do meu peito – que encheria um estádio – condensada num pequeno texto repleto de reticências.
Eu vou refazer nossos melhores momentos na vã ilusão de que a vida pode ter um replay guardado, por descuido do roteirista. Vou colocar a nossa trilha e passar em frente ao seu portão, com o som ligado no máximo e um pedido de volta. Mas explicito que as lágrimas hão de escorrer. Vou lhe enviar um buquê de flores anônimo — Eu sei você detesta flores. E sei também que você vai adivinhar que sou eu. Afinal, quem mais lhe daria flores? Não me leve a mal. Essa é apenas uma provocação velada de forçar você uma reação qualquer. Ainda que seja de lamento. Qualquer coisa é melhor que seu silêncio.
A falta fez um buraco no lado esquerdo da cama. Fez sobrar o, sempre insuficiente, lençol. A falta trouxe consigo silêncio pra escrever, trouxe um usuário a menos no Netflix e várias figurantes no filme da vida. A falta que começou em você, hoje é até maior que eu. A falta me engoliu como se tudo em mim virasse saudade. A falta beijou minha boca, com requintes de crueldades. Pôs-me no colo, feito menino, e antes que eu adormecesse pra sonhar com a volta dela, me acordou pra se fazer maior, pra mostrar que o sonho contigo é ilusão. Mas a sua falta… essa sim, é real.
#DQ108 #espalheamorporaí <3