Eu pareço parada, pairando sob suas dúvidas, sobre minhas súplicas e todas aquelas desculpas que eu já sei de cor. Vai, invente que teve um contratempo pelo meio do caminho e ponha culpa na distância pra não me ver hoje. Diga que o pneu furou, que o trânsito travou, que esqueceu o celular e não teve como me avisar. Invente que ontem foi aniversário da sua tia-avó, que morava no interior, mas veio só pra passar o dia com você. Vai, me encha com desculpas que o tiram da culpa, por não corresponder às minhas súplicas para ter você aqui de novo.
Que saudade é essa que me trai? Que me faz ver você em cada canção, mesmo aquelas que falam de sentimentos fugazes? Que coração masoquista é esse? Que se deixa ferir em cada mensagem não visualizada, ou em cada ligação pra caixa postal? Que orgulho é esse que cessa imediatamente ao ver você mudar de “disponível” para “digitando”? Ah, a propósito, é de prepósito? Que sentimento é esse que me faz querer pertencer, com uma força que jamais quis, com a intensidade que jamais vi, algo que jamais tive? Eu, logo eu, que sempre quis um pouco mais do que me oferecem, fico à mercê de quem nunca me deu nada, por que raios isso parece que basta? Por que parece que esperar sua atenção é melhor que ser bajulada por quem põe a bandeja: corpo, alma e coração?
E se essas perguntas fossem respondidas? Talvez eu tivesse um pouco menos de dúvida. Mas não ter dúvida, nesse caso, é não ter fé no amanhã. É não ter, ainda que ínfima, a possibilidade de ter você num lapso de descuido do destino. Eu insisto. Eu persisto. É vã a espera dos amores platônicos. Desses que beiram ao escárnio e ultrapassam o limite de ser ridículo. Mas o que nos resta além de esperar? Eu sei, é irônico. Eu darei a você o tempo que me roubou, enquanto cativa estiver por sua atenção e mendiga por seu amor. E você? Nem precisa se preocupar em ser recíproco a esse sentimento ridículo. Afinal, para alguns amores, não há clemência, não há prece: só precipício.
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