Você apoderou o amor, colocando-o num arquétipo que não lhe cabe. Laços líquidos e nós frouxos amarram essa fantasia de que você está amando (ou é amado). Assim, a necessidade de ter um amor e aparentar uma felicidade artificial, para ser impressa e publicitada nas redes sociais, pode, em alguns casos, criar um mimetismo amoroso, que tem na infinidade de sensações a própria finitude do sentimento. Você sente. Intensamente. O começo é sempre essa erupção toda. Mas não se engane: o amar começa tarde. É necessário tempo de maturação que nem Chronos dimensionaria. Não há uma linha lógico-racional que quantifique a medida de tempo necessária para transformar toda essa ebulição em água límpida e potável, ao invés de vapor.
Eu não dividiria o amar alguém em etapas. Simplesmente porque amar sempre terá uma relação semântica com eternidade, que traz uma ideia de continuidade. Já a divisão de etapas, mesmo aquelas enlaçadas por um único fio condutor, gera a ideia de progressividade. Dessa forma, nos inclinaríamos a dizer que amar é uma constante evolução. É aquele diamante bruto que vai sendo lapidado. Esse, indubitavelmente, é uma definição interessantíssima sobre amar. Mas amar não funciona assim. Amar é in natura: sem dimensão. Já o amor é apenas um átimo do amar. Amor é um substantivo abstrato que, no auge de nossos devaneios sentimentais, assume aspectos concretos, numa espécie de Matrix entre a realidade e a imaginação. Já amar é verbo. Transitivo. Corrente. Infinitivo. A ação, ou melhor, o exercício do amor é amar.
Como falar de exercício em uma sociedade que sofre da dicotomia paradoxal de estar obesa e anoréxica ao mesmo tempo? Como explicar que o amor vem tarde, em plena ditadura do relógio? Como pedir paciência ou calma na era dos fast foods?
A sociedade atual, vítima de sua leveza e velocidade, alimenta o consumismo emocional e suga os nutrientes das relações duradouras. O amor está aí como uma oferta, semelhante a uma mercadoria com prazo de validade definido. Em alguns casos, acredite se quiser, pode se escolher cor dos olhos, altura, cor e até classe social. Não é à toa que mídias sociais que promovem relacionamentos nadam em plena crise num mar de prosperidade.
Os mais eufóricos se valem da filosofia do Carpem Diem, como um subterfúgio na fragilidade de suas relações. Usam o escudo de que o amor pode nascer de uma troca de olhares, de um esbarrão na fila do pão, ou até mesmo da troca de alguns emoticons, likes e shares. Pode até ser que alguns se contentem em fazer amor, ser amor e ter amor. Mas a você que leu isso e entendeu que amor é só uma etapa transitória que deve desbocar no amar, deixo meus votos mais sinceros. Seja bem-vindo ao time dos que não querem só o amor como uma parte. E sim, o inteiro, que é o amar.
#DQ62 #Espalheamorporaí <3 #lançamentodia16 #euleioDQ
Primeiro capítulo do nosso livro.
Gostou dessa dose? Já pensou ter, além das doses aqui do blog, mais 50 DOSES INÉDITAS E EXCLUSIVAS? Então, clica aqui e compre o seu por apenas R$ 35,00, com FRETE GRÁTIS PARA TODO BRASIL.